18 de dezembro de 2012

Balanço de fim de ano



Não tenho do que me queixar de 2012. Um ano de grandes mudanças, de cidade, de trabalho, de estilo de vida.
Desde agosto que estou oficialmente aposentado, pelo CNPq. Cumpri minha missão, como atualmente está na moda dizer.  Foram 35 anos de contribuição à previdência, sendo que 15 destes anos licenciado tentando viver como designer e consultor autônomo. Feliz decisão que me abriram portas e horizontes. Com mais experiência voltei no final de 2009 para Brasília e tive a sorte de poder colocar em prática novas ideias de administração com inovação.
Dediquei o primeiro semestre de 2012 a duas grandes tarefas: concluir os projetos iniciados no CNPq e praticar o desapego já que os vínculos que se estabeleceram no trabalho e na vida social serão rompidos pelo tempo e pela distancia.
O retorno à Ilha no inicio do segundo semestre foi um novo recomeçar. Finalmente havia tempo para mergulhar em outra dimensão da prática cultural. Assim desenvolvi a proposta de um Sistema de Certificação para as Cidades Criativas Brasileiras; um sistema de curadoria dos produtos de arte popular e artesanato para o Projeto Brasil Original e o Termo de Referencia sobre Economia Criativa. Três exercícios intelectuais, referenciados nas experiências vividas e colhidas em escala global.
O prêmio autoimposto pela conclusão destes trabalhos foi um mergulho em um dos garndes berços da cultura conhecendo parte da Croácia e da Grécia, e revendo velhas paisagens e velhos amigos na velha Europa. Viagens são para mim parte do processo de aprendizagem e também para adquirir um pouco de distancia critica naquilo que se estava antes envolvido.
Para fechar o ano “comme Il faut”  retomei um velho hábito há quatro décadas abandonado. O de levantar da cama e me sentar diante de um cavalete de pintura, e tendo ao fundo o cantar dos Bem-te-vis que fizeram ninho no meu telhado.
Desde julho um novo sorriso ilumina a família e novas esperanças se desenham para todos nós.
Foi um feliz 2012. Que assim seja 2013.

14 de novembro de 2012

Lembranças e souvenires – Uma oportunidade que está sendo perdida no artesanato.



Recentemente fiz uma viagem por sete países da Europa. Com meu olhar de designer e uma acentuada atração por artesanato acabei comprando coisas que nunca imaginei. Dentre elas alguns imãs de geladeira, satisfazendo uma nova curtição iniciada no último período que morei em Brasília.
Sempre achei de gosto duvidoso essa mania de usar a porta de geladeira como painel de avisos e recordações. Aceite recentemente o fato que a porta da geladeira (ou do freezer) é um bom local para nos lembrar, várias vezes ao dia, fragmentos de coisas e momentos únicos e especiais. São pequenos objetos ou imagens que fazem referencia as nossas gostos, preferências e memórias.
Entretanto estes souvenires, durante tanto tempo por mim desprezados, ganharam um novo status. Alguns são pequenas obras de arte por sua beleza e qualidade. O mais impressionante é que estes pequenos objetos custam na Europa o mesmo preço que os produtos similares vendidos no Brasil, com a diferença que os nossos souvenires são, em sua grande maioria, de uma ingenuidade simplória, feitos de biscuit ou de gesso de qualidade duvidosa, explorando um exaustivo repertório de lugares comuns, de estereótipos vulgares ou alusivos aos times de futebol.
Em virtude de seu preço acessível a qualquer bolso, estas pequenas lembranças poderiam representar um ganho expressivo para artesãos melhor preparados, desde que saibam representar com conteúdo e qualidade nossas singularidades culturais de modo inovador e sedutor.
Caixas de fósforos transformadas em oratórios minúsculos para os devotos; fotos, reproduções de pinturas, desenhos, rótulos tradicionais e etiquetas de produtos ícones colados sobre papel imantado; representações da fauna e da flora locais sobre metal esmaltado; tabelas e avisos sobre o perigo dos excessos; testemunhos de viagens e descobertas, entre outros, encontram na porta da geladeira um local privilegiado para serem vistos constantemente e com isso provocarem uma recorrente reflexão sobre sua função, sobre nossas vidas e sobre nossas escolhas.  

