20 de janeiro de 2011

O que o design brasileiro revela sobre nós?

Um produto, qualquer que seja sua natureza, industrial ou artesanal, deve possuir um vínculo cultural, seja com relação aos seus destinatários seja com relação à sua origem.

A idéia de um produto universal, que possa ser usado satisfatória e indistintamente por qualquer consumidor do planeta é uma quimera que somente pode ser conseguida por grandes corporações com penetração e reconhecimento no mercado mundial. Mesmo assim estes produtos trazem consigo uma linguagem formal e visual própria e elementos simbólicos que os distingue dos demais. Esta lógica se insere na teoria dos 80/20 muito em voga nas ultimas décadas do século passado. De acordo com esta teoria 20% dos produtos dominavam 80% do mercado; 80% da riqueza do planeta estariam nas mãos de 20% da população; 20% dos veículos detinham 80% da informação e assim sucessivamente.

Nesta segunda década do século XXI o que se desenha no horizonte do provável no mercado mundial, agora dominado pelas transações eletrônicas, é a teoria da Cauda Longa proposta por Chris Andersen que explica o surgimento de dezenas de milhares de novos nichos de mercado, criando igual número de novas janelas de oportunidades.
Somam-se a isso as novas exigências ditadas pela Economia da Experiência que privilegia bens e serviços de caráter mais exclusivos ou de forte conteúdo simbólico e temos um panorama onde os produtos centrados na cultura de origem ganham expressivo diferencial competitivo. Este é o caminho que tem sido perseguido pelas empresas conscientes que a aceitação e o preço de um produto é determinado pela quantidade de satisfação que provoca no usuário e/ou consumidor e não mais pelo esforço, matéria prima e insumos invertido em sua produção.

As pesquisas conduzidas por Domenico de Massi em 2002 e publicadas pelo SEBRAE sob o titulo de “Cara Brasileira” define, argumenta e defende o uso dos elementos que configuram nossas especificidades culturais como sendo nosso grande patrimônio intangível, na criação de uma oferta qualificada, tanto para o mercado interno, como para o mercado externo. Exemplos demonstram que muitos produtos obtêm sucesso no mercado justamente porque possuem essa densidade cultural como é o caso da moda, do artesanato, da música, da cachaça, e de certos produtos feitos com matérias primas específicas de nossos ecossistemas. Na introdução da pesquisa supra citada argumenta-se que “o caráter hospitaleiro do brasileiro; a exuberância do país, onde tudo é abundante, sobretudo o sentimento, as cores; o fato de ser uma nação jovem, criativa, tropical e abrigar a convivência pacífica de diferentes raças e culturas – são todos aspectos norteadores de uma estratégia de valorização do Brasil e do seu segmento produtivo”.

Porém, a pergunta/titulo deste artigo, para ser respondida, deve separar o geral do particular. Neste sentido a grande maioria dos produtos criados, desenvolvidos e produzidos no Brasil ainda são reproduções imperfeitas de produtos consagrados no mercado mundial. Os investimentos sistemáticos em inovação estão presentes somente em menos de 2% das empresas brasileira com mais de dez funcionários, percentual irrisório quando comparado com os países industrializados, onde mais de 50% de empresas que compõe seu parque industrial são comprometidas com a inovação e conseqüentemente com o design.

Estamos no meio de um processo histórico de construção de uma nova cultura material, onde a forma não segue mais a função e sim a emoção que pretende provocar nas pessoas. Essa tem sido a tônica das discussões sobre o que devemos fazer diante das novas oportunidades que estão surgindo com a crescente visibilidade do Brasil no cenário mundial, potencializado pela Copa do Mundo de 2014 e pelas Olimpíadas de 2016. O desafio proposto é: surpreender, encantar e emocionar o mundo.

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