31 de março de 2008

Realidades Pessoais: passado, presente e futuro


Este artigo foi publicado em sua integra na Revista americana Innovation na primavera de 1996.
São três visões do design no Brasil, representando três períodos.
O primeiro, 1973, quando comecei efetivamente minha vida profissional como designer, representando o passado. O segundo naquele momento em que o artigo foi escrito, 1996, representando o presente e o ultimo uma visão do futuro em 2020.
Transcorridos onze anos de sua publicação ele ainda me parece atual e que estamos a caminho de alcançarmos aquilo que imaginei.







Janeiro de 2020
Estou com sessenta e sete anos e me sentido na melhor fase de minha vida profissional. Isto porque acredito que nós, designers, somos neste ponto muito parecidos com os artistas, pois quanto mais vivemos melhor e mais gratificante se torna nosso trabalho. Quanto mais ampliamos nossos horizontes, conhecemos mais pessoas e lugares, maior e mais amplo passa a ser o nosso arquivo de referências e de informações. Conseqüentemente melhores e mais criativas as respostas aos desafios pois somos, antes de tudo, decodificadores de repertórios culturais.

Percebo que as pessoas, em geral, têm muita dificuldade de imaginar o futuro. Pois o tempo projetado parece sempre maior do que aquele já vivido. Se o futuro é aquilo que coletivamente acreditamos podemos imaginar um cenário otimista onde a sociedade a que aspiramos foi sendo gradativamente construída. Neste quadro o Brasil conseguiu compatibilizar crescimento econômico com justiça social, reintegrando a sociedade milhões de pessoas através do apoio as diversas formas associativas geradoras de trabalho e renda, além de uma profunda mudança na estrutura fundiária permitindo a posse e uso produtivo da terra por aqueles que dela necessitam e nela trabalham.

Cresceu a demanda por produtos e processos que permitem uma exploração racional dos recursos marinhos para a produção de alimentos e para o transporte. Aprendemos o manejo adequado da floresta tropical como fonte valiosa de recursos naturais com garantia de renovação. O desenvolvimento do agrobusiness e do ecoturismo tem possibilitado a geração de novas oportunidades de trabalho e o aporte de soluções de integração dos indivíduos ao contexto ambiental da Amazônia, cujas particularidades deste ecossistema o colocam como se fosse uma 4ª dimensão do planeta.

A consciência ecológica, bandeira desfraldada opor alguns líderes mundiais a partir da década de 90, favoreceu o Brasil que transformou esta dificuldade em vantagem competitiva. Para isto contribuiu a flexibilidade e capacidade adaptativa do parque produtivo e do empresário brasileiro; uma gigantesca disponibilidade de recursos naturais renováveis (biomassa, eólica e solar) e o amadurecimento crítico dos indivíduos para o exercício de sua cidadania exigindo produtos e serviços que respeitem a cultura e o meio ambiente.

A maioria dos projetos que venho desenvolvendo estão diretamente ligados a quatro grupos de preocupações pessoais. A primeira preocupação é com o “contexto cultural” resgatando e valorizando a singularidade de cada ambiente a ser trabalhado. A segunda preocupação é com o desenvolvimento humano, escolhendo atividades que contribuam para a promoção do bem estar social. A terceira, com prospecções e analise de tendência, buscando expandir as fronteiras do conhecimento e por ultimo a integração regional, visando a inserção do design nas regiões menos desenvolvidas através de produtos e serviços essenciais.

Uma de minhas maiores satisfações é saber que os Laboratórios de Design iniciados no Brasil nos anos 80 hoje estão espalhados por toda a América Latina. Os acordos entre nações ou instituições estão obsoletos. O que vale é a cooperação entre indivíduos através de redes que transcendem as fronteiras geopolíticas. As pessoas estão descobrindo que o acesso a um produto não significa ter de possuí-lo. O verdadeiro e inalienável patrimônio que dispomos na vida, é a soma de nossas experiências, e somente podemos guardar em nossa mente ou em nosso coração.
O grande desafio agora é projetar satisfação. Porém, projetar significa intervir no futuro e para isso devemos olhar o passado para avaliarmos nossas escolhas, nossos erros e acertos.