15 de outubro de 2012

No design ou na vida a distância critica é necessária para validar nossas escolhas.


O mergulho profundo em uma ideia ou conceito permite descobrir aspectos invisíveis ao primeiro olhar, detalhes que somente uma aproximação minuciosa é capaz de revelar. A intimidade obtida pelo trabalho e esforço de compreensão é compensada com um sentimento de satisfação ou de conquista. A visão microscópica esconde as vezes uma armadilha que ofusca a visão do todo e, ao invés de aprimorar nossa percepção da realidade limita a abertura para outras possibilidades. 
Seja qual for o objeto focal é necessário um afastamento para visualizar sua verdadeira dimensão e importância. Como um pintor impressionista que não busca mais a perfeição dos elementos com seus contornos nítidos, onde a forma dos elementos passa a ser definida por manchas de cores puras em rápidas e largas pinceladas e cuja composição somente pode ser apreciada a partir de certa distância, a percepção critica é fruto do afastamento temporário. 
Somente assim é possível revelar aquilo que a proximidade excessiva é capaz de ocultar. Para isso é necessário se afastar daquilo que nos absorve, tomado o tempo e a distância critica necessária para ver com outros olhos aquilo que acreditamos nos satisfazer.
Às vezes basta se afastar alguns minutos ou horas, outras vezes dias ou semanas, para revelar a exata dimensão daquilo que estamos fazendo, analisando, pesquisando, criando ou se deixando envolver.  
Como em um retorno de uma longa viagem, com o espírito renovado por novas experiências e o olhar não mais contaminado pela aproximação excessiva com a realidade deixada para trás, temos mais segurança nas escolhas feitas e nos caminhos escolhidos.

21 de agosto de 2012

Economia Criativa e turismo rural


Resumo da palestra apresentada no 20º Agrinordeste
Recife 23 de agosto de 2012

Para entender melhor o conceito de Economia Criativa é mais fácil fazê-lo em oposição com a Economia Tradicional.

Na economia tradicional a valor das coisas é tangível, é visível, existe no mundo físico e sua exploração é que gera a riqueza.  A terra e os mares com seus insumos naturais tais como a fauna, a flora, os minerais, o gás, o carvão e o petróleo permitem através de seu processamento ou exploração obter alimentos, energia e produtos. Na economia tradicional os recursos são finitos e se não forem renovados se esgotam com o tempo. Os produtos e processos da economia tradicional causam impacto ao meio ambiente, poluem a terra, o ar e os oceanos. 
Nos últimos 20 anos foram incorporados ao mercado global mais de 1 bilhão de novos consumidores. Se todos aspirarem o mesmo padrão e qualidade de vida dos norte-americanos seriam necessários recursos equivalentes a sete vezes os disponíveis na Terra.
A sustentabilidade da vida no planeta requer mudanças no padrão de produção e consumo para bens e serviços cada vez mais intensivos em conhecimento e menos absorvedores de recursos naturais. 
O desafio que se coloca hoje é produzir com mais inteligência e menos matéria.  

A economia criativa foi a expressão cunhada para designar as atividades geradoras de riqueza que utilizam como insumo fundamental a inteligência, a criatividade, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável, e inclusivo, de uma determinada região.
Na economia criativa o valor das coisas é invisível, somente sendo reconhecido quando se revelam os frutos da inventividade humana, gerando riqueza através de produtos e serviços que levam em consideração a valorização da cultura, o respeito ao meio ambiente e atenção às necessidades da sociedade.

Os segmentos contemplados pela Economia criativa são todos aqueles que dependem do conhecimento, da inteligência e da experiência, tais como: a música, a literatura, o teatro, o cinema, a televisão, o circo, a gastronomia, a arte e o artesanato, a moda, os softwares, a propaganda, a arquitetura e o turismo.

Os dados sobre a participação destes segmentos na formação do PIB são ainda imprecisos. Estima-se que respondam por mais de quatro milhões de empregos no Brasil, gerando uma receita de cerca de 170 bilhões de dólares por anos ou aproximadamente 7% do PIB Brasileiro.  

