11 de janeiro de 2012

Mobilidade e outras mazelas urbanas

Trinta anos depois de ter concluído meu mestrado em Design Urbano na Suíça, tive meu diploma revalidado pela UEMG, coincidentemente no mesmo dia da entrega do Prêmio Jovem Cientista cujo tema escolhido para este ano foi “Cidades Sustentáveis”.

Desde aquela longínqua década de 70 aprendi que o grande desafio é criar condições para que as cidades possam conquistar e manterem uma qualidade de vida satisfatória para seus habitantes e para as gerações futuras.

E, qualidade de vida implica em moradias dignas; segurança; aprovisionamento de energia, água e esgoto; limpeza urbana; serviços essenciais de saúde; oferta de trabalho; espaço de laser e mobilidade.

Para me ater apenas em um ponto vital, que é a mobilidade urbana, a lista de problemas e equívocos tem sido exponencialmente maior que as soluções propostas pelo poder público, na maioria dos grandes centros urbanos, que historicamente sempre privilegiaram o uso do transporte privado em detrimento do transporte público.

Como o crescimento do número de veículos particulares não é acompanhado pelo crescimento do espaço de circulação viária, em um primeiro momento, as medidas de contenção tendem ser coercitivas, tais como a proibição ou restrição a circulação de caminhões, ônibus fretados e veículos particulares em determinados dias e horários.

Mas estas medidas nunca solucionam o problema, apenas o postergam um pouco mais. Por isso são necessários grandes investimentos em obras viárias: duplicação de pistas, faixas exclusivas, viadutos, pontes, trincheiras entre outras obras de engenharia, drenando recursos de outras áreas de interesse público.

A opção de aumentar e aperfeiçoar o espaço de circulação viário é um ciclo vicioso e equivocado, onde o aumento da frota privada sempre será maior que a capacidade de resposta do poder público que favorece o transporte individual em detrimento do coletivo.

Nas cidades brasileiras em que vivi, todas padecem dos mesmos males, fruto de um planejamento capenga e monodisciplinar, endossado pelo compromisso com o calendário político ao invés da visão de longo prazo.

As soluções para alguns problemas de mobilidade urbana, muitas vezes óbvias, não são implementadas por não interessarem a certos grupos e interesses econômicos. O que explica a inexistência de um transporte marítimo, para veículos e pessoas, entre o continente e a ilha de Santa Catarina, em seus extremos sul e norte?

Um planejamento urbano que considere todos os interesses em jogo, sejam sociais, políticos e econômicos, com o mesmo grau de importância, desloca a visão de futuro para o imediatismo e o oportunismo.

Uma cidade somente deveria ser considerada um modelo de sustentabilidade quando o foco nos problemas vindouros for a tônica do planejamento e da ação prática, respaldados no consentimento popular. Um pouco dessa prática conheci durante o breve período que estagiei na Prefeitura de Lausanne.

A metodologia de planejamento urbano na Suíça incluía uma pesquisa de origem e destino diário das pessoas, uma escuta aos desejos e necessidades de seus habitantes e visitantes e o cruzamento de dados sobre eventos futuros, que serviam como base para dimensionar a necessidade de modificação do espaço urbano e o destino da inteligência e dos recursos disponíveis.

Trinta anos depois vejo que ainda estamos longe disso.

Soluções?

A mobilização propositiva da sociedade civil organizada através de suas associações (Em Floripa destaque positivo para a atuação da Associação FloripAmanhã) é que possibilita uma agenda deslocada do calendário político.

A conformação de equipes multidisciplinares no desenvolvimento dos projetos urbanos, (ainda pouco praticada) vital para o surgimento de proposta inovadoras que sigam a cartilha da sustentabilidade.

A utilização efetiva de métodos e técnicas de verificação das necessidades e anseios da população e das vocações relacionadas a cada município.

A capacidade técnica e gerencial pára obter os recursos necessários para a viabilização das propostas e projetos mais adequados ao perfil e necessidade de cada município.

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