25 de janeiro de 2012

Inovação no Serviço Público.

O Concurso “Inovação na Gestão Pública Federal” vem sendo promovido desde 1996 pela ENAP como estímulo à disseminação de soluções inovadoras em organizações do Governo Federal. Este concurso tem servido como amostragem sobre as contribuições mais destacadas para que o Estado brasileiro aumente a qualidade do atendimento e melhore a eficácia e eficiência dos serviços.

Até 2011 o concurso havia recebido 1.309 inscrições, tendo premiado 301 iniciativas, enquadradas nos seguintes grandes temas: Arranjos institucionais; Atendimento ao cidadão; Articulação de parcerias; Inclusão digital; Inclusão social; Avaliação de desempenho institucional; Estabelecimento de padrões de atendimento e serviços; Gestão da informação; Gestão de serviços gerais; Gestão de suprimentos; Gestão e desenvolvimento de pessoas; Gestão financeira e orçamentária; Implementação de melhoria contínua; Simplificação e melhoria de processos de trabalho; Planejamento e gestão estratégica.

Os temas relacionados com a gestão e desenvolvimento de pessoas estão em sua maioria relacionados com a busca pela melhoria da qualidade de vida dos servidores; métodos mais eficazes de identificação e monitoramento do grau de satisfação e eficiência no trabalho; métodos de avaliação de desempenho; gestão por competências; conformação de equipes de alto desempenho e participação, dentre outras.

Em comum, estes estudos, pesquisas e projetos experimentais estão relacionados com uma visão mais pragmática e de respeito ao servidor público, vendo-o como parte do patrimônio imaterial das instituições. Entretanto, esse capital intelectual acumulado, responsável pelo reconhecimento e sucesso das empresas públicas de maior destaque, não tem recebido ainda, em muitas instituições públicas, as atenções devidas tendo suas necessidades, expectativas e ansiedades tratadas com morosidade e descaso, fruto do excesso de burocracia e de práticas obsoletas.

Este quadro defasado da modernidade administrativa é perenizado por gestores com perfil centralizador e autoritário, com pequena inteligência interpessoal e representam o lado arcaico e retrógrado da administração pública. Infelizmente estes gestores ainda estão presentes em grande parte das empresas públicas.

A mudança do perfil dos novos gestores de RH, escolhidos por suas características e méritos pessoais, na contramão das práticas fisiológicas e políticas, está propiciando o aparecimento de métodos e ferramentas inovadoras, que emergiram com razoável sucesso em algumas empresas privadas e referendadas no ambiente acadêmico e que agora estão sendo adaptadas e aprimoradas para sua utilização no serviço público.

Enquanto no ambiente privado a meta é o incremento competitivo, os fatores a serem considerados na busca pela eficiência são aqueles relacionados com ameaças e oportunidades decorrentes das fraquezas e fortalezas das empresas concorrentes e de suas próprias.
Nas empresas governamentais o panorama é outro. No serviço público os inimigos a serem combatidos estão dentro das próprias instituições. São eles: a ineficiência resultante do desestimulo dos servidores cujas causas podem ser inúmeras, dentre elas: salários incompatíveis com as atribuições e responsabilidades; gestão autocrática; excesso de normas e mecanismos limitantes e restritivos ditadas pela burocracia e engessamento das possibilidades de inovar.

As empresas e instituições públicas devem oferecer o melhor serviço possível ao cidadão que as mantém através dos impostos que pagam e que estão embutidos em tudo que produzem e consomem. E para isso estas empresas e seus gestores devem procurar se adequar aos novos imperativos ditados por uma sociedade que aspira a igualdade de oportunidades, a justiça, a transparência e honestidade, a presteza e eficiência do serviço público.

Ser um Gestor identificado com estas exigências significa criar espaços e oferecer condições para que o trabalho se constitua, para todos, em oportunidade de crescimento profissional e pessoal, dignamente remunerado, estimulante, desafiador e criativo.

