18 de julho de 2010

Setor 2.5 ou quarto setor

Por uma questão filosófica acredito que toda tentativa de conceituar algo é aprisionar uma idéia com palavras. Contudo é necessário estabelecer limites mínimos e máximos para localizar este ‘algo’ e com isso dispor de um parâmetro de compreensão e análise.

Convencionou-se designar as atividades econômicas humanas em três grandes grupos: setor primário (produção), secundário (comercio) e terciário (serviços). Contudo, isso não inviabilizou existirem empreendimentos que atuam simultaneamente nos três setores. Esta classificação em desuso foi substituída por uma nova que divide os três setores por finalidade de resultados. Deste modo o primeiro setor é o governo, o segundo setor as empresas privadas que visam lucro e o terceiro setor as organizações sociais sem fins lucrativos. Este terceiro setor nasceu dos empreendimentos filantrópicos, sustentados com recursos de doações, o que torna difícil sua existência, tendo de disputar apoio governamental ou privado com mais de 300 mil organizações existentes no Brasil.

Deste vazio intersetorial surgiram empreendimentos sociais que, para se manterem, passaram a ofertar produtos e serviços no mercado. Para este grupo, os analistas acadêmicos propõem a expressão “setor dois e meio”, ou setor “2.5”. Uma nova nomenclatura que atende aos interesses dos legisladores e aos organismos de financiamento com recursos públicos. Mas ao mesmo tempo cria a oportunidade para as transferências ilícitas de verbas destinadas a saúde, educação, saneamento, transporte, segurança, entre outros serviços essenciais a população.

A depender do seu tamanho, este novo setor, poderá aspirar a condição de uma expressão mais correta, ou “quarto setor” pois parece ser esta a tendência, a de uma fronteira cada vez mais tênue entre lucro e objetivo sociais como pensam milhares de novos empreendedores.

Um comentário:

  1. Como sempre, tudo o que você escreve nos ajuda a organizar o pensamento e mesmo discordando, em partes, a tua fala é positiva. Por isso, falo sério quando brinco que você é o nosso mestre. Mestre não só ensina, instiga.

    O meu discordar, em relaçao ao que escreveu está mais relacionado ao fato de esse assunto ainda estar despertando discussoes do que estar propriamente definido. Nao vejo isso como problema, ao contrario, gosto das coisas que estao sendo construídas e é nesse espaço que se abrem possibilidades para novos caminhos. Pelo menos do que já pesquisei venho acreditando que o tal setor 2.5 vem justamente para dirimir as possibilidades de uso ilícito aberto pelo terceiro setor. Lógico, assim como o terceiro setor nasceu de um conceito que busca a soluçao de problemas sociais, bem intencionado, pode ser usado de forma irregular, não é apenas uma nova denominaçao que vai resolver a situaçao.

    Acredito que a transparência em todos os níveis de atuaçao de um empresa vai estabelecer o seu espaço no mercado e suas intençoes, embora as clasificaçoes sejam necessárias para que ela seja identificada entre seus pares. O que vi de interessante nesse movimento é o fato de ele ser mais pragmatico e uma especie de amadurecimento de tudo o que já vem sendo aplicado, em termos de empresas sociais.

    Bom, é mais ou menos isso que penso. Tenho sentido muito interesse em me aprofundar nesse assunto e me sentir mais segura para defender essa transiçao entre o assistencialismo e o investimento com responsabilidade partilhada, dentro das instituiçoes em que nossa empresa vem trabalhando.
    POr isso, obrigada pela atençao, ajudou muito com certeza.

    Abraços

    Elga

    ResponderExcluir

Obrigado por deixar seus comentários.