18 de maio de 2010

A realidade do artesanato não corresponde ao quadro que pintam

Grande parte daqueles que me seguem neste blog o fazem por interesse nos temas relacionados com o artesanato. Portanto, para estes escrevo hoje, mais como um desabafo do que como um especialista dando conselhos sensatos. Querendo ou não temos de avaliar o que representaram, nestes últimos anos, os investimentos realizados por organismos públicos e privados para o apoio ao artesanato e, o quanto isso representou em mudanças qualitativas na vida dos artesãos. Antes de tudo cabe lembrar que, atualmente, a renda média mensal na atividade artesanal não alcança um salário mínimo. Por outro lado podemos estimar, por baixo, que o investimento médio anual em cada estado da Federação não foi inferior a um milhão de reais, nos últimos dez anos. O melhor exemplo desta assimetria entre custo x beneficio são as feiras de artesanato. Os recursos necessários para realizar uma feira nacional de artesanato jamais se justificam frente às vendas realizadas. Se este dinheiro fosse transformado em poder de compra, seria muito mais relevante o resultado apurado, mudando o panorama de penúria que vive a atividade artesanal no Brasil. É certo que um dos maiores problemas do artesanato brasileiro é o escoamento da produção. Porém as feiras somente garantem a desova de estoques em venda de varejo. Os que conseguem firmar contratos futuros são uma exceção à regra que não ratificam os discursos de justificativas. Vivemos inventando a roda sem buscarmos apreender com outros países. Na vizinha Colômbia existe uma das maiores feiras artesanais do mundo, evento realizado sempre no mês de dezembro. Trata-se da “Expoartesanias”. Depois de uma década e meia constatamos seus erros e acertos sendo o mais expressivo seu faturamento diário beirando um milhão de dólares. Produtos inovadores focados na demanda interna – com a cara colombiana - parece ser seu segredo. Nós continuamos mirando na Europa, tentando interpretar o gosto alheio. Não podemos nunca nos esquecer que o artesanato tem um vinculo e compromisso com a cultura de origem, cujo consumo seja motivo de orgulho e admiração, antes de tudo, dos brasileiros.

3 comentários:

  1. Conheço e apoio esse discurso! Você sempre muito coerente e sensível com a verdadeira realidade das coisas!
    É amigo, é por isso que adoro quando posso trabalhar com você. Além de ser muito divertido, é claro! Rs.
    Beijo

    ResponderExcluir
  2. Fazia tempo que eu não passava por aqui, mas hoje, embora tarde, passei na hora certinha, tudo o que li me soou tão familiar como um acordo fechado entre a razão e a emoção. Acabo de voltar da 5ª edição do Salão de Turismo, em São Paulo, onde fiz parte da equipe que levou o artesanato de Santa Catarina, dentro do Vitrine Brasil.

    Evento de grande proporção com público bom de atender, gente que quer ouvir histórias, que quer saber como é feito e por quem ou se dá prá chegar nesse lugar. E o artesanato tem essa liga de nos levar antes mesmo de chegar ou de nos fazer voltar quando há muito tempo já estivemos por lá.

    Levamos um produto chamado “Casinha do Tempo” que me fez refletir sobre a emoção que algo tão simples pode oferecer como informar se está chovendo ou fazendo sol. Cinco dias de exposição, quase 300 casinhas vendidas. Por quê? Porque não conta uma história, conta centenas. Lembra pessoas essencialmente especiais ou lugares aconchegantes. O verdadeiro artesanato se basta quando reflete a emoção que já existe dentro das pessoas.

    Quem investe no artesanato precisa saber deste detalhe precioso _Ele é feito de histórias de quem faz e de quem compra. Equilibrar interferências, ampliar as referências do artesão, dialogar com o público certo não é uma equação simples, mas pode ser ponto de partida para bons resultados.

    Obrigada pelas janelas que esta sempre a abrir.
    Abraços
    Elga Moraes

    ResponderExcluir
  3. Fiquei impressionada e até comovida com o texto que voce escreveu sobre a realidade do artesanato no Brasil.
    O volume de négócios é gigante no setor de artesanato, mas quem fica com o dinheiro?
    O artesão com certeza não é...

    Um forte abraço!!!

    Mara Júlia Sambugaro
    Atelier Maria Sem Vergonha – Arte em Cabaça

    ResponderExcluir

Obrigado por deixar seus comentários.