25 de novembro de 2011

Fórum de Inovação das Américas - FIA/11


Em meu pronunciamento no FIA/11 retomei alguns pontos abordados na palestra de Manizales, procurando enfocar a questão da inovação sob três dimensões distintas e complementares. A dimensão cultural, a temporal e a tecnológica.

Na dimensão conceitual procurei aprofundar os argumentos que questionam o uso do design simplesmente como “ferramenta” do processo de inovação.

Entendo a inovação como sendo a absorção do mercado (ou pelas instituições) de um produto, processo ou serviço que até então inexistia. Deste modo atribuo o mesmo significado de inovação ao do design, traduzido no seguinte enunciado: “Design significa projeto, que por sua vez significa a construção de novas realidades, que significa inovação, que significa design”.

Porém, esta visão ampliada do design se fundamenta em uma abordagem holística dos problemas a serem solucionados, distanciando-se da compreensão popular do design como uma atividade cosmética, voltada exclusivamente para a fruição estética dos produtos, ambientes ou mensagens, ou no outro extremo, na visão pragmática e cartesiana do funcionalismo germânico cuja máxima é o enunciado “form follow function”. Tanto as qualidades estéticas como as características funcionais são fundamentais em um produto, mas não são as únicas e nem são o objetivo final do design.

Para contextualizar a evolução do design no mercado mundial em geral, e no mercado latino, nos últimos 50 anos, relacionei algumas das especializações que foram sendo criadas fruto de uma crescente pressão de demanda. Existem hoje centenas de especializações do design, tendência esta que deve subsistir nos próximos anos, tendo como frente de oposição a corrente que advoga o fim do design como profissão especifica e a absorção do Pensamento do Design (Design Thinking) por inúmeras outras profissões, especialmente pelas engenharias e pela administração.

Como exemplo deste argumento, que o pensamento do design pode ser aplicado em qualquer ambiente, apresentei alguns projetos de inovação na gestão pública que estamos implementando no CNPq, em especial, a Pesquisa de satisfação e eficiência no trabalho, Os Jogos Internos, O circulo da Saúde e o Passaporte Cultural.

Todos esses projetos obedecem ao fluxo metodológico denominado de Círculo da Inovação e do Design, cujo uso foi consagrado pelo SEBRAE e aplicado em alguns de seus programas. Esse modelo tem como ponto de partida a compreensão das demandas e necessidades do mercado (ou dos usuários) e as fortalezas e deficiências da oferta (ou dos concorrentes) para, somente então, iniciar o desenvolvimento de novos produtos e processos.

Na dimensão temporal, procurei relacionar os vínculos entre inovação e cenários futuros, cuja resultado será fruto de uma visão estratégica, que por sua vez orienta o gradiente de mudanças que se pretende alcançar. Mudanças incrementais ou mudanças radicais é que determinam a concretização de cenários futuros, que podem acontecer de modo simultâneo e não excludentes. Tanto cenários otimistas de fartura, abundância e de plena realização humana, quanto cenários desiguais, de escassez e sofrimento deverão coexistir no futuro, pois não existe ainda um desejo comum.

As mudanças incrementais permitem visualizar cenários prováveis pela simples projeção de da trajetória das ações e resultados pregressos. Já cenários desejáveis implicam em mudanças radicais, ou revolucionárias, na medida que estão relacionadas com mudanças comportamentais e, portanto, de ordem cultural.

O questionamento que proponho é sobre o futuro que queremos e os estilos de vida que aspiramos. Se nosso modelo de qualidade de vida é o “Americam Way of Life”, para que todas as pessoas do mundo tenham o mesmo, serão necessários recursos equivalentes a sete planetas Terra.

Por fim, sob a dimensão tecnológica tomei como paradigma a aceleração e incorporação de novos conhecimentos, potencializados pelo desenvolvimento de pesquisas em rede. Isso significa termos hoje, para cada ano de esforço coletivo e consorciado, um avanço tecnológico corresponde a cinco anos anteriores. Portanto, dentro de 10 anos 80% dos produtos com os quais estaremos convivendo cotidianamente hoje sequer foram inventados.

O desafio proposto é considerar nos processos de inovação, além dos requerimentos de ordem econômica e tecnológica, as questões de ordem social, cultural e ambiental.

Concluí mencionando parte da herança intelectual deixada por Steve Jobs, resumida em seis pontos principais, a saber:
1. Valorizar as coisas feitas à mão.
2. Focalizar. Definir o público-alvo para cada produto ou serviço.
3. Empatia. Conhecer e procurar atender os desejos dos clientes.
4. Agregar valor e qualidade (que seja percebida pelas pessoas).
5. Fazer as coisas para que sejam fáceis de serem usadas (amigáveis).
6. Tornar tudo o mais simples possível.

5 comentários:

  1. Hola Eduardo. Como siempre me da gusto leer tus textos, conocer tus ideas que siempre provocan mil ideas más. Creo que la trilogía que presentas es muy interesante, veo en ella trazos que van desde Steve Jobs hasta Dieter Rams. En estos tiempos globales es importante ver, oir y aprender de los demás. Al tiempo es necesario llevar nuestra voz y los acentos de cada región. Felicidades espero compartir más de tu trabajo. Un fuerte abrazo, Luis Rodríguez

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  2. Adorei seu texto, ele tem tudo a ver com o trabalho que estou fazendo na APCI. Só fiquei sem entender por que o Steve Jobs deixou como herança o valor pelas coisas feitas à mão. A meu ver o que ele deixou de herança foi uma geração viciada em objetos tecnológicos (a minha) e abriu a porta às gerações mais antigas para compartilharem essa paixão através de um design amigável onde a usabilidade é a palavra-chave. Desenvolve mais um pouco essa sua idéia porque eu fiquei curiosa! beijos

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  3. Parabéns Eduardo, adoro seus pronunciamentos! Você tem o dom de falar de uma forma simples e direta, mas de maneira plena. Sempre me identifico muito, pois vc nunca esquece das dimensões humanas. O desing ligado ao fazer manual, particularmente as técnicas artesanais (que é a minha área na Ceart e na agalmajoiaobjeto) é sempre bem contemplado em sua fala. Considero de grande importância, a evolução do design sem perder a preocupação com a identidade.

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  4. Olá Professor,
    Eduardo faz um tempo que não nos falamos, mas quero que saibas, que teus ensinamentos foram e continuam sendo de extrema valia em minha vida profissional,ótimo ponto de vista sobre a evolução do design.
    obrigado por tudo, um abraço do amigo do Norte Jaime Lisboa

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