Janeiro de 1973
Sou convidado a integrar a equipe de design do CETEC – Centro Tecnológico de Minas Gerais. Somos um grupo muito jovem onde o designer mais experiente ainda não completou 30 anos de idade. Estou começando minha formação acadêmica estudando à noite, na tentativa de legitimar uma prática profissional iniciada 4 anos em atividades tangencias ao design. Na verdade, tangente tem sido a contribuição do design à industria brasileira.
Vivemos duas realidades. De um lado a euforia desenvolvimentista, com o país crescendo impulsionado por grandes obras de infra-estrutura (ponte Rio - Niterói, Metrô de SP; Usinas de Angra, Transamazônica, Itaipu...) financiadas por gigantescos empréstimos externos e, de outro lado, o obscurantismo de uma política interna repressiva, subproduto da ditadura militar. A política industrial baseada no argumento da defesa de mercado, desobriga as empresas a investirem na melhoria de seus produtos e serviços. A industria nacional quando necessita de um novo produto copia aquilo que é feito no exterior, ou trazendo os próprios moldes de produção, prolongando aqui na periferia do planeta a sobrevida de produtos já obsoletos em seus paises de origem. O design colabora apenas de modo cosmético e superficial na remodelação da imagem das empresas ou, quando muito, na parte visível dos produtos.

Nossos clientes são sempre pequenas empresas, com pouco capital, constituídas em sua maioria para viabilizar o sonho de um idealista ou alguém que se transformou em empreendedor por instinto de sobrevivência cujas decisões são tomadas empiricamente ou ditadas belo bom senso, Diante deles vejo um espelho onde sou a imagem refletida.

Como a demanda é pequena, a cada novo projeto que desenvolvemos tentamos por em prática tudo aquilo que julgamos saber, que acreditamos ou que gostaríamos de ver realizado, dificultando deste modo um posicionamento isento e o distancia critica necessário. Com 20 anos é muito difícil não ser ingênuo e sonhador.

A Bauhaus é o nosso paradigma tardio, onde a forma deve seguir a função. Os projetos que fazemos são espartanos, despojados de qualquer adorno ou elemento supérfluo. Vivemos em um mundo monocromático. A fonte tipográfica preferida é a “Helvética”, cujas estritas normas de espacejamento ninguém ousa discutir. Para nós o design é uma espécie de disciplina que se impõe aos produtos e imagens como forma de combater a barbárie. Somos como membros de uma seita onde, para muitos, a fé e a dedicação são os antídotos para combater a falta de talento e vocação.

Alguém disse que projetar requer 10% de inspiração e 90% de transpiração. É a pura verdade. Quantas noites inteiras passo pregando letraset e letrafilm nas pranchas de apresentação dos projetos e em artes-final para enviar para a gráfica? Vejo meus companheiros de equipe moldar no barro, durante dezenas de horas, as propostas formais dos produtos que projetamos, que o desenho somente não é capaz de revelar. Durante estas longas horas de trabalho manual ocupamos nossos pensamentos questionando até que ponto todo este esforço será realmente recompensado. A maioria de nossos projetos jamais será produzida gerando frustração e a busca por outras formas de fazer design.

Começamos a nos apegar a ilusão de poder colaborar na construção de uma sociedade justa e solidária através da prática de um design comprometido com os processos alternativos de desenvolvimento e pela opção preferencial pelas tecnologias apropriadas. Questões que eram antes eram técnicas passam a ser de natureza ideológica. Na opção por um determinado material ou processo o que se discute é a defesa do patrimônio cultural e a opção preferencial pelos menos favorecidos. Aceitar o encargo de um novo projeto vem a ser, em muitos casos, uma questão de opção entre o inevitável patrulhamento ideológico e a necessidade de sobrevivência individual. O mais paradoxal é o fato que uma equipe de design que necessita da industria para justificar sua existência se afasta dela voluntariamente, mais ou menos como a raposa da lenda, que não conseguindo alcançar as uvas desdenha alegando estarem verdes. Assim, optamos por dedicar nos próximos anos a projetos experimentais na área rural e urbana. Através do poema “Erro de Português” de Oswald de Andrade, encontramos a indicação de um caminho do qual será muito difícil de se afastar.
“Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.”

Simples e claro. Tudo é uma questão de ponto de vista. Basta olhar para dentro nosso próprio país para enxergar nossa realidade para encontrar respostas especificas para nossos problemas.