11 de janeiro de 2012

Mobilidade e outras mazelas urbanas

Trinta anos depois de ter concluído meu mestrado em Design Urbano na Suíça, tive meu diploma revalidado pela UEMG, coincidentemente no mesmo dia da entrega do Prêmio Jovem Cientista cujo tema escolhido para este ano foi “Cidades Sustentáveis”.

Desde aquela longínqua década de 70 aprendi que o grande desafio é criar condições para que as cidades possam conquistar e manterem uma qualidade de vida satisfatória para seus habitantes e para as gerações futuras.

E, qualidade de vida implica em moradias dignas; segurança; aprovisionamento de energia, água e esgoto; limpeza urbana; serviços essenciais de saúde; oferta de trabalho; espaço de laser e mobilidade.

Para me ater apenas em um ponto vital, que é a mobilidade urbana, a lista de problemas e equívocos tem sido exponencialmente maior que as soluções propostas pelo poder público, na maioria dos grandes centros urbanos, que historicamente sempre privilegiaram o uso do transporte privado em detrimento do transporte público.

Como o crescimento do número de veículos particulares não é acompanhado pelo crescimento do espaço de circulação viária, em um primeiro momento, as medidas de contenção tendem ser coercitivas, tais como a proibição ou restrição a circulação de caminhões, ônibus fretados e veículos particulares em determinados dias e horários.

Mas estas medidas nunca solucionam o problema, apenas o postergam um pouco mais. Por isso são necessários grandes investimentos em obras viárias: duplicação de pistas, faixas exclusivas, viadutos, pontes, trincheiras entre outras obras de engenharia, drenando recursos de outras áreas de interesse público.

A opção de aumentar e aperfeiçoar o espaço de circulação viário é um ciclo vicioso e equivocado, onde o aumento da frota privada sempre será maior que a capacidade de resposta do poder público que favorece o transporte individual em detrimento do coletivo.

Nas cidades brasileiras em que vivi, todas padecem dos mesmos males, fruto de um planejamento capenga e monodisciplinar, endossado pelo compromisso com o calendário político ao invés da visão de longo prazo.

As soluções para alguns problemas de mobilidade urbana, muitas vezes óbvias, não são implementadas por não interessarem a certos grupos e interesses econômicos. O que explica a inexistência de um transporte marítimo, para veículos e pessoas, entre o continente e a ilha de Santa Catarina, em seus extremos sul e norte?

Um planejamento urbano que considere todos os interesses em jogo, sejam sociais, políticos e econômicos, com o mesmo grau de importância, desloca a visão de futuro para o imediatismo e o oportunismo.

Uma cidade somente deveria ser considerada um modelo de sustentabilidade quando o foco nos problemas vindouros for a tônica do planejamento e da ação prática, respaldados no consentimento popular. Um pouco dessa prática conheci durante o breve período que estagiei na Prefeitura de Lausanne.

A metodologia de planejamento urbano na Suíça incluía uma pesquisa de origem e destino diário das pessoas, uma escuta aos desejos e necessidades de seus habitantes e visitantes e o cruzamento de dados sobre eventos futuros, que serviam como base para dimensionar a necessidade de modificação do espaço urbano e o destino da inteligência e dos recursos disponíveis.

Trinta anos depois vejo que ainda estamos longe disso.

Soluções?

A mobilização propositiva da sociedade civil organizada através de suas associações (Em Floripa destaque positivo para a atuação da Associação FloripAmanhã) é que possibilita uma agenda deslocada do calendário político.

A conformação de equipes multidisciplinares no desenvolvimento dos projetos urbanos, (ainda pouco praticada) vital para o surgimento de proposta inovadoras que sigam a cartilha da sustentabilidade.

A utilização efetiva de métodos e técnicas de verificação das necessidades e anseios da população e das vocações relacionadas a cada município.

A capacidade técnica e gerencial pára obter os recursos necessários para a viabilização das propostas e projetos mais adequados ao perfil e necessidade de cada município.