27 de setembro de 2018

As origens do Design no Ceará

Em 1996 o então Secretario de Cultura do Ceará, Paulo Linhares, empreendeu um grande esforço no sentido de implantar uma nova política cultural baseada no estimulo à industrial de bens simbólicos de alto valor agregado, inserindo em seus planos a criação de uma Escola de Design no âmbito do Centro Dragão do Mar. Neste sentido, diversas instituições de ensino foram visitadas e propostas foram apresentadas por professores de uma conceituada Escola de Design do Rio de Janeiro e da Itália. No entanto, ambas foram rejeitadas. Buscava-se uma proposta diferenciada e adequada ao Ceará, naquele momento. Uma visita da Subsecretaria de Cultura do Ceará ao Laboratório Brasileiro de Design / LBDI, em Florianópolis, abriu a perspectiva para uma colaboração, tendo em vista, principalmente, as experiências pioneiras de ensino que estavam sendo testadas em Santa Catarina. Assim formulamos um projeto de escola alternativa contando com a intermediação da arquiteta Janete Costa.
Partimos dos dados obtidos com a pesquisa “Oferta e a demanda de Design no Nordeste do Brasil” realizada por minha empresa de consultoria por encomenda do SENAI/Piauí. A carência de profissionais qualificados disponíveis no Ceará não correspondia à demanda reprimida existente. Nossa proposta não pretendia criar (naquele momento) a 68a Escola de Design do país. Defendiamos a criação de uma escola pioneira, inovadora em sua forma e conteúdo, livre das normas e exigências do Ministério da Educação e dos sistemas formais de ensino, sintonizada com as mudanças do mercado e as necessidades do nordeste. Capaz de oferecer ao mercado respostas em um espaço de dois anos.
Para desenhar as bases desta nova Escola de Design convidei um pequeno grupo de professores que reunidos durante uma semana em Fortaleza, estabeleceram as bases do projeto pedagógico. Participaram desse grupo: Augusto Morello, Fundador do ICSID. Presidente da Trienal de Milão. Um dos pioneiros do design Italiano. Editor e critico da Revista Estilo e Industria. Falecido em 2001. Luis Rodriguez Morales; designer Mexicano; PhD. Viveu e trabalhou no Japão, Inglaterra, Dinamarca, Holanda., Cuba e Brasil. Um dos mais consagrados autores sobre teoria e ensino do design na América Latina. Joaquim Redig; designer; professor da UFRJ. Autor de três livros sobre ensino do Design. Romeu Damaso; Professor da Escola de Design da UEMG. Falecido em 2011 Lia Mônica Rossi; MsC; Professora no Curso de Design da UFPB. Falecida em 2018
Este grupo propôs a criação de uma escola cujo ensino fosse fundamentado em três pilares: •Domínio de linguagens •Compreensão de fenômenos •Aplicações na realidade.
Foi sugerida uma grade curricular com quase 100 disciplinas de modo a dar a mais ampla visão possível do universo do design, sem concentrar-se em nenhuma especialidade, contrariando assim as recomendações do MEC, porém indo de encontro ao modelo de ensino que estava sendo adotado nas escolas de design mais avançadas do mundo.Esta escola não formaria designers Industriais, gráficos ou de interiores e sim DESIGNERS. Cidadãos conscientes de seu papel na sociedade e não mais fazedores de produtos e imagens apenas para induzir o consumo. Ao final de cada matéria ou disciplina ampliava-se a visão dos alunos, abrindo novas perspectivas e novos campos de intervenções. A organização das disciplinas pressupunha a criação de uma espiral de competência em graus crescentes de complexidade.No ultimo período seriam concentrados esforços no sentido de preparar os alunos para o mercado de trabalho constituindo eles próprios suas empresas de design. O circulo se fecharia com a criação da primeira Incubadora de Empresas do país de modo a garantir a inserção destes jovens designers no mercado de trabalho.
Devida a escassez de professores com experiência em design no Ceará decidimos concentrar as disciplinas em bloco viabilizando assim a vinda de professores de outros estados do Brasil, ou mesmo do exterior. Como estes professores seriam remunerados por hora-aula e sem vínculos poder-se-ia pagar um valor mais atraente. Para cobrir as despesas com hospedagem e alimentação a SECULT valeu-se da negociação de dívidas de impostos do setor hoteleiro com o Governo do Ceará. Para cobrir as despesas de passagens e honorários foi montado um projeto que foi aprovado pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT do Ministério do Trabalho. Recursos adicionais, incluindo bolsas para professores visitantes, foram negociados e obtidos com outras instituições, tais como: CNPq e SECITECE que permitiram adquirir computadores e equipamentos para as Oficinas. Estas decisões permitiram trazer professores da Alemanha, Bélgica, Holanda, Argentina, Chile, Colômbia, México e Estados Unidos, fazendo com que o time de professores do CDC não encontrasse paralelo em nenhuma outra escola de design do Brasil. Em disciplinas cujo conteúdo não eram específicos de Design foram convidados os melhores professores locais entre eles Claudia Leitão, que posteriormente foi Secretaria de Cultura do Ceará.
