8 de julho de 2012

Criatividade + pensamento divergente = Paradigmas do século XXI

Entendo a criatividade como sendo um processo de conceber  ideias originais que tenham valor. A criatividade não é um dom, fruto de um talento nato. É um atributo comum a todos os seres humanos que pode, e deve, ser continuamente exercitado através do pensamento divergente.  
Pensamento divergente é aquele que permite gerar ideias de modo radial, não linear, com multiplicação exponencial de possibilidades.
Dois conceitos que quando se juntam caracterizam os indivíduos, ou empresas, superdotados de inteligência criativa, motor da nova economia.

São raros estes indivíduos? Uma pesquisa feita com 1.500 crianças de 5 anos mostrou que 98% delas tinham essa característica, que infelizmente foi sendo perdida com o tempo. A causa disso? O processo educacional que obriga o indivíduo a desenvolver o pensamento linear, cartesiano, previsível.
O processo do pensamento divergente parte de um problema. Sem um problema não existe porque mudar de posição, tempo ou lugar.  Cada problema aponta para um complexo numero de perguntas onde cada resposta pode apontar diferentes direções. Para cada resposta,  ou ideia, existe sempre uma ideia em oposição. Destes dois extremos surgem outras possibilidades, que vão identificado ângulos novos e ainda não vistos do problema inicialmente colocado. Essa forma de pensamento gera uma enorme quantidade de alternativas de soluções, algumas delas não usuais, inesperadas, revolucionárias.
O pensamento divergente se estimula diante da possibilidade de descobrir os lados não aparentes ou ainda não revelados de um problema. Eliminar o óbvio e escolher o caminho oposto para encontrar novas pistas. Como em tudo é necessário um ambiente propício, com estímulos positivos, para que este processo se realize.  As empresas e instituições da nova economia criativa possuem traços característicos comuns.  São ambientes que apoiam, e apostam, na criatividade.

Esses ambientes são espaços de troca de ideias, por indivíduos que aportam diferentes experiências, conhecimentos e visões, em busca de um objetivo comum. A aparente ausência de regras tradicionais, tais como estações individuais de trabalho, horários de expediente fixos e hierarquias verticais demonstram outro modo de administrar os talentos. Esse modelo de gerenciamento, adotado no Laboratório Brasileiro de Design seguia os mesmos princípios ideológicos e filosóficos praticados pelo grupo de design do CETEC, nos anos setenta.  
No LBDI as condições propiciavam um convívio intenso entre todos os mebros da equipe, fixos ou transitórios. Os espaços de trabalho e os espaços de moradia no mesmo lugar e uma tradição de acolhimento festivo de todos que chegavam e partiam os elementos diferenciais no modo de trabalhrar e de viver.  Designers de todo o mundo trabalhando juntos no desenvolvimento de um novo produto, com todas as limitações linguísticas possíveis, conseguiam propostas a frente de seu tempo.  Em dez anos mais de duzentos professores e conferencistas, dos cinco continentes, participaram em memoráveis eventos, trazendo novas ideias, métodos e visões, em um processo continuo de aprendizagem coletiva. Contruiu-se assim uma rede de relações internacionais que deu sustentação aos eventos que marcam uma época. Fomos os primeiros a realizar e documentar uma experiência de design social no Brasil e de aplicar o discurso das tecnologias sociais e seus vínculos com a cultura. Estas eram, em sua época, formas divergentes de se pensar e praticar o design.
Hoje, com o surgimento de empresas absurdamente criativas, que geram produtos que revolucionam o comportamento humano, como é o caso da Google, é bom dar uma olhada em suas instalações e formas de trabalho. Eles devem estar certos.

Sobre esse assunto recomendo esse vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=DA0eLEwNmAs&feature=youtu.be&t=1s

5 de julho de 2012

O ato de criar

O ato de criação. Esse momento mágico, único, em que uma luz se ilumina na mente e surge algo novo.  Muitas vezes a ideia nasce completa, quase adulta, pronta para ser experimentada. Muitas vezes nasce como um pequeno embrião, que vai se transformando e ganhando forma pouco a pouco. Nasce ainda necessitando de atenção permanente.  Qualquer que seja o processo, lento ou imediato, o ato de criar é uma das experiências mais gratificantes que os seres humanos podem experimentar. A usarmos nossas habilidades, destrezas, inteligência e a busca permanente pelo novo, pelo ainda não visto, pelo invisível aos outros, aí sim estamos vivendo a emoção de criar. Artistas, artesãos, arquitetos, designers, músicos, poetas, escultores, pintores, sabem do que estou falando. E, maior a vocação maior é o prazer  de criar.

Mas o ato de criar não é exclusivo destas áreas inseridas no âmbito da cultura. Os pesquisadores, engenheiros, tecnólogos, químicos, biólogos, conseguem às vezes o privilégio de criar algo novo em suas buscas e investigações. Penso que o ato de criar algo novo, grandioso, a altura de nossas necessidades e aspirações, se incorporado e voltado para o bem pelos políticos e gestores públicos, cambiaria o mundo.  
Mas a pergunta é. Por que essa busca desenfreada pelo novo? Para muitos, ou poucos, como está, está de bom tamanho. A resposta é simples. É porque tudo pode ser mudado para melhor. Esse é um dos desafios da vida. Torná-la melhor, para si, e para os outros.