Janeiro de 1996
Estou na cidade de Antuérpia, na Bélgica, a convite da Hogescholl para conduzir um experimento didático denominado “Jogos de design” . Nosso desafio é desenvolver com 20 alunos do ultimo ano do curso de design um projeto de inserção pessoal no mercado de trabalho. Entrego aos participantes um pequeno conto intitulado “O jardim dos caminhos que se bifurcam” de Jorge Luis Borges. Este conto despertou em mim a visão do tempo como algo totalmente assimétrico, onde o passado, o presente e o futuro, podem existir de modo simultâneo e paralelo. Deste modo, o que temos na vida diante de cada nova circunstância são possibilidades que se alternam e se cruzam. Cabe a nós, descobrir diante das opções presentes aquela que melhor possibilidade de êxito apresente frente as nossos objetivos futuros. Isto significa eliminar a visão determinista da vida e o peso da irreversibilidade do destino.
Revela-se para mim, deste modo sutil, aquilo que mais tarde tentaria qualificar como um dos fundamentos do design: a capacidade de navegar de modo eficiente no espaço assimétrico do tempo. Desenhar nosso próprio futuro é uma tarefa que podemos, e devemos assumir, nós mesmos pois caso contrário será a sorte ou o acaso o responsável por nosso destino e nossa vida se resumirá a um jogo fortuito de possibilidades.

23 de março de 2008

Da Pascoa ao Design Compassivo.

Mais uma celebração religiosa transformada em momento de consumo. A maioria das pessoas já nem sabe quais são causas e origens, objetivo e o sentido desta data especial, fixando-se somente um objeto simbólico: O ovo de chocolate, tornado obrigação imposta pelas crianças. Páscoa significa passagem. De um estado a outro, de uma estação a outra.

Estes elementos levam a reflexão sobre a transitoriedade das pessoas e suas coisas e, por conseqüência, nas disparidades hoje existentes entre norte e sul, entre nações desenvolvidas e outras em estado tribal. Em um mundo tão desigual, como canta Gilberto Gil, tornou-se quase impensável a pretensão de projetar produtos globais. Cada região é diferente da outra, cada país, cada cidade, cada bairro, cada rua, cada casa, e dentro delas cada pessoa é singular, única, com necessidades e desejos distintos. Como individualizar respostas às necessidades destas pessoas por produtos e serviços? Agrupando-as em tribos urbanas definidas por comportamento e estilo de vida, parece ser a resposta atual. Para isso é necessário um esforço de inovação contínua, capaz de diversificar e customizar a produção sem encarecer o produto final.

Porém, e por uma questão de sobrevivência da espécie humana, este novo paradigma ditado pelo mercado deve levar em consideração o trinômio: respeito ao meio ambiente, respeito à cultura e responsabilidade social. Ou seja, os argumentos que hoje qualificam o conceito do que é considerado “design social”. A partir deste ponto é possível idealizar uma demanda por produtos “compassivos” em cujo preço estivesse embutido o resgate da divida social.

20 de março de 2008

Palestra em Belo Horizonte - Design na Industria da Moda


Atendendo convite da Coopermoda – Cooperativa dos Mista dos Consultores de Negócios de Moda de Minas Gerais, feito através de sua diretora Heloisa Jardim, foi promovida em Belo Horizonte no dia 24 de abril, uma palestra com o tema: “Inovação e o Design na Industria da Moda”.

Os tópicos abordados foram do planejamento estratégico nas empresas do setor à necessidade do desenvolvimento de coleções que coloquem em evidência as especificidades e singularidades brasileiras que podem se transformar no ganho competitivo e no salto qualitativo indispensável para as industrias têxteis e confecções melhor se pocisionarem no mercado nacional e internacional.


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19 de março de 2008

19 de março - Dia Nacional do Artesão

Este artigo, apesar de ser um pouco extenso para os padrões da internet, tem por objetivo apresentar algumas reflexões e orientações, que espero possam ser úteis para todos aqueles envolvidos com a melhoria da produção artesanal brasileira. São dez pontos a serem considerados para um melhor posicionamento dos produtos no mercado partindo do ponto de vista dos consumidores, cada vez mais conscientes e exigentes com relação a qualidade daquilo que adquirem.

artesanato e mercado - 10 pontos a serem considerados

Até alguns anos atrás o artesanato brasileiro era pouco conhecido do grande público. Existiam dificuldades de toda ordem, sendo a mais importante delas o distanciamento entre o artesão e o consumidor.
Comprar um bom produto artesanal exigia certo esforço, um pouco de sorte e muita disposição. Para se encontrar aquilo que se buscava era necessário ir até à oficina do artesão ou nas esporádicas feiras que se organizavam, ou então nas lojas especializadas com preços nem sempre convidativos.

Os produtos pouco se diferenciavam de um ano para o outro, deixando uma impressão de “já visto”, na contra mão do desejo dos consumidores, sempre ávidos por novidades.

