11 de julho de 2024

Minhas percepções sobre a Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO

 Um dos grandes méritos das Organizações da Nações Unidas foi perceber, através da UNESCO, que a cooperação técnica e o intercâmbio entre cidades era muito mais fácil e efetivo que entre países. Imbuída deste espírito, nasce em 2004, a Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO, aproximando as cidades que colocavam a cultura e a criatividade como mola propulsora de um desenvolvimento sustentável. Inicialmente com apenas 14 cidades, 20 anos depois a Rede conta hoje com 350 cidades de cem países, sendo 14 do Brasil.   

Para entrar nesta Rede, cujo principal objetivo é o compartilhamento de suas melhores práticas, as cidades devem submeter, nos editais lançados a cada dois anos, um dossiê apontando suas principais realizações e méritos em um dos sete segmentos definidos pela UNESCO. São eles. 1. Artes Midiáticas, Artesanato e artes folclóricas; 3. Cinema. 4. Design; 5. Gastronomia; 6. Literatura e 7. Música.

Este dossiê de candidatura, assinado pelo prefeito da cidade candidata, deve conter um orçamento que assegure a realização dos projetos e atividades que foram propostas caso a cidade venha a conquistar essa designação de Cidade Criativa da UNESCO, dentre eles a participação, de no mínimo um representante, nos encontros anuais da Rede, que este ano acaba de ser realizado na Cidade de Braga em Portugal.  

Em 2009 fui convidado pela UNESCO para participar do fórum das Indústrias Criativas na cidade de Monza / Itália onde tomei conhecimento da Rede recém criada, sendo motivado a ser um promotor desta iniciativa nos países da América Latina onde estivesse atuando.

As duas primeiras cidades com as quais colaborei, para entrarem na Rede da UNESCO, foram Ensenada no México e Florianópolis, em 2014, onde então residia, ambas na categoria Gastronomia e Puebla/ México em 2015 como cidade do design.  A parti daí, a cada dois anos, sempre contratado pelo SEBRAE, coordenei a elaboração das candidaturas de João Pessoa como cidade do Artesanato em 2017, Fortaleza, cidade do Design em 2019; Campina Grande Cidade das Artes Midiáticas em 2021 e Penedo, Cidade do Cinema em 2023.

Atuando com ponto focal, primeiro de Florianópolis e depois de João Pessoa, participei nos últimos dez anos dos encontros em Kanazawa(Japão); Pequim(China); Ostersund (Suécia); Cracóvia (Polônia); Fabriano (Itália); Santos (Brasil) e Braga (Portugal).   

Neste momentos únicos, dedicados principalmente a facilitar a aproximação entre cidades com problemas e anseios comuns, tenho presenciado um gradual distanciamento destes objetivos, com a participação de representantes das cidades com um perfil mais político do que técnico, e alguns mais preocupados em fazer turismo do que buscar parcerias.

Além da participação das cidades ser compulsória neste encontro anual muitas não enviaram seus representantes neste ano a Portugal. Das 14 cidades do Brasil na Rede UNESCO apenas oito compareceram: Curitiba, Florianópolis, Brasília, Belo Horizonte, Campina Grande, João Pessoa, Penedo e Santos e se ausentaram: Rio de Janeiro, Paraty, Recife, Salvador, Fortaleza e Belém.

Isso se deve, no meu entendimento, ao descompromisso de alguns gestores municipais com esse título, que a eles não pertence, cujo dever deveria ser o cumprimento dos acordos pactuados para a conquista de título de cidade Criativa.

Me causa também um certo constrangimento ver a sede de protagonismo de alguns pontos focais que não compartilham desta experiência, restringindo ou privando a participação de outros possíveis representantes de suas cidades capazes de atuarem de modo mais técnico e proativo.

A imagem que passam algumas cidades, que por sua inação são considerada fantasmas na Rede, é que entraram apenas para conquistar um selo de distinção como destino turístico qualificado, perdendo a inestimável oportunidade de aprender pelos exemplos, de fazer parcerias para o desenvolvimento de projetos conjuntos otimizando ou economizando tempo e recursos preciosos.

Se pertencer a esta Rede é uma conquista, ser dela excluída pelo descumprimento dos acordos pactuado é uma vergonha. Isso poderá doravante acontecer quando cada cidade completar quatro anos na Rede e seu relatório de atividades for reprovado. É uma pena que seja necessário que isso aconteça para que algumas delas despertem de sua letargia antes que seja tarde demais.  

 

 

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