30 de setembro de 2009

Três dias em Stuttgart.

Passei por Stuttgart, rapidamente, há 35 anos atrás. Minha lembrança desta passagem é somente a imagem amarelada da misteriosa e bela floresta negra que cerca a cidade.
Descobri agora uma cidade alegre, limpa, organizada, cordial. Cheguei no dia da abertura da maior festa da cidade. Cervejas servidas em canecas de um litro, joelhos de porco assados na brasa, salsichas com chucrute doce foram na seqüência compensados em outras opções gastronômicas mais cosmopolitas.
Cidade inteligente, que prioriza o ser humano e a paisagem. Nos jardins do palácio centenas de jovens lagarteiam. A grama verde é tão bonita que dá literalmente vontade de comer. Uma cidade que preserva seu passado mas namora e investe pesado no futuro é a sociedade ideal segundo Peter Drucker. O vidro impera no mobiliário urbano, na fachadas e na marquise dos prédios. Proteger as pessoas sem tampar a paisagem parece dizer cada um destes objetos públicos. Os brinquedos infantis ao longo de sua principal rua de pedestres são de uma eficiência e síntese formal impressionantes, e as crianças adoram.
De tudo o que mais me impressionou foi o mercado público. Acho que daqui surgiu a palavra “delikatessen”.
A Porche e a Mercedes exibem em seus respectivos museus os maiores objetos de desejo criados pela técnica e pela arte. E na hora de ir embora olho para o teto do aeroporto e vejo a mais bela, sensível e genial estrutura de aço. Os pilares possuem a mesma estrutura orgânica das arvores.
Viva Stuttgart!

29 de setembro de 2009

A imagem gráfica de um território

O destino de uma sociedade é fruto de uma visão de futuro, construída e compartilhada a partir da compreensão de suas necessidades, desejos e vocações. Também concorrem para isso as características singulares de seu território que podem significar oportunidades ou ameaças, vantagens ou restrições, cujo proveito ou superação dependerá da disposição e determinação de sua população.
Potencializar essa energia transformadora que existe em cada indivíduo para o usufruto de todos deve ser a meta dos seus líderes e representantes legítimos que conscientes de suas obrigações e deveres buscam separar o interesse coletivo do particular, o público do privado.
O grande desafio é como identificar problemas, estabelecer prioridades e buscar soluções sem privilegiar os grupos de interesses mais organizados ou mais poderosos.
Isto porque o bem estar de uma sociedade passa pela distribuição eqüitativa dos recursos e esforços que dela se originam e que em seu proveito devem ser aplicados, traduzindo-se em um conjunto de ações e medidas capazes de construir um destino comum. Este cenário futuro, este horizonte visível, desejado e aspirado por todos é o ponto de partida de uma verdadeira transformação social.
Uma escuta sensível da sociedade fazendo apelo às memórias afetivas das pessoas tem sido capaz de mostrar não somente um passado a ser preservado e valorizado, mas apontando também prováveis caminhos futuros cujas escolhas e decisão de trilhar começam no presente. Organizar este pensamento comum, traduzindo-o em imagens e expressões compreensíveis por todos é um dos objetivos de um projeto de design territorial sendo a forma mais rápida, econômica e eficiente de conseguir esta visibilidade necessária.
Assim têm procedido algumas cidades e países, preocupados em difundir ao mundo uma imagem síntese de seus qualidades e diferenciais criando uma marca e aplicado-a em seus produtos e serviços. Isso contribui não somente para atrair investimentos externos, mas principalmente para fomentar a auto-estima de seus habitantes, cooptando-os para a realização deste sonho comum.
Um marca para uma cidade, um estado ou um país é muito mais do que uma síntese gráfica, um logotipo ou uma campanha de duração efêmera. Ao refletir um desejo comum, a essência e o espírito do lugar essa imagem gráfica torna-se capaz de reforçar ou corrigir a percepção daqueles que estão de fora, mas principalmente de seus verdadeiros atores sociais.