A embalagem sempre foi uma preocupação menor na cabeça dos artesãos, pois achavam que a única coisa importante era a qualidade de seu trabalho. Embrulhar o produto vendido em jornal, apenas para protegê-lo, e colocá-lo numa sacola de plástico era suficiente. Pagar com cartão de crédito ou cheque, pouco provável.

A matéria prima era aquela que estava disponível, ao alcance da mão, sem maiores preocupações com sua reposição ou de modificar a forma de extração muitas vezes predatória.

As condições de trabalho nas oficinas, quase sempre precárias por falta de alguém que pudesse orientar os artesãos sobre processos mais adequados, informar sobre os equipamentos mais eficientes e explicar as regras básicas para tornar o trabalho menos insalubre, perigoso ou cansativo.

O preço dos produtos era muitas vezes ditado pela necessidade, ou pela cara do comprador. Deste modo ninguém estava satisfeito. Os artesãos ganhando pouco e os compradores reclamando dos altos preços por desconhecimento da dificuldade para produzir as peças ou pelo acréscimo dos atravessadores.

As instituições
que existiam para apoiar o artesanato preferiam ações assistencialistas e de caráter paternalista, fruto de uma visão ingênua e romântica da atividade artesanal.

Porém, tudo isso começou a mudar nos últimos dez anos. As ações governamentais foram melhor planejadas. Especialistas nacionais e estrangeiros convidados a darem sua contribuição. O Programa do Artesanato Brasileiro deixou a esfera do bem-estar social e foi para a área econômica ocupando um espaço no Ministério da Indústria e Comércio. Foi criado o programa do Artesanato Solidário e o SEBRAE aportou recursos criando programas de apoio ao artesanato em todos os estados da federação. Nenhum outro país do continente americano fez um esforço semelhante.

Os resultados começam a aparecer. Temos hoje unidades artesanais com uma posição consolidada no mercado, exportando seus produtos e ganhando prêmios em feiras e exposições no exterior. Rodadas de negócios para divulgar e incrementar as vendas. Cursos e programas de capacitação para os artesãos deram um salto qualitativo na produção, agora mais diversificada e de maior qualidade. A aproximação entre designers e artesão criou uma nova oferta artesanal, mais seletiva e de maior valor agregado.

Uma mudança na mentalidade dos consumidores já pode ser percebida, que não vêem mais o artesanato apenas como produtos de baixo valor para compradores das classes C e D. O artesanato brasileiro está consolidando uma posição de destaque no mercado mundial. Para muitos consumidores esclarecidos o artesanato passou a ser sua opção de compra numero um, substituindo produtos industriais de origem desconhecida, impessoais, massificados e sem uma história para contar.
Apesar dos grandes avanços verificados, ainda existe muita coisa para ser feita, já que esta é uma mudança cultural e isso leva tempo para ser concluída.

Prognóstico
As recomendações a seguir destinam-se prioritariamente aos artesãos, mas servem também para os técnicos envolvidos com as atividades artesanais.
Trata-se de um conjunto de observações, obtida com o resultado das feiras, rodadas de negócios, eventos, concursos e premiações que foram organizadas. Essa aproximação, com a realidade do mercado atual, aplica-se a todas as tipologias artesanais.
São recomendações, agrupadas em 10 pontos, coincidentes com os critérios adotados pelo SEBRAE em suas ações de avaliação do desempenho das unidades artesanais adotadas nos últimos anos.

1.O mercado quer inovações
Muitas pessoas ainda pensam que o artesanato não deve mudar e que deve se manter fiel às tradições. Este pensamento, aplicado literalmente, serve apenas para perpetuar a mesmice e a pobreza. A cultura é um processo dinâmico e vivo e não se pode pensar em aprisionar o artesanato em técnicas, formas, cores e motivos que pertenceram a uma determinada época do passado.

Com o crescimento impressionante dos meios de comunicação, e do intercâmbio comercial entre países e regiões, a informação sobre novos produtos chega ao mercado antes dos mesmos, criando uma expectativa e o desejo de consumo muito forte. Com isso as pessoas passaram a adquirir bens e serviços muitas vezes movidos pela novidade. O desejo de estar em dia com o que acontece no mundo passou a ser uma das preocupações, às vezes inconsciente, de muitas pessoas.
Hoje os consumidores querem ser surpreendidos por algo que lhes toque o coração e a mente, e que seja diferente daquilo que já conhecem.