O processo de seleção consistia em um preparatório com cujo numero de alunos era o dobro ou o triplo da vagas. Durante dois meses, avaliações semanais de desempenho, permitiam uma seleção dos mais talentosos.
Em artigo publicado em uma Revista Internacional a pesquisadora da Universidade da Florida, Maria Bernal, apontou o CDC como uma das duas experiências de maior sucesso no ensino de design na América Latina, ao lado da Universidad de las Américas em Puebla no/ México.
Os principais elementos de diferenciação do CDC com as demais escolas de design podem ser assim resumidos: •Preocupação em capacitar para o mercado e não para a docência (que exige diploma): •Sistema de avaliação baseado em afirmações lingüísticas e aplicação multilateral (Todos avaliam tudo e a todos); •Aprendizado baseado na experimentação e em projetos reais; •Foco nos elementos da cultura regional, porém cotejados com as tendências mundiais; •Apoio financeiro (isenção de pagamento) somente para os que necessitam e com um processo seletivo baseado no mérito. •Acompanhamento pedagógico por profissionais com larga experiência docente de projeto, fazendo a ligação entre conteúdos.
Deste modo duas turmas foram concluídas entre 1997 e 2000. A saída de Maurice Capovilla, da Direção do Instituto Dragão do Mar em meados de 2000 significou o princípio do fim do projeto inicialmente idealizado. As mudanças de orientação do Dragão precipitaram minha saída da direção do CDC em julho de 2001 assim como do coordenador pedagógico Marcelo de Resende. O novo diretor do CDC, Álvaro Guillermo, tentou manter as propostas iniciais, mesmo diante da escassez de recursos e dos novos métodos de administração. A expectativa de todos era por uma mudança do comando da SECULT com a eleição de um novo Governador que poderia então permitir retomar os rumos inicialmente traçados. As mudanças efetivamente vieram com o novo governo porem não aquelas esperadas. O Instituto Dragão do Mar foi extinto e com ele o projeto do Centro de Design do Ceará. Um dos argumentos utilizados nos discurso oficial era o fim dos recursos do FAT e necessidade de adequar o curso à realidade de um Estado pobre. A proposta de transferir o Curso de Design para o SENAC significou uma radical mudança do modelo de ensino até então defendido. O fim de uma utopia. Mais uma vez, a vitória do formalismo acadêmico sobre a ousadia e a inovação, exatamente os princípios norteadores do design. Durou pouco esta experiência. A terceira turma nunca conseguiu concluir seu curso.
Eduardo Barroso Artigo redigido em 2003 e revisado em 2018.
Relação (não exaustiva) dos professores do CDC nos primeiros anos do curso
Adélia Borges Grad. MUBE São Paulo
Alberto Ireneu Puppi PhD UFPR Curitiba
Alberto Rossa Grad. Universidade de Guadalajara Guadalajara / MX
Alvaro Guillermo Guardia São Paulo
Alvaro Hardy MsA UFMG Belo Horizonte
Amilton Arruda MsA UFPE Recife
Antonio Jorge Fonseca MsA ONDI Havana / CU
André Dalmazzo Grad. UFSM Santa Maria
Arno Vogel PhD FLACSO Rio de Janeiro
Augusto Morello Grad. ADI / ICSID Milão
Bia Martinez MsA São Paulo
Bernadete Teixeira MsA UEMG Belo Horizonte
Bernardo Krieguel Grad ESDI Nova York / USA
Carlos Alvarado Dufour MsA Azcapotazalco C. México
Celio Teodorico Santos MsA UDESC Florianópolis
Charles Bezerra MsC UFPE Recife
Cláudia Leitão PhD UECE Fortaleza
Cybele Cunha Lauande Grad. UFMA São Luís
Daniel Borgaro MsA Universidade Iberoamericana C. México
Darlan Ferreira Moreira Grad. CDC Fortaleza
Dirk Jacobs MsA HFG Antuérpia / BE
Eduardo Araújo MsC UFCG Campina Grande
Eduardo Barroso Neto MsA LBDI Florianópolis
Gissel Iza Saffar MsA UEMG Belo Horizonte
Guinther Parschalk MsA São Paulo
Gui Bonsiepe PhD CNPq Florianópolis
Helcio Noguchi Autod Rio de Janeiro
Henry Benavides MsA Bahia Design Salvador
Janet Robinson MsA ESDI Rio de Janeiro
Joaquim Redig Grad. PUC - Rio Rio de Janeiro
Jose Dias MsA UFRJ Rio de Janeiro
Jose Korn Bruzzone MsA Universidad Del Pacifico Santiago
Juan Carlos Capa MsA Madrid ES
Júlio Silveira Téc. Fortaleza
João Calligaris MsA UDESC Florianópolis
Jorge Montaña Grad. Bogotá / CO
José Marconi Bezerra MsA UFPB C. Grande
Lalada Dalglish MsA São Paulo
Lacidez Marques MsA Phillips Eindhoven / HL
Lia Mônica Rossi Grad. UFPB C. Grande
Luis Rodríguez Morales PhD Universidade Iberoamericana México
Luis Saralle MsA UNC Mendoza AR
Majoi Aina Vogel Grad. UFRJ / CDC Rio de Janeiro
Manoel Acosta Téc. Artesanias de Colômbia Bogotá / CO
Maria Regina Alvarez MsA UEMG Florianópolis
Marcelo Resende Grad. LBDI Florianópolis
Martha Alvarado MsA UAM México
Milvia Perez MsA ONDI Havana Cuba
Pedro Alan Martinez MsA Cuernavaca / MX
Priscila Farias MsA São Paulo
Roberto Bezerra MsA UFCE Fortaleza
Romeu Dâmaso Grad. UEMG B. Horizonte
Solange Coutinho MsA UFPE Recife
Tatiana Telles Ferreira MsA UFSC Mexico
Terezinha Maciel MsA UECE Fortaleza

Um comentário:

  1. Olá meu povo!!! Muito bom ler e relembrar das pessoas na qual compartilharam seus conhecimentos conosco, alunos do CDC...me adicionem!!!!

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