O comércio mundial de bens criativos aumentou de 205 bilhões de dólares para US$ 407 bilhões em 2008, com um crescimento médio de 11.5% no período 2002 a 2008. O maior segmento exportador dos Estados Unidos é a indústria cinematográfica. 85% dos filmes exibidos em todo o planeta são de Hollywood gerando uma receita de 60 bilhões de dólares por ano. .

Contudo isso são apenas projeções, pois a imprecisão das informações sobre a Economia Criativa é um reflexo da novidade dessa abordagem, sendo necessário agora sair do geral para o particular, abrindo os dados setoriais disponíveis e deles separar as informações úteis, atuais e confiáveis transformando-as em insumos estratégicos para o planejamento setorial.

De acordo com a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) As indústrias criativas compreendem os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos. Incorporam um conjunto de atividades baseadas no conhecimento, que produzem bens tangíveis e intangíveis, intelectuais ou artísticos, com conteúdo criativo e valor econômico”  

A Economia Criativa é a “bola da vez” pois descobre-se a importância de seu potencial para: favorecer o empreendedorismo; gerar emprego e renda mantendo e fixando o homem no campo; gerando tributos e impostos; atraindo indústrias e trabalhadores qualificados; alimentando a economia do turismo; realçando as tradições e história locais; promovendo a inclusão social e o reforço da cidadania e promovendo a diversidade e a tolerância.

Os segmentos que compõe a Economia Criativa eram vistos pelo Estado Brasileiro através de diversas óticas, relacionadas às distintas instancias de poder e de importância.

As formas mais comuns de expressão artística eram da esfera do Ministério da Cultura; Arquitetura do IPHEA; o artesanato, o design e moda pelo Ministério da Indústria e Comércio; Os softwares e games pelo Ministério da Ciência e Tecnologia a o Turismo como um Ministério próprio. 
O conceito de Economia da Cultura ao agregar esses setores que vivem da habilidade e do talento individual descobre uma sinergia entre eles capaz de criar um novo ciclo virtuoso de desenvolvimento com inclusão e responsabilidade para com a geração atual como para as futuras. 

A dinâmica própria desses setores faz com que alguns sejam mais percebidos e valorizados mais que outros. Um deles é o turismo. Que contudo necessita de infraestrutura adequada (transporte e  saneamento); produtos e serviços de qualidade; mais profissionalismo e especialidades e de definir melhor o público-alvo.
  
Durante muitos anos o Governo Brasileiro apoiou e priorizou, direta ou indiretamente, o turismo de massa e os destinos mais conhecidos. A riqueza de nossa diversidade natural e cultural somente há poucos anos comoçou a ser explorada.
A criação dos roteiros culturais é uma das alternativas que precisam ser mais bem trabalhadas para atrair um turismo mais qualificado, mais vivencial, menos impactante.

O turismo vivencial que engloba os segmentos do turismo cultural, ecoturismo, turismo rural é turismo de aventura é o dos novos empreendedores com visão de futuro e dos gestores públicos a partir da percepção que esse é o turista que viaja para aprender, e não para comparar, que respeita e valoriza a cultura alheia. Viaja para viver uma experiência e não para cumprir uma obrigação ou apenas consumir.