Mais humana, portanto mais segura, portanto mais livre, mais prazerosa, mais feliz. Assim voltamos ao começo do ato de criar. Se, o final do que aspiramos é a felicidade, portanto é dela que partimos.  
Ver surgir, brotar, nascer, uma ideia que contribuirá com estes princípios é um sentimento raro, como uma bateria que ao mesmo tempo em que consome energia retribui com mais energia ainda. O ato de criação por isso é viciante. Quando se descobre este prazer dele não mais abdicamos.  Sofrimento passa ser a rotina, a burocracia, a monotonia das coisas e dias iguais.
Quem se vicia no ato de criar é essencialmente um inconformista que acredita que tudo em sua volta pode ser mudado, para melhor. Por isso cada dia é uma surpresa, uma nova opção, um levantar da cama de um modo diferente, com um olhar mais atento e sensível.  

Ocupar as mãos e a mente com a criação de coisas novas, ou novas realidades, é uma dádiva que pode ser explorada ao extremo. Quanto mais se cria, mais se tem vontade de criar. Impondo limites e se esforçando para ultrapassá-los. Quando o que se cria é bom, maior é satisfação pessoal que se transforma em novo esforço cujo resultado será ainda melhor, e assim sucessivamente em uma espiral virtuosa.
Dizem que alguém perguntou para Picasso qual de seus quadros (ou fases) ele gostava mais. Ele respondeu: Da próxima.  

4 de julho de 2012

O futuro das cidades

O modelo de cidade com o qual estamos vivendo, e convivendo sem a dimensão de sua fragilidade, não aponta para um futuro satisfatório. Os privilégios conquistados por uma parcela mínima da população impedem que reformas estruturais sejam empreendidas. Soma-se a isso a falta de visão de futuro dos gestores públicos, fruto de instrução e de informação precária; leis anacrônicas ou a simples existências delas, que impeçam ou coíbam a exploração desordenada do território; a crescente demanda por transporte individual em detrimento do coletivo; a insegurança gerada pela falta de proteção ao cidadão; a incompreensão da amplitude do conceito de saúde que passa pela existência de um saneamento básico decente;  a especulação imobiliária que afasta cada vez mais do centro as pessoas de menor poder aquisitivo. Essas são algumas das conclusões que se somam ao diagnóstico elaborado pelo Professor Dalmo Viera, e discutidas em uma pequena reunião entre amigos que ainda acreditam que é possível encontrar saídas para o caos urbano em que nossas cidades estão mergulhadas, ou em sua inevitável direção.

A primeira das propostas debatidas foi  a necessidade de ampliar os preceitos que uma cidade deve ter, enquanto espaço de vivencia do cidadão.  A proposta é agregar aos verbos morar, trabalhar, circular e desfrutar, o verbo “conviver”. Isso significa, dentre outras ações de importância, revitalizar os centros urbanos criando neles novos espaços de moradia e de produção cultural; criar áreas de lazer e entretenimento em espaços públicos devolutos; restringir a circulação de veículos em zonas ou horários previamente estabelecidos favorecendo a circulação de pedestres; investir em transporte urbano não convencional e com elevado grau de confiabilidade dos horários e, finalmente, produzir de modo compartilhado com a população, através de consultas públicas e sugestões de suas representações organizadas,  um “plano de metas de gestão do município’ e o compromisso firmado de prestação de contas semestral das ações realizadas, compromisso esse assegurado na “Lei Orgânica do Município”. Dos mais de 5.500 municípios brasileiros menos de 0,5% deles já asseguraram este direito aos seus cidadãos. É ainda muito pouco.  
Estas intervenções acima descritas, capazes de cerzir o tecido urbano (hoje esgarçado e remendado de modo precário por intervenções casuísticas)  dando-lhe mais espaço de cidadania, dependem muito mais do desejo comum do que recursos financeiros, começando pela troca do calendário político pelo planejamento prospectivo de longo prazo. O início das mudanças começa muitas vezes por soluções pontuais de problemas crônicos, em uma espécie de homeopatia urbana, atacando as causas e não as consequências.

Estas reflexões são oportunas, pois as vésperas de um processo eleitoral que irá decidir o destino dos municípios brasileiros, os candidatos a prefeito, assim como os pretendentes a o cargo de vereadores, deveriam deixar claras as causas que defendem e suas intenções, reveladas por um posicionamento formal sobre o futuro que aspiram para nossas cidades. 
Imbuídos deste espírito transgeneracional  talvez consigamos escolher novos representantes e gestores capazes de redesenharem a cidade do Século XXI, cujos contornos podemos  visualizar. Uma cidade mais sustentável, inclusiva, multicultural, harmônica e criativa. Esse é o nosso sonho possível.