27 de novembro de 2011

Melancolia - Um filme de Lars Von Trier



Se, como dizem os roteiristas, um grande filme é aquele que tem um belo começo e um final inesquecível então “Melancolia” de Lans Von Trier já seria, somente por isso, Maravilhoso.

Os quadros iniciais, em câmera ultra lenta, lembram Magritte e despertam o mesmo incômodo e admiração estética. São imagens inesquecíveis, por sua beleza plástica e carga emocional, que antecipam o filme e seu desfecho inevitável.

O filme vai muito mais além que ter um bom começo e um bom final. É bom do principio ao fim, e nos faz pensar.

Justine e Claire, as personagens principais, assumem a dimensão trágica dos acontecimentos, cada uma a sua maneira. A desesperança, a depressão e a melancolia, competem com o otimismo, à inocência e o conformismo.

Como reagiríamos diante da possibilidade eminente de desaparecimento de todas as formas de vida na terra?
Por trás deste questionamento, e de sua dimensão coletiva, a vida individual perde importância?

É o medo, é o sentimento de derrota em suas crenças e convicções ou saber que concluiu sua tarefa de mantenedor da ordem e do equilíbrio que leva Jonh antecipar sua morte em algumas horas?

Perguntas sem respostas, mas que fazem pensar, e muito.
Melancolia é um desses filmes que valem muitas vezes o valor de seu ingresso.


Em tempo: Uma semana depois que escrevi o texto acima o filme "Melancolia" conquistou em Berlim o prêmio de melhor filme de 2011 na 24º edição do European Film Awards (Prêmio do Cinema Europeu).
Nada mais justo e esperado.

25 de novembro de 2011

Fórum de Inovação das Américas - FIA/11


Em meu pronunciamento no FIA/11 retomei alguns pontos abordados na palestra de Manizales, procurando enfocar a questão da inovação sob três dimensões distintas e complementares. A dimensão cultural, a temporal e a tecnológica.

Na dimensão conceitual procurei aprofundar os argumentos que questionam o uso do design simplesmente como “ferramenta” do processo de inovação.

Entendo a inovação como sendo a absorção do mercado (ou pelas instituições) de um produto, processo ou serviço que até então inexistia. Deste modo atribuo o mesmo significado de inovação ao do design, traduzido no seguinte enunciado: “Design significa projeto, que por sua vez significa a construção de novas realidades, que significa inovação, que significa design”.

Porém, esta visão ampliada do design se fundamenta em uma abordagem holística dos problemas a serem solucionados, distanciando-se da compreensão popular do design como uma atividade cosmética, voltada exclusivamente para a fruição estética dos produtos, ambientes ou mensagens, ou no outro extremo, na visão pragmática e cartesiana do funcionalismo germânico cuja máxima é o enunciado “form follow function”. Tanto as qualidades estéticas como as características funcionais são fundamentais em um produto, mas não são as únicas e nem são o objetivo final do design.

Para contextualizar a evolução do design no mercado mundial em geral, e no mercado latino, nos últimos 50 anos, relacionei algumas das especializações que foram sendo criadas fruto de uma crescente pressão de demanda. Existem hoje centenas de especializações do design, tendência esta que deve subsistir nos próximos anos, tendo como frente de oposição a corrente que advoga o fim do design como profissão especifica e a absorção do Pensamento do Design (Design Thinking) por inúmeras outras profissões, especialmente pelas engenharias e pela administração.

Como exemplo deste argumento, que o pensamento do design pode ser aplicado em qualquer ambiente, apresentei alguns projetos de inovação na gestão pública que estamos implementando no CNPq, em especial, a Pesquisa de satisfação e eficiência no trabalho, Os Jogos Internos, O circulo da Saúde e o Passaporte Cultural.

Todos esses projetos obedecem ao fluxo metodológico denominado de Círculo da Inovação e do Design, cujo uso foi consagrado pelo SEBRAE e aplicado em alguns de seus programas. Esse modelo tem como ponto de partida a compreensão das demandas e necessidades do mercado (ou dos usuários) e as fortalezas e deficiências da oferta (ou dos concorrentes) para, somente então, iniciar o desenvolvimento de novos produtos e processos.

Na dimensão temporal, procurei relacionar os vínculos entre inovação e cenários futuros, cuja resultado será fruto de uma visão estratégica, que por sua vez orienta o gradiente de mudanças que se pretende alcançar. Mudanças incrementais ou mudanças radicais é que determinam a concretização de cenários futuros, que podem acontecer de modo simultâneo e não excludentes. Tanto cenários otimistas de fartura, abundância e de plena realização humana, quanto cenários desiguais, de escassez e sofrimento deverão coexistir no futuro, pois não existe ainda um desejo comum.

As mudanças incrementais permitem visualizar cenários prováveis pela simples projeção de da trajetória das ações e resultados pregressos. Já cenários desejáveis implicam em mudanças radicais, ou revolucionárias, na medida que estão relacionadas com mudanças comportamentais e, portanto, de ordem cultural.

O questionamento que proponho é sobre o futuro que queremos e os estilos de vida que aspiramos. Se nosso modelo de qualidade de vida é o “Americam Way of Life”, para que todas as pessoas do mundo tenham o mesmo, serão necessários recursos equivalentes a sete planetas Terra.

Por fim, sob a dimensão tecnológica tomei como paradigma a aceleração e incorporação de novos conhecimentos, potencializados pelo desenvolvimento de pesquisas em rede. Isso significa termos hoje, para cada ano de esforço coletivo e consorciado, um avanço tecnológico corresponde a cinco anos anteriores. Portanto, dentro de 10 anos 80% dos produtos com os quais estaremos convivendo cotidianamente hoje sequer foram inventados.

O desafio proposto é considerar nos processos de inovação, além dos requerimentos de ordem econômica e tecnológica, as questões de ordem social, cultural e ambiental.

Concluí mencionando parte da herança intelectual deixada por Steve Jobs, resumida em seis pontos principais, a saber:
1. Valorizar as coisas feitas à mão.
2. Focalizar. Definir o público-alvo para cada produto ou serviço.
3. Empatia. Conhecer e procurar atender os desejos dos clientes.
4. Agregar valor e qualidade (que seja percebida pelas pessoas).
5. Fazer as coisas para que sejam fáceis de serem usadas (amigáveis).
6. Tornar tudo o mais simples possível.