10 de março de 2015

A Economia Criativa como uma janela de oportunidades para a eventos - Palestra Cocal 2015 - Brasil

No último relatório sobre a Economia Criativa publicado em 2014 pela UNESCO e PNUD ficou constatada que a criatividade e a inovação, tanto individual como coletiva, são os motores fundamentais dessa industria emergente e a verdadeira riqueza das nações.
A Economia Criativa, expressão que abarca setores antes dispersos nas políticas publicas, capazes de gerar conteúdos e conhecimentos, que vão desde as distintas formas de arte, artesanato, arquitetura, design, moda, musica, meios de comunicação, softwares e games, dentre outros, são os que mais tem crescido nos últimos anos, não somente na geração de trabalho e renda mas também contribuído para um desenvolvimento mais harmônico, sustentável, culturalmente rico e socialmente justo.
O desafio que se impõe é estimular e promover a criatividade em todos os segmentos da sociedade, afirmando as distintas identidades culturais dos lugares onde se prospera e se agrupa, melhorando a qualidade de vida, a imagem e o prestígio local, propiciando assim atrair e manter capital intelectual e financeiro de qualidade.
Os especialistas mundiais que contribuíram na elaboração deste relatório da UNESCO apresentaram provas concludentes que a vanguarda do crescimento e da inovação contemporânea está formada por setores, tais como a indústria de alta tecnologia, a fabricação neo-artesanal, os serviços financeiros e empresariais e as indústrias culturais, que apesar da recessão mundial foram aquelas de maior crescimento.
O termo economia Criativa foi popularizado em 2001 pelo escritor e gestor de meios de comunicação britânico, John Howkins que o aplicou em 15 setores industriais, indo das artes passando pela ciência e tecnologia. Segundo seus cálculos esta indústria representava 2,2 trilhões de dólares.
Pesquisas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam uma participação de 7% de bens e serviços culturais no PIB mundial, com crescimento anual previsto em torno de 10% a 20%. No Brasil, o crescimento médio anual dos setores criativos (6,13%), portanto bastante superior ao aumento médio do PIB nos últimos anos.
Em 2004 a UNESCO criou a Rede Mundial das Cidades Criativas – RMCC tendo por objetivo revelar e divulgar as experiências bem sucedidas de cidades que promoveram seu desenvolvimento pelo estímulo e promoção de setores mais expressivos de sua indústria cultural, contribuindo para a circulação e o intercâmbio de pessoas e idéias.
A Rede conta hoje com 69 cidades dos cinco continentes, certificadas em uma das sete categorias estabelecidas pela UNESCO: Arte popular e artesanato, artes digitais, Cinema, Design, Gastronomia, Literatura e Música.
Desde dezembro passado duas cidades brasileiras tiveram suas candidaturas aprovadas para inclusão na RMCC: Curitiba Cidade UNESCO do Design e Florianópolis Cidade UNESCO da Gastronomia.
Este reconhecimento se deu não somente pelos aspectos positivos e atendimento das condições exigidas, tais como: a existência de expressiva produção e demanda, pesquisa e desenvolvimento setorial, formação de recursos humanos e realização de eventos de expressão internacional na área pretendida, mas também pelas visão e promessas de futuro, traduzidas em um conjunto de projetos e atividades previstas para serem realizadas no curto, médio e longo prazo.
Em Florianópolis, este esforço foi coordenado pela Associação FloripAmanhã, contando com o apoio da Prefeitura Municipal, SEBRAE, ABRASEL, sindicatos e instituições de ensino. Merece destaque a proposta de criação do Observatório da Gastronomia e do Laboratório de Inovação Cultural, ambos projetos inéditos que somados aos eventos previstos atrairão a visita de especialistas e chefs de renome internacional colocando Florianópolis como uma das principais protagonistas da Rede Mundial de Cidades Criativas.
As cidades quando inseridas nessa Rede Mundial ganham projeção e visibilidade como destino turístico qualificado, demandando a organização de dezenas de eventos contemplando toda a cadeia de produção. Feiras de produtos e serviços, Festivais gastronômicos, Congressos científicos apresentando resultados de pesquisas e desenvolvimento de novos produtos, Seminários e workshops técnicos apresentando o estado da arte, são entre outros, janelas de oportunidades demandas pelas cidades criativas.
Estes eventos não são um fim em si mesmo. São sinalizadores de futuro, inicio de uma nova caminhada. Indicam novos rumos, tendências, demandas latentes e potenciais revelados. Os eventos devem ser vistos como aglutinadores de pessoas e ideias, capazes de criar sinergia, estabelecer e consolidar redes de relacionamento. São momentos únicos que podem ser potencializados quando inseridos em uma estratégia de desenvolvimento regional.
No Brasil as políticas públicas de estimulo e promoção da economia Criativa ainda são bastante modestas, com destaque para a criação em junho de 2012 no âmbito do Ministério da Cultura a Secretaria da Economia Criativa, que elegeu cinco grandes áreas de atuação:• Patrimônio (materiais e imateriais, museus e arquivos); • Expressões culturais (artesanato, artes visuais, culturas afro, indígena e populares);• Artes e espetáculo (dança, música, circo e teatro);• Audiovisual, livro e literatura (cinema e vídeo, e publicações);• Criações funcionais (moda, arquitetura, design e arte digital). Durante dois anos foi elaborado um ambicioso programa de trabalho denominado de Brasil Criativo, cujos planos, projetos e ações ainda não saíram, em sua maioria, do papel. Deste esforço ficou, contudo, a constatação do enorme potencial ainda pouco explorado que a Economia Criativa representa para o país, aguardando tão somente que as forças vivas da sociedade tomem em suas mãos a iniciativa de promovê-las.
Exemplos não faltam para demonstrar a importância de cada cidade revelar sua vocação, utilizar de seu potencial de mobilização e o desejo e aspirações de seus habitantes. Desde uma festa celebrando o aniversário da cidade atraindo de volta seus habitantes que imigraram em busca de novas oportunidades, mas que nunca se esqueceram de suas raízes, passando pelas festas religiosas ou festivais que se utilizam das expressões e vocações locais, são momentos de confraternização, mas também oportunidades de investimentos.
Parintins, com seu Festival folclórico; Blumenau com a Oktoberfest, Tiradentes com o Festival Gastronômico, Guaramiranga com o Festival de Jazz, Campina Grande com os festejos de São João, Gramado com o Festival de Cinema, Paraty com o Festival Literário, são apenas alguns exemplos de iniciativas bem sucedidas que colocaram estas cidades no mapa mundial de destinos turísticos diferenciados.
Mais do que uma janela de oportunidades para as empresas promotoras de eventos a Economia Criativa é uma nova forma de visualizar um futuro com menores impactos ambientais, com maior respeito pela diversidade cultural e pela valorização de nosso único e inalienável patrimônio que é nossa inteligência e capacidade criativa.
Para concluir gostaria somente de lembrar que as novas tecnologias que permitem a organização de ventos com a presença virtual dos palestrantes através de portais holográficos, embora sedutoras, sensacionais e praticas no sentido de viabilizar a participação de personalidades de difícil locomoção física, jamais substituirão a presença humana que propicia a troca informal de conhecimentos e experiência.
Os eventos, mais do que momentos de transmissão de ideias, novos conhecimentos e informações estratégicas são oportunidades impares para criar e estreitar laços de amizade e de cooperação, que viabilizam o novo paradigma do século XXI que a construção compartilhada de um futuro possível e desejável para todos.

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