Marcelo de Resende partiu ontem deixando um vazio na vida de muitos. Neste nosso país de pouca memória decidi fazer-lhe uma última homenagem escrevendo algumas palavras para compensar a falta.
Marcelo foi um dos pioneiros do design no Brasil tendo se graduado na Universidade Mineira de Arte, em Belo Horizonte, em 1966. Logo depois se mudou para São Paulo onde trabalhou na L`Atelier Moveis, desenvolvendo produtos inovadores, e premiados, como um mobiliário escolar.
No final de 1972 foi convidado por Luiz Carlos Monteiro para voltar para Minas e implantar e coordenar o setor de Design inaugurando o CETEC - Centro Tecnológico de Minas Gerais, onde permaneceu até 1985.
Em janeiro de 1973, apresentado por Cid Horta, fui convidado por Marcelo para integrar essa equipe, onde fiquei até 1979 quando consegui uma bolsa do CNPq para fazer meu mestrado em Design Urbano na Escola de Design de Lausanne, na Suiça.De volta ao Brasil em 1981 fui convidado por Itiro IIda, para Trabalhar com Gui Bonsiepe na implantação de um Programa Nacional de Design no CNPq. Uma das propostas dessa ação governamental era a criação de Laboratórios de Design no sul, sudeste e nordeste do Brasil. Indiquei Marcelo para assumir esse encargo no nordeste, onde primeiro foi para Campina Grande e depois para Recife, permanecendo de 1985 até 1987.
Com a transformação do Laboratório de Florianópolis em Laboratório Brasileiro de Design – LBDI convidei Marcelo para compartilhar comigo esse desafio, onde conseguimos, nos dez anos que lá permanecemos, trazer mais de 200 colaboradores, entre estagiários, bolsistas e pesquisadores, de todo o mundo.
De Florianópolis fomos para Fortaleza em 1997 criar o CDC - Centro de Design do Ceará, responsável pela primeira geração de designes Cearense.
Com o término do CDC voltamos para Floripa e criamos em sociedade a BR Design, junto com Carlos Alvarado.
Trabalhamos juntos em várias parte do Brasil, e também na Colômbia e no México, na maioria das vezes em projetos de design social.
Como designer as grande influencias de Marcelo foram primeiramente Dieter Rams, da Braun nos anos setenta e oitenta depois Ettore Sottsass, do Grupo Memphis a partir dos anos 90.
Já como ser humano Marcelo é que influenciou várias gerações com seu amor pela vida e por sua capacidade de atrair pessoas ao seu círculo de amizades, para os quais sua casa sempre permaneceu de portas abertas todas as horas do dia.
Seu humor crítico, sua sinceridade nua e crua, e sua aguda consciência social e política, aceitava e convivia com as diferenças, acolhendo e respeitando a opinião de todos.
Cozinheiro amador e festeiro profissional pagou com um fígado seus excessos, mas não lhe tirou o prazer de viver e foi levando como pode até os oitenta anos.
Uma vida longa, cujo maior patrimônio foram as dezenas de amigos espalhados pelo mundo, que hoje choram sua partida. Fomos companheiros de projetos, sonhos e utopias durante cinquenta anos, cujas histórias dariam um livro de boas recordações que tenho o privilégio de tê-las comigo,
Vá em paz companheiro e dê um abraço no Cadinho, no Marcinho, no Chiari, no Dinho, no Claudio, no Cid, no Éolo, no Veveco e em tantos outros que te esperam pra tomar uma do outro lado, já que por lá isso deve estar liberado.
Na foto acima, de 1974 no CETEC, da esquerda para direita: Cadinho, Marcelo, Eu, Taquinho e Chiari.