O turismo rural é uma nova janela de oportunidades que deve ser trabalhada simultaneamente pelo poder público e pela iniciativa privada. É preciso oferecer capacitação em todos os níveis para as profissões e atividades específicas requeridas em cada destino turístico.
As principais características do turismo rural são:
  • Contato com a natureza e com as práticas e tradições rurais e locais;
  • Estabelecimentos que refletem a forma de ser e de viver no campo;
  • Serviços oferecidos aos visitantes pelos próprios agricultores  (passeios, visitas guiadas, atividades culturais); 
  • Meios de hospedagem com conforto, higiene e segurança e tranquilidade;
  • Predominância de pequenos empreendimentos e adaptações de antigas propriedades rurais;
  • Sazonalidade e baixas taxas de ocupação;
  • Preços acessíveis, geralmente abaixo da rede hoteleira urbana;
  • A recepção e o convívio visam intercâmbio de experiências e respeito mútuo.
Do mesmo modo é preciso cuidar (melhorar e divulgar) os produtos associados ao turismo
  • A arte popular, o artesanato e os produtos agropecuários típicos da região através de uma oferta diferenciada e relacionada com a experiência vivida, contribuindo para a geração local de trabalho e renda;
  • A produção diferenciada (viticultura, artefatos de montaria, cerâmica, etc) motivadora de fluxo turístico e vinculado à identidade local;
  • As manifestações culturais típicas do destino (Festa do Município; Festa da Padroeira; Festivais folclóricos e culturais; Rodeios, etc);
  • Os meios de hospedagem referenciados por sua qualidade e vínculos culturais com recursos humanos locais qualificados, valorizando os artistas da região e adaptando-se a agenda cultural local  
  • Os bares e restaurantes que utilizam ingredientes tipicamente locais e apresentam pratos de consumo tradicionais da região, valorizando os produtos da agricultura familiar e orgânica, promovendo a releitura da gastronomia tradicional estimulando a diversidade e realizando eventos gastronômicos.
O Design Territorial é um modo novo de abordagem sistêmica dos problemas de uma determinada microrregião, capaz de projetar o futuro desejado por seus habitantes.

As principais ações e projetos desse esforço resultam na realização de:
  • Um planejamento estratégico participativo e multidisciplinar, estabelecendo um plano de metas (saneamento, acesso, capacitação); um pacto de cooperação entre os distintos “atores” desse processo; o compromisso público (política de incentivos) e uma política de governabilidade (calendário longo prazo).
  • Uma cartografia ilustrada indicando os pontos de interesse;
  • O desenvolvimento de produtos artesanais de suporte a gastronomia regional, assim como de coleções temáticas vinculadas aos eventos mais expressivos da região.
  • A divulgação eletrônica das rotas e atrativos;
  • Um Guia dos empreendimentos turísticos de referencia cultural;
  • A Identidade da rota, do destino e dos produtos, incluindo um programa de identidade (marca, slogan, aplicações), a seleção dos pontos de interesse e o licenciamento de uso da marca.
  • Uma pesquisa que documente e explore os elementos mais expressivos da cultura material e iconográfica da região, servindo de inspiração para os artistas e empreendedores locais desenvolverem produtos e serviços identificados com sua origem;
  • A padronização e personalização do mobiliário urbano e viário;
  • Uma sinalização urbana e viária identificando os acessos aos pontos de interesse;
  • O desenvolvimento e instalação de equipamentos e serviços relacionados ao turismo rural para a prática do hipismo, arvorismo, canoísmo e outros esportes de aventura.  
Os elementos acima descritos são indispensáveis para qualificar um território criativo, como sendo aquele capaz de promover o melhor uso de seus recursos naturais, culturais e humanos, impulsionando um desenvolvimento mais justo e equitativo com melhor distribuição das oportunidades de trabalho e de renda para a população local. 
“Paisagem cultural” e “Cidades Criativas” são certificações concedidas pela UNESCO, baseada em critérios norteados pela qualidade dos vínculos existentes entre os distintos “atores” do processo de desenvolvimento local.

