Resumo da palestra apresentada no 20º Agrinordeste
Recife 23 de agosto de 2012
Para entender melhor o conceito de Economia Criativa é mais
fácil fazê-lo em oposição com a Economia Tradicional.
Na economia tradicional a valor das coisas é tangível, é visível,
existe no mundo físico e sua exploração é que gera a riqueza. A terra e os mares com seus insumos naturais
tais como a fauna, a flora, os minerais, o gás, o carvão e o petróleo permitem através
de seu processamento ou exploração obter alimentos, energia e produtos. Na
economia tradicional os recursos são finitos e se não forem renovados se
esgotam com o tempo. Os produtos e processos da economia tradicional causam
impacto ao meio ambiente, poluem a terra, o ar e os oceanos.
Nos últimos 20 anos foram incorporados ao mercado global
mais de 1 bilhão de novos consumidores. Se todos aspirarem o mesmo padrão e
qualidade de vida dos norte-americanos seriam necessários recursos equivalentes
a sete vezes os disponíveis na Terra.
A sustentabilidade da vida no planeta requer mudanças no
padrão de produção e consumo para bens e serviços cada vez mais intensivos em
conhecimento e menos absorvedores de recursos naturais.
O desafio que se coloca hoje é
produzir com mais inteligência e menos matéria.
A economia criativa foi a expressão cunhada para designar
as atividades geradoras de riqueza que utilizam como insumo fundamental a inteligência,
a criatividade, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável, e
inclusivo, de uma determinada região.
Na economia criativa o valor das coisas é invisível,
somente sendo reconhecido quando se revelam os frutos da inventividade humana,
gerando riqueza através de produtos e serviços que levam em consideração a
valorização da cultura, o respeito ao meio ambiente e atenção às necessidades
da sociedade.
Os segmentos contemplados pela Economia criativa são
todos aqueles que dependem do conhecimento, da inteligência e da experiência,
tais como: a música, a literatura, o teatro, o cinema, a televisão, o circo, a
gastronomia, a arte e o artesanato, a moda, os softwares, a propaganda, a arquitetura e o
turismo.
Os dados sobre a participação destes segmentos na
formação do PIB são ainda imprecisos. Estima-se que respondam por mais de
quatro milhões de empregos no Brasil, gerando uma receita de cerca de 170
bilhões de dólares por anos ou aproximadamente 7% do PIB Brasileiro.
O comércio mundial de bens criativos aumentou de 205
bilhões de dólares para US$ 407 bilhões em 2008, com um crescimento médio de
11.5% no período 2002 a 2008. O maior segmento exportador dos Estados Unidos é
a indústria cinematográfica. 85% dos filmes exibidos em todo o planeta são de
Hollywood gerando uma receita de 60 bilhões de dólares por ano. .
Contudo isso são apenas projeções, pois a imprecisão das
informações sobre a Economia Criativa é um reflexo da novidade dessa abordagem,
sendo necessário agora sair do geral para o particular, abrindo os dados setoriais
disponíveis e deles separar as informações úteis, atuais e confiáveis
transformando-as em insumos estratégicos para o planejamento setorial.
De acordo com a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento) “As indústrias criativas compreendem os
ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e o capital intelectual como
principais insumos. Incorporam
um conjunto de atividades baseadas no conhecimento, que produzem bens tangíveis
e intangíveis, intelectuais ou artísticos, com conteúdo criativo e valor econômico”
A
Economia Criativa é a “bola da vez” pois descobre-se a importância de seu
potencial para: favorecer o empreendedorismo;
gerar emprego e renda mantendo e fixando o homem no campo; gerando tributos e
impostos; atraindo indústrias e trabalhadores qualificados; alimentando a
economia do turismo; realçando as tradições e história locais; promovendo a inclusão
social e o reforço da cidadania e promovendo a diversidade e a tolerância.
Os segmentos que compõe a Economia Criativa eram vistos
pelo Estado Brasileiro através de diversas óticas, relacionadas às distintas
instancias de poder e de importância.