20 de setembro de 2009

O Design urbano e o futuro das cidades

Projetar um futuro possível e desejável para as cidades, com base em suas vocações, aspirações e desejos de seus habitantes, é o objetivo do design urbano.
Propor rotas de crescimento, reintegrar e revitalizar as áreas degradadas promovendo o entrelaçamento da diversidade social e cultural; melhorar a mobilidade com base na origem e destino diários das pessoas; melhorar os produtos e serviços de interesse público desde equipamentos de uso coletivo e sistemas de informação e comunicação, dentre outras ações necessárias e oportunas.
A decisão de iniciar o desenvolvimento destes projetos é fruto da sensibilização e determinação do poder público. Estimulado pela demanda dos setores organizados da sociedade (conscientes e desejosos de participar) são formados grupos de consulta e de intervenção. Equipes multidisciplinares capazes de apontar as propostas possíveis e seus impactos sociais, culturais, ambientais e econômicos. Disto surge uma proposta não usual de propor o bem estar da população como direito, contrariando interesses que se valem das deficiências e feridas do tecido urbano em proveito próprio.
Essas mudanças requerem tempo e visão de longo prazo. Não condicionado somente ao calendário político um projeto de design urbano deve resolver os problemas do presente sem causar problemas futuros. Soluções para o agora e também para os próximos 20 anos.

Por onde começar o design urbano de uma cidade?
Um modo cauteloso, prudente e sensato de começar um projeto inovador de design urbano é pela construção coletiva da Imagem da Cidade, idealizada, aspirada e possível. Mais do que uma imagem mental, se constrói um conceito, um eixo norteador para onde os esforços devem ser dirigidos. Esta construção deve ser fruto de reuniões e debates com lideranças da comunidade de modo a ser aceita e compartilhada por todos os seus habitantes. Projeções de possíveis cenários futuros devem ser avaliadas para poder escolher aquele que represente a aspiração coletiva e a vocação da cidade. O resultado é um guia de indicações e de inspirações para todos e, se possível, traduzido graficamente.

O segundo passo é uma intervenção física, pontual, visível por todos, que anuncie um novo período onde o espaço público é do povo e para ele deve ser projetado. A primazia do cidadão, do interesse coletivo sobre o individual.

Requalificar a principal praça da cidade é o modo mais rápido de obter adesão coletiva às metas de futuro pactuadas. O ponto mais central de uma cidade é uma praça. Para ela convergem todos os cidadãos. Para verem e serem vistos. Para confirmarem na alteridade sua própria identidade. Por seu poder de atração a praça é o palco da vida cotidiana, de seus anseios e desejos, de suas crenças e queixas. Espaço de liberdade de expressão e de transgressões consentidas. De lazer, de encontros e despedidas. Marco simbólico para os estrangeiros e vinculo afetivo para os locais. O estado de uma praça reflete todo o estado da comunidade que a circunda, seja pelo cuidado seja pelo descuido. A praça é acima de tudo o cenário de todos os eventos, do povo e para o povo. Em uma cidade de maiores dimensões cada bairro possui sua própria praça, porém nem todas conseguem o mesmo reconhecimento e uso. E haverá sempre uma mais importante. Esta praça é como a sala de visitas de uma casa. Pode ser aconchegante e acolhedora ou fria e pouco hospitaleira. Mobiliada ou despojada, verde ou árida, muito ou pouco utilizada. Suas características serão determinadas por aquele que a projeta, mas sua aparência final será determinada por aqueles que a utilizam.
Projetar uma praça é intervir em um espaço quase-sagrado, povoado de memórias, de lembranças e de histórias. Torna-se um desafio quando o que se busca é resgatar sua destinação original. Dar a este espaço público a mesma função que as praças sempre tiveram desde as mais remotas eras. As praças mais importantes são aquelas que conseguem ser o ponto de encontro natural das pessoas e um espelho da cidade, dotada de possibilidades de usos e ocupações diversas.

A partir deste momento as prioridades de intervenção são determinadas por um acordo social.