O instituto de Pesquisas Econômicas - IPEA, divulgou o resultado de uma pesquisa que fez com milhares de empresas brasileiras, de todos os tamanhos e em todos os setores produtivos. Descobriu que apenas 1,7% delas investem sistematicamente em inovação (em alguns países mais avançados este percentual chega a 70%). O investimento em inovação, mostrou a pesquisa, é baixo, não sendo superior a 1% do orçamento das mesmas e o resultado impressionante: Estas poucas empresas brasileiras que investem em inovação respondem por uma quarta parte de toda a produção industrial do país.

Para criar novos produtos, singulares e atraentes, é necessário saber o que o mercado deseja e necessita. Pesquisas de demanda não são complicadas, custosas e nem difíceis de fazer como muitos pensam. Estas consultas ao mercado podem ser feitas por amostragem, com pequenos grupos de consumidores, e assim conhecer melhor suas preferências e rejeições.

Um produto consagrado, tradicional, pode ter suas vendas dinamizadas com pequenas providencias tais como: mudança dos tamanhos, variações na aparência, nas formas e cores, nos motivos, na destinação ou mesmo no uso. Criar uma família de produtos a partir de um produto de sucesso é um modo de aumentar seu ciclo de vida.

Cada nova temporada, estação do ano, ou celebrações tradicionais são uma excelente oportunidade para lançar uma nova coleção de produtos artesanais, desenvolvidos sob um tema, porém mantendo as características que o consagraram.

Este esforço de inovação não é trivial. Deve ser realizado com a colaboração de designers experientes que possam preservar as características técnicas, sociais e culturais que os produtos artesanais possuem através de seus vínculos à cultura local. Inovar sem descaracterizar.

2.O mercado quer pagar um preço justo pelos produtos
O preço de um produto não é somente o resultado da soma do tempo gasto, mais o custo da matéria prima. Seu preço deve ser calculado a partir de vários critérios, incluindo despesas, investimentos, impostos e lucro. Também devem ser considerados os preços praticados pela concorrência. O artesanato, por se tratar de um bem de valor simbólico, deve ter seu preço fixado em função do público visado, seu grau de aceitação e da satisfação que proporciona.

O artesanato está muitas vezes relacionado com uma experiência vivenciada pelo consumidor. Emoções de viagens e novas descobertas, são tornadas perenes com duas ações principais: fotos dos lugares e situações vividas e a aquisição de um produto que lembre aquele momento. Portanto artesanato e turismo andam sempre de mãos dadas.

3.O mercado quer produtos cuja qualidade seja visível.
Um produto tosco, mal acabado, sujo não tem mais vez no mercado. O fato de um produto ser feito à mão não significa que ele seja rudimentar e sem qualidade. Ao contrário. Deve primar pela qualidade de execução e de acabamento. E para que isso aconteça é necessário que a oficina do artesão seja organizada, limpa, com condições de trabalho adequadas, com boa iluminação, ventilação e conforto. Isso ajuda inclusive na prevenção de acidentes de trabalho. Não se pode esperar qualidade de produtos onde não exista qualidade de produção. Qualidade de produto significa acima de tudo que ele desempenhe satisfatoriamente a função para a qual foi concebido.

4.O mercado esta mais consciente e preocupado com as questões ambientais.
Os consumidores mais conscientes, assim como muitos mercados compradores de produtos considerados naturais, estão começando a exigir um “selo verde” ou algo que explicite a origem das matérias primas e o impacto dos processos usados em sua produção sobre o meio ambiente. Certos insumos e materiais perigosos, poluentes e tóxicos não devem ser mais utilizados, presentes em muitas colas, vernizes e agentes químicos. O mercado quer produção limpa. A preocupação com o manejo das matérias primas, buscando sua reposição ou substituição quando escassa passou a ser uma questão de sobrevivência da atividade artesanal. Não consumir hoje, sem repor, aquilo que poderá faltar amanhã.

5.Técnicas e processos adequados de produção resultam em produtos melhores, com melhor preço e maior aceitação
As ferramentas são extensões das mãos dos artesãos. Quanto melhores, mais precisas, mais eficientes, melhor será o resultado do trabalho. Os grandes artistas sempre se utilizaram das melhores técnicas disponíveis em seu tempo.

Certos processos, embora seculares ou tradicionais em certas regiões podem ser substituídos por outros mais modernos sem que isso signifique descaracterizar o produto artesanal. Um torno a pedal pode ser substituído por um torno elétrico sempre que a situação econômica do artesão permita. Um forno a lenha por um forno a gás, apenas para citar dois exemplos.

