Recentemente fiz uma viagem por sete países da Europa. Com
meu olhar de designer e uma acentuada atração por artesanato acabei comprando
coisas que nunca imaginei. Dentre elas alguns imãs de geladeira, satisfazendo
uma nova curtição iniciada no último período que morei em Brasília.
Sempre achei de gosto duvidoso essa mania de usar a porta de
geladeira como painel de avisos e recordações. Aceite recentemente o fato que a
porta da geladeira (ou do freezer) é um bom local para nos lembrar, várias
vezes ao dia, fragmentos de coisas e momentos únicos e especiais. São pequenos
objetos ou imagens que fazem referencia as nossas gostos, preferências
e memórias.
Entretanto estes souvenires, durante tanto tempo por mim
desprezados, ganharam um novo status. Alguns são pequenas obras de arte por sua
beleza e qualidade. O mais impressionante é que estes pequenos objetos custam na Europa o
mesmo preço que os produtos similares vendidos no Brasil, com a diferença que
os nossos souvenires são, em sua grande maioria, de uma ingenuidade simplória, feitos
de biscuit ou de gesso de qualidade duvidosa, explorando um exaustivo repertório de lugares comuns,
de estereótipos vulgares ou alusivos aos times de futebol.
Em virtude de seu preço acessível a qualquer bolso, estas
pequenas lembranças poderiam representar um ganho expressivo para artesãos melhor preparados, desde que saibam representar com conteúdo e qualidade nossas
singularidades culturais de modo inovador e sedutor.
Caixas de fósforos transformadas em oratórios minúsculos
para os devotos; fotos, reproduções de pinturas, desenhos, rótulos tradicionais
e etiquetas de produtos ícones colados sobre papel imantado; representações da
fauna e da flora locais sobre metal esmaltado; tabelas e avisos sobre o perigo
dos excessos; testemunhos de viagens e descobertas, entre outros, encontram na
porta da geladeira um local privilegiado para serem vistos constantemente e com
isso provocarem uma recorrente reflexão sobre sua função, sobre nossas vidas e
sobre nossas escolhas.