30 de maio de 2015

Exposição Memória do LBDI" A opção pelo caminho do meio.

Chegando de uma longa viagem, de mais de 30 horas de voo sem contar as esperas, fui primeiro tomar um banho, almoçar e em seguida visitar a exposição dedicada à memória do LBDI. Minha ansiedade tinha razão de ser. Entregaram a curadoria da exposição para uma pessoa querida, profissional serio e competente, que indiquei, inclusive, para a direção do ICSID após o termino de meu mandato, mas tinha, em minha opinião, uma deficiência cruel: nunca havia posto os pés nos 15 anos de existência do Laboratório em Florianópolis. Portanto, não acreditava que ele poderia entender o que era o LBDI e o “espírito do tempo” ali reinante. Para os 200 bolsistas que passaram pelo LBDI, as memórias que permanecem estão relacionadas com o lado humano de sua experiência.
Nossa forma de fazer design, fraterna, questionadora e ideológica, não foi herdada da escola Ulminiana, mas sim da escola Cetequiana, neologismos que para os bons entendidos bastam. O módulo residencial, as oficinas, a Embajada Cubana de Canasvieiras, eram extensões do LBDI, que não podem ser dissociadas do nosso processo de crescimento e aprendizagem, como designers e como seres humanos, melhores e mais conscientes.
O LBDI era um laboratório na melhor acepção da palavra: experimental, visionário, ousado, criativo, exatamente o contrario dessa exposição dedicada à sua memória.
Gastar tempo e dinheiro para reproduzir maquetes e modelos tridimensionais de projetos que jamais foram produzidos, que em sua maioria representam apenas exercícios formais sem nenhum valor histórico ou cultural, ou apresentar cadernos de desenhos como elementos de alto valor simbólico do trabalho ali realizado, não é fruto da falta de criatividade de quem concebeu a mostra, mas falta de uma compreensão mais profunda daquilo que era, e continua sendo na memória afetiva das pessoas, o LBDI. Se somado a isso a escolha pela linearidade cronológica dos eventos e pessoas, dando-lhes igual peso e valor, apenas evidencia o viés acadêmico da exposição, exatamente o que o LBDI jamais foi.
Projetar produtos era uma atividade que servia apenas como meio, e não como um fim, de sua existência. O que fazíamos era projetar o futuro do design, ou os muitos futuros possíveis e desejáveis, através de debates, encontros, workshops e seminários internacionais.
Quem rompeu a fronteiras de sua vinculação, primeiramente no estado e depois no país, tornando-se uma referência mundial, foi o LBDI e não o LDP-DI/SC. Do mesmo modo, atrelar o ano de 1999 a história do LBDI e faltar com a verdade. Naquele momento o que existia era apenas um escritório de projetos do CTAI que herdou uma falida estrutura de pessoas e equipamentos.
A união das instituições de ensino; a transversalidade dos conhecimentos; a ampliação das fronteiras da atividade; a cooperação internacional; o envolvimento político e multi institucional; o uso pioneira de novas tecnologias; a multiculturalidade e o compromisso social eram alguns dos paradigmas do LBDI que não foram percebidos,ou demonstrados, nessa exposição.
A possibilidade de conviver, não apenas com um, mas com dezenas de grandes nomes do design mundial servia para ampliar nossa capacidade de escolhas, metodológicas e ideológicas. Fomos os pioneiros no discurso, e na pratica, do design social no Brasil, do design thinking, do design estratégico. Mas pela exposição fica a impressão de estarmos sendo lembrados pela memória de um coadjuvante.
Lembrei-me do investimento de tempo que fiz ano passado, conseguindo um estúdio na Cidade do México, contratando uma equipe de filmagem e mobilizando dez antigos colaboradores do LBDI para gravarem um depoimento, dando inicio a uma tentativa de humanização da exposição, que não foi aproveitada, embora paga com recursos da FIESC. Essa sugestão era um resquício da ideia original de fazer não apenas uma exposição, mas um espaço mediático, interativo, que tinha como propósito reunir dezenas de protagonistas para debaterem essa experiência. Ideia rejeitada pela comissão coordenadora da bienal, liderada ironicamente por um dos responsáveis pela extinção do LBDI.
Na saída da exposição me questionei se não estaria sendo demasiadamente exigente em minha criticas, devendo, ao contrário, estar no mínimo agradecido e feliz pelo reconhecimento de nosso trabalho. Porém, isso seria concordar que é melhor o caminho do meio do que nada. Infelizmente, o caminho do meio, é o da mediocridade.