29 de setembro de 2011

Restaurante do Futuro

Em meu conceito o Restaurante do Futuro é aquele que representa e explora a gastronomia regional singular, baseada em produtos do território, cuja preparação, apresentação e consumo são partes indissociáveis, concebidas com o mesmo propósito de oferecer uma experiência vivencial diferenciada, fruto de um projeto multidisciplinar de abrangência socioeconômica, cultural e ambientalmente responsável.

Cada região do planeta possui características de solo, vegetação, clima e tradições que as diferenciam das demais. Em todas elas alguns produtos se destacam por valerem-se exatamente destas características singulares. São produtos que compõe o repertório cultural da região, tido hoje como um ativo turístico a ser explorado.

O consumo destes produtos regionais não obedecem mais, na maioria das vezes, rituais e tradições locais, nem em sua preparação, apresentação ou consumo. Reverter esta situação significa agregar valor a gastronomia através da proposição de uso de utensílios específicos para cada prato típico além de incorporar a preparação como parte do ritual da restauração, onde o consumidor participa como sujeito ativo.

Esta fusão da culinária com a produção de objetos locais e com a valorização dos produtos alimentícios do território cria uma espiral virtuosa, gera mais oportunidades de trabalho e renda para os produtores locais e preservar o patrimônio cultural imaterial.

A demanda por essa gastronomia local é aspiração dos turistas que viajam para aprender e não para comparar. São os turistas vivenciais que buscam uma imersão na cultura do local. É o turismo que se apóia nos meios de hospedagem alternativos, tais como: pousadas, albergues, hotéis de charme, residências temporárias e restaurantes que valorizam a gastronomia local. Estes turistas apreciam o artesanato e a arte popular local, a arquitetura integrada a paisagem, o respeito ao meio ambiente e a responsabilidade social.

O Restaurante do futuro, voltado a este público de maior repertório cultural, oferece não somente a alimentação e a fruição do ambiente, mas uma experiência pessoal, única e singular, do cliente fazer parte de um processo que o integra como agente ativo, participando na elaboração final do prato; levando consigo a receita e comprando os utensílios relacionados.

27 de setembro de 2011

A assimetria e o espelho retrovisor- Pilares da Inovação



A busca da perfeição, em alguns campos da expressão humana, esteve durante muito tempo relacionada com a simetria das formas e objetos, em função do equilíbrio e da harmonia que representa. Isso não traz, somente por si mesmo, um ganho estético. O design de um objeto simétrico tende a ser facilmente banalizado por sua monotonia e previsibilidade, devendo recorrer a outros artifícios como textura e cor para ser notado e memorizado.

O mesmo se aplica ao pensamento e conseqüentemente ao comportamento humano cuja opção preferencial pelos caminhos simétricos, onde um lado é o espelho do outro, conduz inevitavelmente a resultados previsíveis. A simetria é antes de tudo uma visão pragmática, portanto econômica, no mundo das coisas tangíveis. A reflexão simétrica justifica causa com conseqüência, definindo os fenômenos dentro de nossa concepção de espaço e tempo sobre uma linha continua e ininterrupta. Assim enxergamos o passado e sobre essa linha projetamos o futuro, linearmente.

Se, no entanto, abdicarmos desta tentação cartesiana e imaginarmos que o que buscamos é a surpresa e o encantamento, estamos falando da essência e do significado de inovação positiva. O novo, em todas as suas acepções, é tudo aquilo que até então não existia e que para nós aparece sob outra forma ou aspecto. Através do pensamento assimétrico é que conseguimos ampliar nossa percepção daquilo que nos cerca abrindo as portas de outras realidades, mais complexas e mais interrelacionadas.

A dificuldade de lidar com o pensamento assimétrico é a ausência de parâmetros, de balizas que indiquem quanto estamos próximos ou distantes do caminho do meio e do equilíbrio. Isso ao invés de ser uma deficiência do processo mental deve ser visto como sua maior qualidade, pois o caminho do meio costuma ser também o caminho da mediocridade, onde não há sofrimento e nem prazer.

A questão que se coloca é a dúvida de como romper com os paradigmas estabelecidos? Como sair dos quadrados mentais que criamos? Como enxergar o essencial, invisível aos olhos de muitos. Como romper bolhas após bolhas, círculos através de outros círculos? Como uma pedra jogada em um lago, criando formas concêntricas que vão se diluindo à medida que se afastam?

A melhor resposta nos propõe Ítalo Calvino com uma digressão filosófica sobre a importância do espelho retrovisor nos automóveis como inovação que foi capaz de alterar o comportamento humano ao descobrir a possibilidade de ter esse olhar atrás simultâneo ao olhar para frente.

Essa visão assimétrica, capaz de ver lados até então não revelados dos problemas, para propor uma solução que traga prazer e não sofrimento é que deve ser nosso compromisso permanente e exercitado cotidianamente.
Isso serve para o trabalho e para uma vida criativa e feliz.


Leiam também
http://bodisatva.com.br/autocentramento-uma-praga-curavel-sobre-a-sabedoria-do-espelho-retrovisor/

16 de setembro de 2011

Rua Aurora s/n


A alvorada de um novo tempo, um tempo sem tempo, que mistura passado com futuro e onde o presente é apenas a ponte de ligação do impossível (pois já vivido) com o improvável devir, começa agora.

Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas e por isso mesmo o momento de avaliar os caminhos percorridos, de perceber as bifurcações que ficaram para trás e para os destinos (in) prováveis que conduziriam. Estes percursos trilhados, que construíram o momento presente, não podem ser desconsiderados. Foram deles que se condensou a energia para as decisões tomadas, cuja prova de acerto é o fato de estarmos aqui e agora, íntegros e conscientes de nossas possibilidades e potencialidades.

Os destinos prováveis, que serão frutos de nossas escolhas, têm no passado sua referencia. O alinhamento destas ações pretéritas indica trajetórias prováveis, ascendentes ou descendentes, que desenharão o futuro. Se este resultado projetado for diferente das expectativas impõe-se uma correção de rumo, recalculando os prejuízos e ganhos dessa decisão, lembrando que quanto maior for a distancia entre o desejo e o resultado projetado, mas radical deverá ser a mudança de rota exigida.

O fim de um ciclo é o inicio de outro. Como na música, o trem que chega é o mesmo da partida onde a despedida é também encontro, do que foi e do que poderá vir a ser.

3 de setembro de 2011

O futuro do design e o design do futuro

Design é uma palavra inglesa cuja tradução literal significa projeto. Projeto de acordo com nosso léxico é um conjunto de atividades programadas, com tempos e custos definidos, cujo resultado final é algo que até então não existia. Entendido desse modo o design significa um processo de construção consciente de novas realidades.

O futuro do design enquanto atividade (e não processo) encaminha-se para um distanciamento cada vez maior de seu significado acadêmico original, com suas clássicas divisões: design de produtos, design de interiores ou design gráfico. Esta forma de compartimentalização tinha sentido em um momento de afirmação de uma atividade ainda incipiente e pouco conhecida da sociedade como um todo e do sistema produtivo em particular. Hoje, as dezenas de novas especialidades no design são uma resposta a demanda de mercado por inovação.

Cinqüenta anos depois de seu surgimento na América Latina, a palavra "design" começa a ser entendida, em muitos setores da economia, como um processo estratégico para o desenvolvimento de empresas, regiões e países.

Isso porque nas últimas duas décadas o design evoluiu como atividade capaz de propor e introduzir novas ferramentas de inovação, além de orientar a gestão integrada de todas as interfaces de uma empresa, pública ou privada, com seu público consumidor ou usuário, interno e externo, de modo harmônico e coerente. Esta percepção holística da empresa, e de seus produtos e serviços é a característica diferenciadora do "design management".

Novas frentes de atuação também se abriram na medida que setores economicamente marginais se viram na contingência de buscar soluções inovadoras para seus problemas de produto, produção e comercialização, como é o caso do artesanato e dos produtos típicos. Atuar junto as estes setores economicamente deprimidos implica levar em consideração, na mesma ordem de importância dos fatores econômicos e produtivos, as questões de ordem social, cultural e ambiental, principalmente a necessidade de geração de trabalho e renda. O artesanato e a pequena produção local, associada a sua cultura e região de origem, consegue através da agregação de valor colocar em evidência seus atributos qualitativos e diferenciadores, novo foco e demanda do "design social" cujo objetivo permanente é "mudar respeitando as origens".

Com relação aos produtos intangíveis a demanda por inovação tem sido exponencial, com tendência sempre crescente e na mesma velocidade do avanço tecnológico. No universo digital a demanda por inteligência, criatividade e expertise requer um nova abordagem profissional que o design busca suprir, substituindo micreiros e vituoses da computação gráfica.

Para os bens de consumo tradicionais, incluindo vestuário, a liberdade de criação é cada vez maior na medida que desaparecem os impedimentos tecnológicos. Antes um designer se capacitava principalmente no “como fazer”, hoje a preocupação é “o que fazer”, já que tudo é possível.

Saindo da escala micro para a escala macro, cidades e territórios representam um problema cuja solução não pode ser monodisciplinar. A complexidade destes espaços requer uma visão integradora, direcionada para o futuro, sem esquecer as lições do passado. Essa fusão de conhecimentos é o processo de trabalho do "design territorial ou urbano". que atua conciliando interesses, visões e expectativas.

Esta multiplicidade de oportunidades e as múltiplas frentes de atuação que se abriram somente são compreensíveis quando entendemos a natureza do design e sua singularidade no modo de abordagem dos problemas, para quem o conteúdo é que define a forma, seja para comunicar ou suprir uma demanda de produto ou serviço de qualquer natureza.

Design significa para mim, antes de tudo, como uma vontade irrefreável de fazer melhor. É descobrir o oculto, revelar o invisível, identificar a beleza, mesmo nas coisas mais simples do cotidiano.

Essa é a dificuldade de se ensinar design. De certo modo foi isso que me distanciou da sala de aula como professor. Descobri que sensibilidade, capacidade de percepção, talento e ousadia são atributos que se potencializam mas não se transmitem. Sem eles o design é pobre, medíocre, simplório e banal.

Ao se orientar na direção da inovação radical as empresas mais competitivas têm no "design estratégico" seu diferencial de qualidade e de marcado. Apple, Sony e Google são exemplos emblemáticos. Uma revolução a cada nova geração de produtos.

Esta é também a forma de se pensar (e construir) o futuro. Olhando os problemas a partir de todos os seus ângulos, privilegiando a pluralidade nas soluções, focadas no individuo e em suas necessidades, desejos e expectativas, sem comprometer, entretanto, as necessidades das futuras gerações.

Parodiando Stefano Marzano “Cada vez que projetamos (ou consumimos) um produto estamos fazendo uma afirmação sobre o futuro que desejamos”.