10 de outubro de 2018

Considerações, sugestões e recomendações para as candidaturas brasileiras à UCCN

Tenho acompanhado de perto o desenvolvimento da Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO desde 2009, quando fui convidado a colaborar com a mesma durante o Primeiro Fórum Mundial das Industrias Criativas – FOCUS, realizado em Monza, na Itália.
Nos ano seguinte fui contratado pela Prefeitura de São Paulo para elaborar o dossiê de sua candidatura como cidade UNESCO do Design, tarefa essa que durou aproximadamente seis meses de trabalho intenso. Como a UNESCO ainda não disponha, naquele momento, de um modelo e formato definido para a elaboração dos dossiês, o processo de análise implicava em idas e vindas para atender exigências e requerimentos que o comitê de avaliação fazia. Nesse grupo, sediado em Paris, colaborava minha filha, que muito me orientou.
Ainda em 2010, residindo em Florianópolis, sugeri a candidatura da cidade no segmento da Gastronomia, colaborando na elaboração de um extenso dossiê, envolvendo dezenas de pessoas e instituições. Do mesmo modo propus que João Pessoa e Recife tentassem sua indicação como Cidade do Artesanato e Brasilia como Cidade do Cinema.
Em 2011, por questões orçamentárias o Programa das Cidades Criativas da UNESCO suspendeu todas as análises de novas candidaturas, processo que foi retomado somente no final de 2013, com novas regras e normas exigindo a reelaboração de todos os dossiês, dentro de um prazo de 4 meses. Das cidades brasileiras candidatas, cujo processo acompanhava, apenas Florianópolis deu continuidade, tendo side então contratado para elaborar o novo dossiê, permitindo a Cidade ser aceita na Rede no final de 2014.
Em 2015 foi a vez da Cidade de Ensenada no México, entrar para a Rede, consequência de um workshop de design territorial, cuja proposição e coordenação fui responsável.
Em 2017, contratado pelo SEBRAE/PB elaborei o dossiê de João Pessoa, aceita no final do ano como Cidade do Artesanato. Desde então tenho assessorado João Pessoa na implementação dos projetos pactuados com a UNESCO.
Participei das reuniões da Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO em Kanazawa no Japão; Pequim na China, Ostersund na Suécia e Cracóvia na Polônia. Em todas elas acompanhando as discussões sobre as exigências de entrada e permanencia das cidades na Rede. Em função desta experiencia é que me permito sugerir e fazer algumas recomendações sobre as novas candidaturas.
O exame dos dossiês pela UNESCO leva em consideração as ações realizadas na Cidade pretendente nos últimos cinco no segmento escolhido, seus ativos culturais e seus atributos como cidade criativa. Essas informações devem responder satisfatoriamente a duas dezenas de perguntas formuladas pela UNESCO. Além disso são consideradas as propostas de ações programadas para os próximos quatro anos, com orçamentos específicos e um compromisso formal da prefeitura da cidade candidata.
As ações futuras devem ser impactantes, inovados e compartilháveis por outras cidades, exigindo um esforço de articulação institucional envolvendo o poder público, a academia e a sociedade civil representativa. Para isso é necessário a constituição de um grupo gestor, designado e coordenado pela Prefeitura da cidade candidata.
Importante enfatizar que a cada edição apenas duas cidades por país são eleitas para a Rede. Sabendo que no Brasil existem atualmente cinco cidades cuja elaboração do dossiê esta sendo apoiada financeiramente pelo MinC, além de outras duas dezenas de cidades pretendentes trabalhando de forma isolada, será um desafio fornecer elementos convincentes para conseguir essa designação em 2019.
Fazer parte da Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO é mais que um privilégio e um reconhecimento, capaz de agregar valor como destino turístico qualificado. É uma oportunidade de acesso as melhores práticas em termos de políticas urbanas. É poder compartilhar experiências e inteligência, atraindo capital humano e financeiro de qualidade.
Isso não se consegue apenas com disposição e boa vontade dos atores políticos. É necessário articulação, compromisso e uma visão de futuro pautada pela Agenda 2030 da ONU.
Pela experiência acumulada com a elaboração recente dos dossiês de Florianópolis e João Pessoa recomendo uma agenda de trabalho compartilhada com os atores institucionais envolvidos que dificilmente será inferior a seis meses de atividades intensas.