6.O mercado quer saber a origem e a história dos produtos
Um produto artesanal traz consigo uma história. Essa informação é que lhe confere o sentido de pertencimento, de fazer parte de um lugar e de um momento específico.

Os produtos naturais e artesanais devem possuir uma espécie de “certidão de nascimento” e que sejam relacionados com a cultura de sua região de origem.

Mesmo constantemente renovado os produtos deve manter algumas características fiéis ao repertório simbólico regional. Pesquisas realizadas sobre a identidade e iconografia regional podem apontar os elementos pictóricos, formais e cromáticos mais adequados a serem utilizados.

Uma etiqueta com os dados do produto, sua origem e sua história é o mínimo que o mercado espera.

7.A embalagem é parte do produto artesanal
Os artesãos devem ter a mesma preocupação e empenho com que criam novos produtos com as embalagens que irão protegê-lo. A função da embalagem do produto artesanal, além de obviamente protegê-lo e facilitar seu transporte, deve também emprestar valor ao produto. Pensem na embalagem como se fosse a roupa de festa do produto, porém simples, bonita e coerente com seu conteúdo.

8.O mercado quer marcas de valor
Para muitas empresas seu nome e sua marca valem mais que seu patrimônio físico. Com o artesanato isso não é diferente. Algumas unidades artesanais conseguiram uma projeção tão grande no mercado que hoje sua marca faz com que seus produtos tenham um preço diferenciado da concorrência.
Portanto, todo artesão deve investir na melhoria e na consolidação de sua imagem, criando e utilizando de modo ordenado elementos próprios de identificação. Esta é uma tarefa especializada que deve ser delegada a um designer ou artista gráfico, sendo um item de investimento e não um custo, já que o resultado sempre se traduz na melhoria das vendas e do posicionamento no mercado.

9.O mercado não quer amadorismo nas relações comerciais
Artesão que não cumprem prazos, que atrasa na entrega das encomendas, que não mantém a qualidade constante de seus produtos e que muda os preços constantemente está fadado ao fracasso. Já foi o tempo que o mercado aceitava estas deficiências como excentricidades de artistas. É necessário tomar consciência que um negócio é bom quando todos saem ganhando. Para vender mais e melhor é necessário ter o apoio de uma estrutura comercial, própria ou associada. A aspiração de todo artesão (porém não dos artistas) é ser um pequeno empresário de sucesso. É isto começa com o artesão mudando sua forma pessoal de ver seu próprio trabalho, como algo improvisado, informal e sem contratos.

10.Cresce a responsabilidade social de todos
É uma grande ilusão o artesão acreditar que somente ele pode fazer aquele trabalho que faz. Isso é mais comum nos artistas procurando expor sua visão pessoal e única do mundo que os cerca. O artesão, regra geral, está mais preocupado é com seu sustento e de sua família. Por isso deve procurar transmitir seu saber e seu fazer para outras pessoas pra poder ampliar seu negócio. Quando uma unidade artesanal cresce necessita de mais colaboradores e para isso tem de se programar para capacitá-los e treiná-los para o trabalho. Esta é uma tarefa muito importante e que exige tempo.

Responsabilidade social significa ajudar a formar a próxima geração de artesãos, melhores e ainda mais conscientes transmitindo e multiplicando estes saberes. Responsabilidade com o mundo começa assumindo uma responsabilidade com a própria vizinhança.

17 de março de 2008

Quanto vale um produto?

O valor de um produto pode ser resumido como a quantidade de dinheiro que um consumidor está disposto a gastar para adquiri-lo - que deve ser proporcional ao beneficio que isso poderá trazer - principalmente se isto atender satisfatoriamente suas necessidades ou desejos.


Até alguns anos atrás o valor de um produto era calculado somando-se os custos fixos, uma parcela dos custos variáveis e a expectativa de lucro de quem o produzia. Esta fórmula hoje não funciona mais. Atualmente os produtos valem pela quantidade de informação e inteligência que por detrás dele existe. Assim, quanto maior foi à quantidade e a qualidade do conhecimento necessário para desenvolvê-lo maior poderá ser seu valor de mercado. Por esta razão certos produtos têm um preço tão elevado, tais como medicamentos e equipamentos eletrônicos.

