27 de agosto de 2011

O Design, a distância e o valor.


Aprendi que um objeto quando visto de longe dele percebe-se primeiro a forma. Com a proximidade suas cores e elementos de distinção e somente de muito perto seu verdadeiro conteúdo. Esse mesmo raciocínio serve para as pessoas.

A distância entra uma pessoa e outra pessoa, ou a um objeto, é um dos fatores que define o modo como as vemos, e portanto o valor que a ela atribuímos.

Essa distância pode ser temporal, física ou emocional.

A distância temporal diz respeito às coisas passadas, ou fora de tempo, e por isso mesmo ganham outra percepção. Essa distância em geral apaga defeitos e impropriedades e valoriza os atributos e qualidades. “...É a distância que faz o mito” disse Humberto Eco, na Ilha do dia anterior.

As pessoas se tornam boas depois de mortas, algumas viram mitos, outras conseguem congelar sua imagem no tempo. As atrizes de cinema guardam sempre esta distância temporal. Quando as vemos já não mais são. Assim como todas as experiências vividas. Existem apenas na memória ou como imagem.

Produtos da vida cotidiana ganham com a distância temporal um valor simbólico, que por sua vez define o desejo de possuí-lo e o “quantum” de esforço que estamos dispostos a fazer com esse objetivo. Quanto mais raro ou exclusivo for um objeto, ou serviço, maior seu valor de mercado.

A distância física diz respeito ao tempo real e as possibilidades nele presentes. É no momento agora que as coisas existem de modo tangível. Essa distância pode estar ao alcance dos olhos, ou alcance da mão. Ao alcance dos olhos a internet tratou de suprir as distâncias imensuráveis. Hoje, pessoas e objetos interagem em tempo real embora fisicamente distantes. Podemos visitar outros lugares, analisar todas as ofertas de produtos e serviços, conhecendo-os muito mais demoradamente e detalhadamente, se essa distância física não existisse.

A distância ao alcance da mão é aquela mensurável pelos meios que dispomos, sejam esses geográficos ou econômicos. Ao alcance da mão não é uma distância medida em centrimentos, metros ou quilometros. É medida pelo desejo e capacidade de superá-la.

Esses desejos, quando percebidos por quem oferece uma resposta satisfatória, definem o valor dessa oferta. Essa é a lei básica dos mercados, e vale para tudo: Quanto maior o desejo maior o valor. O design, o marketing e a publicidade, conscientes disso, criam mitos e objetos de alto valor simbólico

Esse valor simbólico, que incorpora as percepções subjetivas e intuitivas, que é fruto da experiência, da convivência, da fruição, da estética e acrescido de vínculos afetivos, transforma-se em valor emocional, que é finalmente o principal parâmetro para a definição do valor real das coisas, pessoas e lugares. Quando o valor emocional é forte, relativizam-se os conceitos de tempo e distância, que desaparecem ou perdem sua importância.

O design, enquanto método, busca na distância crítica separar as muitas dimensões que compõem o valor de um produto ou serviço para melhor entender as motivações humanas, suas expectativas, desejos e necessidades.

2 comentários:

  1. Você foi nota dez em sua abordagem; belo texto para refletir sobre os valores e as dimensões que projetamos em nossa vida. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. "Quando o valor emocional é forte, relativizam-se os conceitos de tempo e distância, que desaparecem ou perdem sua importância."

    Acho que entendi o porque da Torre Eiffel no início! :)

    Parabéns! Mais um belo post e mais uma reflexão interessante!

    ResponderExcluir

Obrigado por deixar seus comentários.