Espaços com estas características atraem visitantes que identificados com a qualidade de vida, com as oportunidades e condições de trabalho criativo, optam por fixarem-se no local, ampliando ainda mais a oferta especializada. 
Este espaço necessário para que a criatividade floresça, requer:
  • Recursos materiais, instrumentais e humanos qualificados;
  • Oportunidade de requalificação e aperfeiçoamento;
  • Oportunidades e liberdade de trabalho;
  • Conectividade colaborativa;
  • Apoio e estímulo à inovação.
Pesquisa realizada em 2011 junto as principais pousadas do litoral sul de Pernambuco apontaram os elementos mais valorizados pelos turistas que viajem com o foco na cultura local.
  1. Localização do empreendimento (facilidade de acesso, interesse cultural e ambiental);
  2. Arquitetura integrada à paisagem, personalizada, utilizando os recursos naturais da região;
  3. Decoração baseada nos elementos da cultura local, da arte popular e do artesanato;
  4. Gastronomia regional, com intervenções autorais valorizando os produtos da pesca artesanal, da agricultura familiar e do terroir.;
  5. Respeito ao meio ambiente e adoção de práticas ecológicas;
  6. Conforto e qualidade das instalações;
  7. Hospitalidade do atendimento com pessoal qualificado do local; 
  8.  Imagem do empreendimento planejada e baseada em elementos do repertório cultural local;
  9. Comprometimento  com a produção e agenda cultura regional, valorizando os artistas locais;
  10. Conectividade e abertura para receber públicos multiculturais;
  11. Avaliações positivas recebidas dos hospedes (booking).
Uma das conclusões é que na nova economia o importante e estratégico não é fazer mais barato, cada vez mais difícil em um mundo globalizado, mas fazer diferente.

Sugestões de projetos integrados:
  • Desenvolver novas coleções de produtos com a identidade do lugar.
  • Implantar um programa de capacitação e de relacionamento com outros polos turísticos. 
  • Lançar uma campanha promocional dos empreendimentos (selecionados) com foco no turismo qualificado e na gastronomia com denominação de origem.
  • Estabelecer uma agenda cultural comum entre os diversos integrantes do polo turístico.
  • Avançar na construção de planos estratégicos e de projetos de design territorial.
Tudo isso representa um grande desafio que necessitará da total convergência de interesses e da sinergia entre poder público e iniciativa privada.




7 de agosto de 2012

Principios para o bom design






Velhos ensinamentos que fazem falta aos jovens designers de hoje. Para trangredir é necessário conhecer as regras, e conseguir fazer ainda melhor esquecendo algumas delas. Eu pessoalmente agregaria que um bom design deve causar emoção, surpresa e encantamento. Em um jantar em sua casa, em Frankfurt, descobri em Dieter Rams uma coerência estética e formal rigorosa, fruto de uma disciplina germânica e do pensamento Bauhausiano. Sem sair de seu mundo monocromático Dieter conseguiu, junto com a Empresa Braun, serem ícones do design do século XX. Para ele meu respeito e admiração.

8 de julho de 2012

Criatividade + pensamento divergente = Paradigmas do século XXI

Entendo a criatividade como sendo um processo de conceber  ideias originais que tenham valor. A criatividade não é um dom, fruto de um talento nato. É um atributo comum a todos os seres humanos que pode, e deve, ser continuamente exercitado através do pensamento divergente.  
Pensamento divergente é aquele que permite gerar ideias de modo radial, não linear, com multiplicação exponencial de possibilidades.
Dois conceitos que quando se juntam caracterizam os indivíduos, ou empresas, superdotados de inteligência criativa, motor da nova economia.

São raros estes indivíduos? Uma pesquisa feita com 1.500 crianças de 5 anos mostrou que 98% delas tinham essa característica, que infelizmente foi sendo perdida com o tempo. A causa disso? O processo educacional que obriga o indivíduo a desenvolver o pensamento linear, cartesiano, previsível.
O processo do pensamento divergente parte de um problema. Sem um problema não existe porque mudar de posição, tempo ou lugar.  Cada problema aponta para um complexo numero de perguntas onde cada resposta pode apontar diferentes direções. Para cada resposta,  ou ideia, existe sempre uma ideia em oposição. Destes dois extremos surgem outras possibilidades, que vão identificado ângulos novos e ainda não vistos do problema inicialmente colocado. Essa forma de pensamento gera uma enorme quantidade de alternativas de soluções, algumas delas não usuais, inesperadas, revolucionárias.
O pensamento divergente se estimula diante da possibilidade de descobrir os lados não aparentes ou ainda não revelados de um problema. Eliminar o óbvio e escolher o caminho oposto para encontrar novas pistas. Como em tudo é necessário um ambiente propício, com estímulos positivos, para que este processo se realize.  As empresas e instituições da nova economia criativa possuem traços característicos comuns.  São ambientes que apoiam, e apostam, na criatividade.

