4 de junho de 2015

Até 1987, em Canasvieriras a forma seguia função. Depois disso a forma passou a seguir a cultura.

Quando chegamos, eu e Marcelo, em Canasvieiras, vínhamos não da vida interplanetária comum nas academias, nem da prática profissional em contextos exógenos. Vínhamos de uma ralação, de quase duas décadas, tentando fazer design, não no centro, mas na periferia do Brasil.
Trazíamos conosco a esperança de um design socialmente mais justo e culturalmente mais responsável, demonstrada no primeiro projeto de promoção de um artesanato local no país. “Santa Catarina – Produto de referência cultural” foi mais que um projeto demonstrativo do design social. Foi à ação pioneira que inspirou a criação dos programas de aproximação do design com o artesanato no Brasil e Colômbia. Projeto esse, que vinha complementar renda nas colônias de pescadores, aproximados com o resgate das embarcações tradicionais, que começamos a fazer. Dessa época ainda dorme no Museu do Mar de São Francisco a primeira baleeira de santa Catarina, em escala 1.5, realizada nas oficinas do LBDI, a partir de instrumentos de medição específicos desenvolvidos para esse fim.
O Núcleo de Bio Design, inédita aproximação do design com a área de saúde, baseada nas demandas dos postos de atenção primária em saúde pública, era muito mais importante que as discussões acadêmicas sobre moderno ou pós-moderno. Numa daquelas noites, um de nós acertou na mosca ao questionar a irrelevância dessa discussão, argumentando que, no Brasil, o design ainda estava na Era Pré-Jeca. Só rindo.
Esse era o espírito que queríamos transmitir aos recém-chegados, de todas as partes do mundo. Ser responsáveis dentro de uma aparente irresponsabilidade. Isso irritava o establisment local, que sempre preferiu suas origens locais para nelas se espelhar. Para mim isso explica a assimetria nas histórias contadas sobre o LBDI, tanto no livro da Ethel como na exposição da Bienal.

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