11 de setembro de 2009

Começando um projeto de design urbano

Por onde começar um projeto de design urbano diante de tantas necessidades e demandas de uma cidade? Penso sempre que a primeira intervenção deve ser em um local estratégico, para onde todos os olhares convergiam. Uma espécie de vitrine da mudança que se anuncia. E para isso nada melhor que sua praça principal. Enquanto metáfora do coração da cidade é na praça que se sente o pulsar da vida citadina. O começo deve ser uma escuta sensível daqueles que a utilizam ou que gostariam de fazê-lo. Parodiando o primeiro artigo da constituição “a praça é do povo e em seu nome deve ser pensada”. Dessa escuta sairão indicações de destinos prováveis, de características a serem preservadas e de necessidades a serem satisfeitas. A vocação de uma cidade fornece os elementos simbólicos que permitem fazer da praça um cenário coerente com as aspirações coletivas, com seus fazeres e saberes expressos na escolha do mobiliário, no projeto dos equipamentos e no paisagismo adotado.
Enquanto ponto de confluência de grupos e pessoas de origens e culturas diferentes a praça representa o espaço de convivência harmônica e da tolerância frente à diversidade. Vencido este primeiro desafio o design urbano investe sobre as demais áreas da cidade, analisando e sugerindo formas de crescimento sustentáveis; propondo normas de uso e de ocupações do solo; solucionado problemas de integração entre as diferentes áreas do tecido urbano; melhorando a mobilidade através da simplificação das rotas de origem e destino cotidiano dos cidadãos; propondo uma lei orgânica para o município tornando sua administração mais ágil, transparente e eficiente; criando uma imagem inspiradora do futuro que todos desejam e por fim, atribuindo prioridades e dimensionado os recursos para ações necessárias. Isto requer uma equipe multidisciplinar, conformada por arquitetos, urbanistas, designers, engenheiros, sociólogos, antropólogos, historiadores, turismólogos, planejadores urbanos, legisladores e representantes da comunidade.

10 de setembro de 2009

A Praça

O ponto mais central de um conglomerado urbano de pequeno porte é caracterizado geralmente por uma grande praça. Para ela convergem todos os cidadãos. Para verem e serem vistos. Para confirmarem na alteridade sua própria identidade. Por seu poder de atração a praça é o palco da vida cotidiana, de seus anseios e desejos, de suas crenças e queixas. Espaço de liberdade de expressão e de transgressões consentidas. De lazer, de encontros e despedidas. Marco simbólico para os estrangeiros e vinculo afetivo para os locais. O estado de uma praça reflete todo o estado da comunidade que a circunda, seja pelo cuidado seja pelo descuido. A praça é acima de tudo o cenário de todos os eventos, do povo e para o povo. Em uma cidade de maiores dimensões cada bairro possui sua própria praça, porém nem todas conseguem o mesmo reconhecimento e uso.

Penso nas praças mais importantes das cidades onde vivi e percebo como elas refletem o espírito da cidade. Em Belo Horizonte a Praça da Liberdade com suas palmeiras imperiais; em Brasília a Praça dos Três Poderes e seu infinito gramado; em Florianópolis a Praça XV e sua figueira centenária; em Fortaleza a Praça do Ferreira com as lembranças de seu morador mais ilustre o bode ioiô, hoje embalsamado no museu histórico.

Projetar uma praça é intervir em um espaço quase-sagrado, povoado de memórias, de lembranças e de histórias. Torna-se um desafio quando o que se busca é resgatar sua destinação original. Dar a este espaço público a mesma função que as praças sempre tiveram desde as mais remotas eras. As praças mais importantes são aquelas que conseguem ser o ponto de encontro natural das pessoas e um espelho da cidade, dotada de possibilidades de usos e ocupações diversas.

A praça é a sala de visitas da casa. Pode ser aconchegante e acolhedora ou fria e pouco hospitaleira. Mobiliada ou despojada, verde ou árida, muito ou pouco utilizada. Suas características serão determinadas por aquele que a projeta, mas sua aparência final será determinada por aqueles que a utilizam. Para projetar uma praça é necessário ouvir a população, conhecer suas necessidades e anseios e com ela debater as possibilidades e definir o que deve ser acrescido ou retirado. Fazer isso é difícil, pouco usual, mas indispensável.

Design Urbano - A experiência de São Desidério