8 de março de 2018

No dia da Mulher um recado para os designers

Em 1910 numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca foi decidido que o dia oito de Março seria designado como sendo o "Dia Internacional da Mulher". Esta data foi escolhida em função do primeiro protesto organizado por empregadas de indústrias têxteis de Nova York, em 1857, que reivindicavam melhores condições de trabalho, redução da jornada de 16 horas e melhores salários, já que recebiam aproximadamente um terço dos salários dos homens.
Pretendia-se com esta comemoração chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher na sociedade, promover uma tomada de consciência sobre suas dificuldades e principalmente rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher ao longo dos séculos. Mesmo nos países mais desenvolvidos e igualitários em suas oportunidades, muitas mulheres são hoje protagonistas de três jornadas de trabalho, sendo duas delas silenciosas e muitas vezes invisíveis, nos papéis de dona de casa, esposa e/ou mãe. Infelizmente, em nosso mundo contemporâneo, ávido de consumo e carente de informação, transformaram esta data em um dia propício para aquecer o comércio, estimulando a prática de dar presentes como forma de homenageá-las.
Para os designers é um dia para lembrar que produtos e serviços deveriam traduzir as diferentes expectativas e necessidades de gênero. Homens e mulheres guardam preciosas diferenças que devem ser entendidas, mantidas, respeitadas e valorizadas. Porém, quais são estas diferenças e atributos diferenciados? Para responder esta pergunta, consultei duas dezenas de amigas e colegas. Queria saber delas o que pensam de si mesmas e de nós, homens. O resultado não me surpreendeu, e apenas confirmou o que de certo modo já sabia, ou intuía. A agressividade, a objetividade, a praticidade, o pragmatismo e a lealdade são atributos 100% masculinos, enquanto que a emotividade, atenção aos detalhes, a fidelidade, a intuição, o sexto sentido, a sensibilidade e a tolerância são os atributos com os quais as mulheres, em minha modesta pesquisa qualitativa, mais se identificaram.
Como designer não me preocupo, tão somente, em projetar produtos que melhorem as condições de trabalho, reduzam o esforço físico, facilitem o uso e o manuseio dos objetos cotidianos, seja em casa ou na empresa. Sinto que é necessário, além disso, procurar entender e decodificar a lógica da fruição entre a mulher e seu mundo material. Agindo assim estaremos usando com um pouco mais de sabedoria e sensibilidade (que dizem que nos falta) os repertórios simbólicos do universo feminino que funcionam como insumos inconscientes para sua autoestima e valorização pessoal. Finalizo deixando um abraço carinhoso às amigas que me ajudaram nesta pesquisa em 2012* e, através delas, homenageando todas as mulheres com as quais compartilho meu trabalho, meus sonhos e expectativas.
* Obrigado Ana Claudia, Ananélia, Ana Maia, Angela, Áurea, Beth, Helena, Heloisa, Janine, Maria Célia, Milena, Mônica, Regina A, Raquel, Regina C, Rosa, Rossana, Teresita e Wanessa.
Publicado originalmente em 08/03/2012