27 de novembro de 2010

Mensagem aos designers Chilenos

Na impossibilidade de minha presença física na cerimônia de lançamento de um projeto de inserção do design na produção artesanal em uma determinada localidade do Chile, deixo aqui as palavras que diria nesta ocasião.

Começaria lembrando que a primeira coisa que um designer deve fazer ao decidir trabalhar com uma comunidade artesanal é despir-se do desejo narcisista de passar para a posteridade como um criador de objetos.

Desenhar um produto artesanal é compartilhar com os artesãos de seu processo de produção, cada um aportando seu saber. E o saber do artesão não é somente sua técnica. É principalmente o saber que possui referente à cultura do lugar onde vive. Esta é sua riqueza que deve ser extraída, re-valorizada, re-significada, e novamente por eles próprias percebida como algo seu, que lhe pertence, e que isso tem valor. O artesão não é uma simples mão de obra. Barata ainda por cima. É o sujeito e senhor de um lugar, no tempo, na história, na geografia.

É precisamente isso o que querem os compradores de bens simbólicos. Produtos com a cara do lugar, com uma história para contar. Quando os produtos artesanais incorporam em sua superfície ou forma elementos do repertorio iconográfico local estes produtos estão fazendo uma declaração de pertencimento a um determinado contexto e momento. Ao trazerem uma etiqueta com o nome e referencia do artesão que o produziu e do local de origem, estão criando uma certidão de nascimento de inquestionável valor.

Relacionar estes produtos com outros elementos do repertorio cultural regional é também um modo de extrapolar seu valor puramente utilitário para se transformarem em bens simbólicos, direcionado a um público consumidor com maior poder de compra e maior nível de exigência. Um bom exemplo são os produtos de cerâmica concebidos e produzidos para ser o melhor modo de preparação e de apresentação da gastronomia regional, geralmente desprovida deste tipo de suporte apropriado que lhe empreste valor.

Esta parceria entre designer e artesão não pode existir somente na fase de concepção dos produtos. Deve permanecer e transformar-se em um vinculo quase permanente de colaboração. Durante a produção muitos problemas acontecem que necessitam de ajustes e adequações. Sem a presença do designer, as soluções que forem adotadas podem desvirtuar o produto de seu conceito original. A sutil diferença entre o original e criativo, do exagerado e ridículo reside nos detalhes. Basta uma cor mal escolhida, um verniz demasiado brilhante, um adorno sem função, para afastar o produto de seu potencial comprador.

Conceber um novo produto é incorporá-lo a uma família já existente. Ele deve ser diferente, porém sem perder as características de seu lugar de origem. Às vezes basta uma pequena mudança incremental para dar nova vida a um produto obsoleto ou em decadência comercial. Outro detalhe fundamental que os artesãos quase nunca se preocupam é com a embalagem, principalmente quando se trata e produtos frágeis como a cerâmica. Uma embalagem bem concebida além de proteger o produto agrega valor e informa a origem, elementos valorizados pelos turistas.

Concluiria dizendo que um designer consciente de seu papel na sociedade encontra uma enorme satisfação e gratificação quando percebe que trabalho contribui para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Esse é um objetivo que deve permear sempre nossas escolhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por deixar seus comentários.