Esses ambientes são espaços de troca de ideias, por indivíduos que aportam diferentes experiências, conhecimentos e visões, em busca de um objetivo comum. A aparente ausência de regras tradicionais, tais como estações individuais de trabalho, horários de expediente fixos e hierarquias verticais demonstram outro modo de administrar os talentos. Esse modelo de gerenciamento, adotado no Laboratório Brasileiro de Design seguia os mesmos princípios ideológicos e filosóficos praticados pelo grupo de design do CETEC, nos anos setenta.  
No LBDI as condições propiciavam um convívio intenso entre todos os mebros da equipe, fixos ou transitórios. Os espaços de trabalho e os espaços de moradia no mesmo lugar e uma tradição de acolhimento festivo de todos que chegavam e partiam os elementos diferenciais no modo de trabalhrar e de viver.  Designers de todo o mundo trabalhando juntos no desenvolvimento de um novo produto, com todas as limitações linguísticas possíveis, conseguiam propostas a frente de seu tempo.  Em dez anos mais de duzentos professores e conferencistas, dos cinco continentes, participaram em memoráveis eventos, trazendo novas ideias, métodos e visões, em um processo continuo de aprendizagem coletiva. Contruiu-se assim uma rede de relações internacionais que deu sustentação aos eventos que marcam uma época. Fomos os primeiros a realizar e documentar uma experiência de design social no Brasil e de aplicar o discurso das tecnologias sociais e seus vínculos com a cultura. Estas eram, em sua época, formas divergentes de se pensar e praticar o design.
Hoje, com o surgimento de empresas absurdamente criativas, que geram produtos que revolucionam o comportamento humano, como é o caso da Google, é bom dar uma olhada em suas instalações e formas de trabalho. Eles devem estar certos.

Sobre esse assunto recomendo esse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=DA0eLEwNmAs&feature=youtu.be&t=1s

5 de julho de 2012

O ato de criar

O ato de criação. Esse momento mágico, único, em que uma luz se ilumina na mente e surge algo novo.  Muitas vezes a ideia nasce completa, quase adulta, pronta para ser experimentada. Muitas vezes nasce como um pequeno embrião, que vai se transformando e ganhando forma pouco a pouco. Nasce ainda necessitando de atenção permanente.  Qualquer que seja o processo, lento ou imediato, o ato de criar é uma das experiências mais gratificantes que os seres humanos podem experimentar. A usarmos nossas habilidades, destrezas, inteligência e a busca permanente pelo novo, pelo ainda não visto, pelo invisível aos outros, aí sim estamos vivendo a emoção de criar. Artistas, artesãos, arquitetos, designers, músicos, poetas, escultores, pintores, sabem do que estou falando. E, maior a vocação maior é o prazer  de criar.

Mas o ato de criar não é exclusivo destas áreas inseridas no âmbito da cultura. Os pesquisadores, engenheiros, tecnólogos, químicos, biólogos, conseguem às vezes o privilégio de criar algo novo em suas buscas e investigações. Penso que o ato de criar algo novo, grandioso, a altura de nossas necessidades e aspirações, se incorporado e voltado para o bem pelos políticos e gestores públicos, cambiaria o mundo.  
Mas a pergunta é. Por que essa busca desenfreada pelo novo? Para muitos, ou poucos, como está, está de bom tamanho. A resposta é simples. É porque tudo pode ser mudado para melhor. Esse é um dos desafios da vida. Torná-la melhor, para si, e para os outros.

Mais humana, portanto mais segura, portanto mais livre, mais prazerosa, mais feliz. Assim voltamos ao começo do ato de criar. Se, o final do que aspiramos é a felicidade, portanto é dela que partimos.  
Ver surgir, brotar, nascer, uma ideia que contribuirá com estes princípios é um sentimento raro, como uma bateria que ao mesmo tempo em que consome energia retribui com mais energia ainda. O ato de criação por isso é viciante. Quando se descobre este prazer dele não mais abdicamos.  Sofrimento passa ser a rotina, a burocracia, a monotonia das coisas e dias iguais.
Quem se vicia no ato de criar é essencialmente um inconformista que acredita que tudo em sua volta pode ser mudado, para melhor. Por isso cada dia é uma surpresa, uma nova opção, um levantar da cama de um modo diferente, com um olhar mais atento e sensível.  

