24 de junho de 2024

Conselhos ou Rede Mundiais (de design e de artesanato) – Uns vão bem outros bem mal.

 Os Conselhos Mundiais, criados na metade do século passado, eram redes mundiais de indivíduos movidos pelos mesmos objetivos e aspirações direcionadas ao bem comum, independente das diferenças de credo ou raça. Surgiam como resposta à necessidade da ONU - Organização das Nações Unidas ter maior capilaridade em todas as sociedades do planeta.  

Assim surgiu o WDC - Conselho Mundial de Design, cuja origem foi o ICSID criado em 1953, do qual fui diretor entre 1993 e 1995. Do mesmo modo assim também surgiu o Conselho Mundial de Artesanato, criado em 1964 do qual sou diretor para a América Latina desde 2023.

Com este antecedente pessoal me permito traçar um paralelo entre essas duas organizações, prognosticando medidas de alteração de curso e propondo ajustes necessários

Enquanto o WDC navega de vento em popa o WCC está a ponto de naufragar.

No WDO temos instituições públicas e privadas que apoiam financeiramente a organização, cujo presidente, tesoureiro e nove diretores são eleitos em uma assembleia bianual onde participam delegados de cinco continentes. Trata-se de uma organização conhecida e respeitada em toda comunidade mundial de design, em razão de seus eventos, congressos e iniciativas. 

https://wdo.org/  

Já o WCC é uma organização muito pouco conhecida pelos artesãos de qualquer país. É uma organização de indivíduos, mais do que instituições, dedicadas a promover o artesanato. Não realiza eventos planetários e nem contribui efetivamente pela melhoria das condições de vida e trabalho dos artesãos. Seu presidente atual não é reconhecido pela comunidade internacional, pois assumiu o cargo como se fosse uma herança familiar. Toma decisões unilaterais sem consultar as representações regionais.

https://www.wccinternational.org/  

A pergunta que faço é a seguinte: Faz sentido continuarmos com a ilusão destes Conselhos Mundiais cujo principal benefício parece ser o de inflar o ego de seus mandatários? Onde está a verdadeira cooperação e intercâmbio para fortalecer a atividade para a qual estão direcionados? Onde estão os congressos para discutir políticas públicas para o segmento? Onde estão os seminários para discutir propostas pedagogias, metodologias de trabalho, código de ética, entre outros temas relevantes? Sem isso esses Conselhos são organizações anacrônicas, irreais e irrelevantes.

Os conselhos estão sendo substituídos por Redes. Uma rede pressupõe um conjunto de pontos que se conectam, trocando conhecimento, desenvolvendo projetos e ações impactantes. Assim está funcionado a Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO -UCCN que nesta primeira semana de julho realiza em Braga – Portugal seu encontro anual. A UCCN conta hoje 350 cidades de mais de cem países, representadas por indivíduos com algum poder de decisão em suas respectivas cidades. Isso funciona, facilita o compartilhamento das melhores práticas e desenvolvimento de projetos conjuntos multilaterais.

Concluindo, proponho que nós todos, que estamos envolvidos com os Conselhos Mundiais, principalmente com o WCC repensemos nosso papel nestas organizações e naqueles que são o objeto final de nosso esforço: os artesãos. Estamos realmente fazendo o melhor que podemos para eles? Criarmos uma rede regional, com indivíduos comprometidos e instituições fortes, não seria um melhor caminho? Nela estaríamos discutindo problemas comuns, realidades parecidas, cultural e linguisticamente muito mais próximas apoiados por instituições passíveis de cooperar entre si. Penso que é dado o momento de discutirmos a criação desta Rede Ibero-americana do Artesanato. Não como substituição aquilo que já existe, mas propondo uma alternativa para canalizar nossa energia, disposição, talento e experiência. Para que isso aconteça basta que decidamos. Está em nossa mãos escolher se vamos continuar participando de um teatro planetário ou vamos ensaiar uma peça regional, nossa, verdadeira?  

 

 

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