27 de setembro de 2011

A assimetria e o espelho retrovisor- Pilares da Inovação



A busca da perfeição, em alguns campos da expressão humana, esteve durante muito tempo relacionada com a simetria das formas e objetos, em função do equilíbrio e da harmonia que representa. Isso não traz, somente por si mesmo, um ganho estético. O design de um objeto simétrico tende a ser facilmente banalizado por sua monotonia e previsibilidade, devendo recorrer a outros artifícios como textura e cor para ser notado e memorizado.

O mesmo se aplica ao pensamento e conseqüentemente ao comportamento humano cuja opção preferencial pelos caminhos simétricos, onde um lado é o espelho do outro, conduz inevitavelmente a resultados previsíveis. A simetria é antes de tudo uma visão pragmática, portanto econômica, no mundo das coisas tangíveis. A reflexão simétrica justifica causa com conseqüência, definindo os fenômenos dentro de nossa concepção de espaço e tempo sobre uma linha continua e ininterrupta. Assim enxergamos o passado e sobre essa linha projetamos o futuro, linearmente.

Se, no entanto, abdicarmos desta tentação cartesiana e imaginarmos que o que buscamos é a surpresa e o encantamento, estamos falando da essência e do significado de inovação positiva. O novo, em todas as suas acepções, é tudo aquilo que até então não existia e que para nós aparece sob outra forma ou aspecto. Através do pensamento assimétrico é que conseguimos ampliar nossa percepção daquilo que nos cerca abrindo as portas de outras realidades, mais complexas e mais interrelacionadas.

A dificuldade de lidar com o pensamento assimétrico é a ausência de parâmetros, de balizas que indiquem quanto estamos próximos ou distantes do caminho do meio e do equilíbrio. Isso ao invés de ser uma deficiência do processo mental deve ser visto como sua maior qualidade, pois o caminho do meio costuma ser também o caminho da mediocridade, onde não há sofrimento e nem prazer.

A questão que se coloca é a dúvida de como romper com os paradigmas estabelecidos? Como sair dos quadrados mentais que criamos? Como enxergar o essencial, invisível aos olhos de muitos. Como romper bolhas após bolhas, círculos através de outros círculos? Como uma pedra jogada em um lago, criando formas concêntricas que vão se diluindo à medida que se afastam?

A melhor resposta nos propõe Ítalo Calvino com uma digressão filosófica sobre a importância do espelho retrovisor nos automóveis como inovação que foi capaz de alterar o comportamento humano ao descobrir a possibilidade de ter esse olhar atrás simultâneo ao olhar para frente.

Essa visão assimétrica, capaz de ver lados até então não revelados dos problemas, para propor uma solução que traga prazer e não sofrimento é que deve ser nosso compromisso permanente e exercitado cotidianamente.
Isso serve para o trabalho e para uma vida criativa e feliz.


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