4 de julho de 2012

O futuro das cidades

O modelo de cidade com o qual estamos vivendo, e convivendo sem a dimensão de sua fragilidade, não aponta para um futuro satisfatório. Os privilégios conquistados por uma parcela mínima da população impedem que reformas estruturais sejam empreendidas. Soma-se a isso a falta de visão de futuro dos gestores públicos, fruto de instrução e de informação precária; leis anacrônicas ou a simples existências delas, que impeçam ou coíbam a exploração desordenada do território; a crescente demanda por transporte individual em detrimento do coletivo; a insegurança gerada pela falta de proteção ao cidadão; a incompreensão da amplitude do conceito de saúde que passa pela existência de um saneamento básico decente;  a especulação imobiliária que afasta cada vez mais do centro as pessoas de menor poder aquisitivo. Essas são algumas das conclusões que se somam ao diagnóstico elaborado pelo Professor Dalmo Viera, e discutidas em uma pequena reunião entre amigos que ainda acreditam que é possível encontrar saídas para o caos urbano em que nossas cidades estão mergulhadas, ou em sua inevitável direção.

A primeira das propostas debatidas foi  a necessidade de ampliar os preceitos que uma cidade deve ter, enquanto espaço de vivencia do cidadão.  A proposta é agregar aos verbos morar, trabalhar, circular e desfrutar, o verbo “conviver”. Isso significa, dentre outras ações de importância, revitalizar os centros urbanos criando neles novos espaços de moradia e de produção cultural; criar áreas de lazer e entretenimento em espaços públicos devolutos; restringir a circulação de veículos em zonas ou horários previamente estabelecidos favorecendo a circulação de pedestres; investir em transporte urbano não convencional e com elevado grau de confiabilidade dos horários e, finalmente, produzir de modo compartilhado com a população, através de consultas públicas e sugestões de suas representações organizadas,  um “plano de metas de gestão do município’ e o compromisso firmado de prestação de contas semestral das ações realizadas, compromisso esse assegurado na “Lei Orgânica do Município”. Dos mais de 5.500 municípios brasileiros menos de 0,5% deles já asseguraram este direito aos seus cidadãos. É ainda muito pouco.  
Estas intervenções acima descritas, capazes de cerzir o tecido urbano (hoje esgarçado e remendado de modo precário por intervenções casuísticas)  dando-lhe mais espaço de cidadania, dependem muito mais do desejo comum do que recursos financeiros, começando pela troca do calendário político pelo planejamento prospectivo de longo prazo. O início das mudanças começa muitas vezes por soluções pontuais de problemas crônicos, em uma espécie de homeopatia urbana, atacando as causas e não as consequências.

Estas reflexões são oportunas, pois as vésperas de um processo eleitoral que irá decidir o destino dos municípios brasileiros, os candidatos a prefeito, assim como os pretendentes a o cargo de vereadores, deveriam deixar claras as causas que defendem e suas intenções, reveladas por um posicionamento formal sobre o futuro que aspiram para nossas cidades. 
Imbuídos deste espírito transgeneracional  talvez consigamos escolher novos representantes e gestores capazes de redesenharem a cidade do Século XXI, cujos contornos podemos  visualizar. Uma cidade mais sustentável, inclusiva, multicultural, harmônica e criativa. Esse é o nosso sonho possível.

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