Para se definir o preço de um produto ou serviço é necessário dimensionar a experiência proporcionada em seu uso ou fruição. Um cafezinho, uma cerveja ou um refrigerante que deveriam custar 1,5 euros, em qualquer bar da Europa, podem ter seu preço variando em função do lugar onde são servidos. Na Praça de São Marcos em Veneza ou nos Champs Elysées, em Paris, podem custar até 10 vezes mais pois o preço que está sendo cobrado é pela experiência de estar sendo servido neste lugar. O que vale é o momento vivido e não o produto em si.

Alguns produtos possuem além de seu valor intrínseco - determinado pelas razões acima expostas - também um valor agregado determinado pela motivação da compra. Uma data importante, um momento inesquecível, um desejo irresistível, são alguns dos principais motivos que definem a compra de um bem perene como uma jóia, uma obra de arte ou uma simples lembrança. Este valor afetivo, impossível de ser medido pelo mercado, cresce com o tempo, porém dificilmente pode ser repassado para um outro futuro comprador.

Outro fator importante na definição do preço de um produto ou serviço é o valor intangível da empresa que os produz.Quanto maior for o prestígio daquele que fabrica ou que comercializa, a segurança e confiança que proporcionam, e a cumplicidade com seus clientes, maior será a possibilidade que a decisão do consumidor ao comprar seus produtos não será o preço, mas a satisfação que os mesmos proporcionam. Os produtos com design, bem projetados, práticos, úteis e além de tudo bonitos, custam mais pois seu preço foi determinado pela qualidade da inteligência necessária para sua criação. Os consumidores conscientes sabem disso.

Por esta razão o século XXI está sendo considerado por alguns como a “sociedade dos bens simbólicos”, onde o mais difícil não é satisfazer os clientes e consumidores mas cativá-los com boas surpresas e conquistá-los para sempre.

15 de março de 2008

Como serão os produtos daqui 10 anos

Mais de 90% dos objetos com os quais vamos conviver cotidianamente daqui 10 anos hoje sequer foram inventados. Isto representa um desafio para os designers, uma oportunidade para os empreendedores e uma boa noticia para os consumidores.

O desenvolvimento científico e tecnológico atual, capaz de provocar estas mudanças, é exponencial. Como afirmou recentemente o presidente da Intel, Gordon Moore, “cada ano para frente representa, em termos de avanço tecnológico, cinco anos pra trás”. Prevalecendo esta visão de futuro, dentro de dez anos estaremos em um patamar de progresso cuja diferença será maior, de modo proporcional, a diferença do nosso estágio atual com aquele dos anos cinqüenta.

Do mesmo modo que há cinqüenta anos atrás nem sonhávamos com um telefone celular, dentro de dez anos ele já terá desaparecido do modo como hoje o concebemos. Naquela época a televisão a cores, a calculadora eletrônica, o forno de microondas, o poliéster, a pílula anticoncepcional, existiam apenas em sonho para uma pessoa comum. O computador era uma máquina do tamanho de um carro. Nos próximos anos, a maioria dos produtos de uso cotidiano irá desaparecer dando lugar a outros, menores, mais eficientes, versáteis, amigáveis e mais acessíveis.

Isso representa um desafio para os designers pois a aparência dos produtos não é mais apenas o resultado do célebre enunciado de Louis Sullivan, que antecedendo o movimento modernista, defendia que a “forma segue a função”. Os designers têm hoje uma nova preocupação que é definir a forma de produtos que até então não existiam. A aparência formal de um produto deve agora seguir a intuição - ou a emoção - já que cada novo produto é concebido para suprir novas necessidades e desejos.

Para os empresários tudo isto representa uma imensa janela de oportunidade. Um novo mundo material precisa ser inventado, desenvolvido, produzido e ofertado. Quem sair na frente terá uma grande vantagem sobre seus concorrentes. Basta observarmos mais atentamente os anseios comuns (trabalhar, divertir, locomover, comunicar, etc) para vermos quantas coisas ainda existem por criar.

E finalmente, para os consumidores estas mudanças significam mais conforto, melhor qualidade de vida, maiores facilidades e eficiência no atendimento de suas demandas e expectativas.

Os produtos daqui a dez anos serão resultados de nossa capacidade de sonhar e realizar. Entretanto, isso deveria estar condicionado a visão de um futuro mais justo, equilibrado e responsável, onde as necessidades humanas possam ser satisfeitas sem comprometer as gerações futuras. Esta será, sobretudo, uma mudança de natureza comportamental, devendo prevalecer nossa capacidade de exigir produtos mais honestos e mais adequados seja do ponto de vista social, cultural ou ecológico.