As formas mais comuns de expressão artística eram da
esfera do Ministério da Cultura; Arquitetura do IPHEA; o artesanato, o design e
moda pelo Ministério da Indústria e Comércio; Os softwares e games pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia a o Turismo como um Ministério próprio.
O conceito de Economia da Cultura ao agregar esses
setores que vivem da habilidade e do talento individual descobre uma sinergia
entre eles capaz de criar um novo ciclo virtuoso de desenvolvimento com
inclusão e responsabilidade para com a geração atual como para as futuras.
A dinâmica própria desses
setores faz com que alguns sejam mais percebidos e valorizados mais que outros.
Um deles é o turismo. Que contudo necessita de infraestrutura adequada
(transporte e saneamento); produtos e
serviços de qualidade; mais profissionalismo e especialidades e de definir
melhor o público-alvo.
Durante muitos
anos o Governo Brasileiro apoiou e priorizou, direta ou indiretamente, o
turismo de massa e os destinos mais conhecidos. A riqueza de nossa diversidade
natural e cultural somente há poucos anos comoçou a ser explorada.
A criação dos roteiros culturais é uma das alternativas
que precisam ser mais bem trabalhadas para atrair um turismo mais qualificado,
mais vivencial, menos impactante.
O turismo vivencial que engloba
os segmentos do turismo cultural, ecoturismo, turismo rural é turismo de
aventura é o dos novos empreendedores com visão de futuro e dos
gestores públicos a partir da percepção que esse é o turista que viaja para
aprender, e não para comparar, que respeita e valoriza a cultura alheia. Viaja
para viver uma experiência e não para cumprir uma obrigação ou apenas consumir.
O turismo rural é uma nova janela de oportunidades que deve
ser trabalhada simultaneamente pelo poder público e pela iniciativa privada. É
preciso oferecer capacitação em todos os níveis para as profissões e atividades
específicas requeridas em cada destino turístico.
As principais características do turismo rural são:
- Contato com a natureza e com as práticas e tradições
rurais e locais;
- Estabelecimentos que refletem a forma de ser
e de viver no campo;
- Serviços oferecidos aos visitantes pelos
próprios agricultores (passeios, visitas
guiadas, atividades culturais);
- Meios de hospedagem com conforto, higiene e
segurança e tranquilidade;
- Predominância de pequenos empreendimentos e
adaptações de antigas propriedades rurais;
- Sazonalidade e baixas taxas de ocupação;
- Preços acessíveis, geralmente abaixo da rede
hoteleira urbana;
- A recepção e o convívio visam intercâmbio de
experiências e respeito mútuo.
Do mesmo modo é preciso cuidar (melhorar e divulgar) os
produtos associados ao turismo
- A arte popular, o artesanato e os produtos agropecuários
típicos da região através de uma oferta diferenciada e relacionada com a
experiência vivida, contribuindo para a geração local de trabalho e renda;
- A produção
diferenciada (viticultura, artefatos de montaria, cerâmica, etc) motivadora de fluxo turístico e
vinculado à identidade local;
- As manifestações
culturais típicas do destino (Festa do Município; Festa da Padroeira;
Festivais folclóricos e culturais; Rodeios, etc);
- Os meios
de hospedagem referenciados por sua qualidade e vínculos
culturais com recursos humanos locais qualificados, valorizando os artistas da
região e adaptando-se a agenda cultural local
- Os bares e restaurantes que utilizam
ingredientes tipicamente locais e apresentam pratos de consumo tradicionais da
região, valorizando os produtos da agricultura familiar e orgânica, promovendo a
releitura da gastronomia tradicional estimulando a diversidade e realizando eventos
gastronômicos.
O Design
Territorial é um modo novo de abordagem sistêmica dos problemas de uma determinada
microrregião, capaz de projetar o futuro desejado por seus habitantes.
As
principais ações e projetos desse esforço resultam na realização de:
- Um planejamento
estratégico participativo e multidisciplinar, estabelecendo um plano
de metas (saneamento, acesso, capacitação); um pacto de cooperação entre os
distintos “atores” desse processo; o compromisso público (política de
incentivos) e uma política de governabilidade (calendário longo prazo).