Ocupar as mãos e a mente com a criação de coisas novas, ou novas realidades, é uma dádiva que pode ser explorada ao extremo. Quanto mais se cria, mais se tem vontade de criar. Impondo limites e se esforçando para ultrapassá-los. Quando o que se cria é bom, maior é satisfação pessoal que se transforma em novo esforço cujo resultado será ainda melhor, e assim sucessivamente em uma espiral virtuosa.
Dizem que alguém perguntou para Picasso qual de seus quadros (ou fases) ele gostava mais. Ele respondeu: Da próxima.  

4 de julho de 2012

O futuro das cidades

O modelo de cidade com o qual estamos vivendo, e convivendo sem a dimensão de sua fragilidade, não aponta para um futuro satisfatório. Os privilégios conquistados por uma parcela mínima da população impedem que reformas estruturais sejam empreendidas. Soma-se a isso a falta de visão de futuro dos gestores públicos, fruto de instrução e de informação precária; leis anacrônicas ou a simples existências delas, que impeçam ou coíbam a exploração desordenada do território; a crescente demanda por transporte individual em detrimento do coletivo; a insegurança gerada pela falta de proteção ao cidadão; a incompreensão da amplitude do conceito de saúde que passa pela existência de um saneamento básico decente;  a especulação imobiliária que afasta cada vez mais do centro as pessoas de menor poder aquisitivo. Essas são algumas das conclusões que se somam ao diagnóstico elaborado pelo Professor Dalmo Viera, e discutidas em uma pequena reunião entre amigos que ainda acreditam que é possível encontrar saídas para o caos urbano em que nossas cidades estão mergulhadas, ou em sua inevitável direção.

A primeira das propostas debatidas foi  a necessidade de ampliar os preceitos que uma cidade deve ter, enquanto espaço de vivencia do cidadão.  A proposta é agregar aos verbos morar, trabalhar, circular e desfrutar, o verbo “conviver”. Isso significa, dentre outras ações de importância, revitalizar os centros urbanos criando neles novos espaços de moradia e de produção cultural; criar áreas de lazer e entretenimento em espaços públicos devolutos; restringir a circulação de veículos em zonas ou horários previamente estabelecidos favorecendo a circulação de pedestres; investir em transporte urbano não convencional e com elevado grau de confiabilidade dos horários e, finalmente, produzir de modo compartilhado com a população, através de consultas públicas e sugestões de suas representações organizadas,  um “plano de metas de gestão do município’ e o compromisso firmado de prestação de contas semestral das ações realizadas, compromisso esse assegurado na “Lei Orgânica do Município”. Dos mais de 5.500 municípios brasileiros menos de 0,5% deles já asseguraram este direito aos seus cidadãos. É ainda muito pouco.  
Estas intervenções acima descritas, capazes de cerzir o tecido urbano (hoje esgarçado e remendado de modo precário por intervenções casuísticas)  dando-lhe mais espaço de cidadania, dependem muito mais do desejo comum do que recursos financeiros, começando pela troca do calendário político pelo planejamento prospectivo de longo prazo. O início das mudanças começa muitas vezes por soluções pontuais de problemas crônicos, em uma espécie de homeopatia urbana, atacando as causas e não as consequências.

Estas reflexões são oportunas, pois as vésperas de um processo eleitoral que irá decidir o destino dos municípios brasileiros, os candidatos a prefeito, assim como os pretendentes a o cargo de vereadores, deveriam deixar claras as causas que defendem e suas intenções, reveladas por um posicionamento formal sobre o futuro que aspiram para nossas cidades. 
Imbuídos deste espírito transgeneracional  talvez consigamos escolher novos representantes e gestores capazes de redesenharem a cidade do Século XXI, cujos contornos podemos  visualizar. Uma cidade mais sustentável, inclusiva, multicultural, harmônica e criativa. Esse é o nosso sonho possível.