13 de março de 2008

Duas tendências no design de jóias


Para a maioria das pessoas o design significa apenas a forma e aparência de produtos e mensagens. Embora a questão estética seja uma das principais preocupações de um designer, o mais importante é conseguir compatibilizar os anseios e necessidades daquele que consome com aquele que produz e comercializa. Isto significa desenvolver um produto inovador, singular, diferenciado, com qualidade e alto valor agregado, propiciando o incremento competitivo traduzido pelo aumento nas vendas.

No ramo da joalheria duas grandes tendências de consumo são percebidas. De um lado o crescente interesse pelas “tecnojóias” neologismo criado para as novas tecnologias com roupagem nova e de alto luxo, onde a funcionalidade passou a ser o valor agregado.

Na outra extremidade do mercado estão às pessoas que preferem produtos despojados, com histórias para contar e de lembranças impregnadas em sua matriz cultural, ou ainda, aqueles produtos que se relacionem com uma experiência vivida. No caso das jóias a motivação de compra é quase sempre um modo de tornar perene a lembrança de um momento inesquecível. Junto com a jóia vendida algumas joalherias estão oferecendo serviços complementares, na forma de alternativas criativas para o momento da entrega, tornando ainda mais memorável esta ocasião especial. Momento este que também pode ser projetado.

É sempre oportuno lembrar, no momento de criar uma nova jóia, desenhar uma nova coleção ou mesmo projetar o interior de uma loja, uma frase célebre de Coco Chanel: “luxo não é sinônimo da ostentação. Luxo é o contrário da mediocridade”.

10 de março de 2008

Uma boa imagem vale mais que mil palavras



Agradavel surpresa foi conhecer o trabalho do fotógrafo Fabricio Salume, radicado em Florianópolis. Tanto em seus inspirados "portraits" quanto na fotografia de objeto, percebe-se um olhar educado e um profissional competente.





Design Territorial


O conceito de identidade territorial não se consegue com decretos ou por desejo político. São os elementos culturais comuns que demarcam estes espaços, refletidos na arquitetura, na gastronomia, nas práticas, usos e costumes semelhantes. São estes elementos, reconhecíveis e familiares para aqueles que ocupam um território que fortalecem e cristalizam um sentimento de pertencimento. Necessitam ser melhor valorizados e divulgados.

A requalificação destes territórios culturais demarcados, transformando-os em rotas de atração turística, é de fundamental importância para o desenvolvimento econômico regional e conseqüentemente para a fixação do homem em sua terra em virtude das novas oportunidades de trabalho e renda que são geradas.

Muitas destas melhorias são invisíveis, tais como uma legislação de estimulo aos novos empreendimentos de base cultural, ou a educação, capacitação, treinamento das pessoas frente às novas oportunidades. Estas melhorias podem também ser tangíveis ou visíveis na forma de equipamentos de uso comum, de um mobiliário urbano e viário padronizado que melhorem o uso e a percepção dos espaços comuns ou até mesmo de uma sinalização adequada de indicação de acessos ou do patrimônio existente.

Este conjunto de medidas se desdobram em várias direções, dentre elas o design, que pode aportar sua contribuição desenvolvendo um conjunto de projetos integrados colaborando com a percepção e uso do espaço territorial.

Exemplos desta colaboração podem ser:

  • Cartografia ilustrada e sinalização dos acessos e pontos de interesse;=
  • Design de suporte a gastronomia regional;
  • Divulgação eletrônica das rotas e atrativos;
  • Guia dos empreendimentos turísticos de referencia cultural;
  • Identidade visual e produtos promocionais das rotas;
  • Identificação dos elementos mais expressivos da cultura material e iconográfica;
  • Padronização de mobiliário urbano e viário;
  • Projetos dos equipamentos de apoio e serviços;
  • Valorização e promoção comercial do artesanato típico.

8 de março de 2008

Luíza Barroso e Quentin Vaulot - Primeiro prêmio Design Movelsul 2008

O prêmio Movelsul é hoje o concurso de design de móvéis mais disputado da América Latina, com mais de mil projetos inscritos. O primeiro prêmio categoria estudante coube à dupla Luíza Barroso e Quentin Vaulot, projeto esse desenvolvido no final do semestre letivo de 2007 em Paris. O protótipo foi desenvolvido por Fábio Rautenberg. Trata-se de um projeto conceitual cuja metáfora é o resgate das idéias descartadas durante o processo de criação.


Maiores informações, consulte o site de Luíza Barroso e Quentin Vaulot.