- Uma
cartografia ilustrada indicando os pontos de interesse;
- O
desenvolvimento de produtos artesanais de suporte a gastronomia regional, assim
como de coleções temáticas vinculadas aos eventos mais expressivos da região.
- A divulgação eletrônica das rotas e atrativos;
- Um Guia
dos empreendimentos turísticos de referencia cultural;
- A Identidade da rota, do destino e dos produtos, incluindo
um programa
de identidade (marca, slogan, aplicações), a seleção dos pontos de interesse e o
licenciamento de uso da marca.
- Uma
pesquisa que documente e explore os elementos mais expressivos da cultura
material e iconográfica da região, servindo de inspiração para os artistas e
empreendedores locais desenvolverem produtos e serviços identificados com sua
origem;
- A
padronização e personalização do mobiliário urbano e viário;
- Uma
sinalização urbana e viária identificando os acessos aos pontos de interesse;
- O
desenvolvimento e instalação de equipamentos e serviços relacionados ao turismo
rural para a prática do hipismo, arvorismo, canoísmo e outros esportes de
aventura.
Os elementos acima descritos são indispensáveis para
qualificar um território criativo, como sendo aquele capaz de promover o melhor
uso de seus recursos naturais, culturais e humanos, impulsionando um
desenvolvimento mais justo e equitativo com melhor distribuição das
oportunidades de trabalho e de renda para a população local.
“Paisagem cultural” e “Cidades Criativas” são
certificações concedidas pela UNESCO, baseada em critérios norteados pela
qualidade dos vínculos existentes entre os distintos “atores” do processo de
desenvolvimento local.
Espaços com estas características atraem visitantes que
identificados com a qualidade de vida, com as oportunidades e condições de
trabalho criativo, optam por fixarem-se no local, ampliando ainda mais a oferta
especializada.
Este espaço necessário para que a criatividade floresça,
requer:
- Recursos materiais, instrumentais e humanos
qualificados;
- Oportunidade de requalificação e
aperfeiçoamento;
- Oportunidades e liberdade de trabalho;
- Conectividade colaborativa;
- Apoio e estímulo à inovação.
Pesquisa realizada em 2011 junto as principais pousadas
do litoral sul de Pernambuco apontaram os elementos mais valorizados pelos turistas
que viajem com o foco na cultura local.
- Localização do empreendimento (facilidade de
acesso, interesse cultural e ambiental);
- Arquitetura integrada à paisagem,
personalizada, utilizando os recursos naturais da região;
- Decoração baseada nos elementos da cultura
local, da arte popular e do artesanato;
- Gastronomia regional, com intervenções
autorais valorizando os produtos da pesca artesanal, da agricultura familiar e
do terroir.;
- Respeito ao meio ambiente e adoção de
práticas ecológicas;
- Conforto e qualidade das instalações;
- Hospitalidade do atendimento com pessoal
qualificado do local;
- Imagem do empreendimento planejada e baseada
em elementos do repertório cultural local;
- Comprometimento com a produção e agenda cultura regional,
valorizando os artistas locais;
- Conectividade e abertura para receber
públicos multiculturais;
- Avaliações positivas recebidas dos hospedes
(booking).
Uma das conclusões é que na nova economia o importante e
estratégico não é fazer mais barato, cada vez mais difícil em um mundo
globalizado, mas fazer diferente.
Sugestões de projetos integrados:
- Desenvolver novas coleções de produtos com a
identidade do lugar.
- Implantar um programa de capacitação e de
relacionamento com outros polos turísticos.
- Lançar uma campanha promocional dos
empreendimentos (selecionados) com foco no turismo qualificado e na gastronomia
com denominação de origem.
- Estabelecer uma agenda cultural comum entre
os diversos integrantes do polo turístico.
- Avançar na construção de planos estratégicos e
de projetos de design territorial.
Tudo isso representa um grande desafio que necessitará da
total convergência de interesses e da sinergia entre poder público e iniciativa
privada.