3 de julho de 2010

Tecnologias apropriadas no CNPq – As origens

A experiência pioneira com as “tecnologias apropriadas” no Brasil ocorreu na década de setenta através do setor de design do CETEC de Minas Gerais.
Desencantados com as possibilidades que se apresentavam de projetar para as indústrias, mais ocupadas em copiar do que em criar, e com a inserção do discurso da matriz cultural brasileira como insumo fundamental, os designers do CETEC transferiram seus esforços para uma pequena cidade no norte de Minas. A Cidade de Juramento revelava as possibilidades de aproximação entre o design e as necessidades sociais. Os produtos resultantes desta ação fugiam do convencional: uso do bambu como condutor hidráulico trazendo água para a população; construções e cisternas em peças pré-moldadas de fibrocimento substituindo a taipa de pilão hospedeira do barbeiro; equipamentos públicos essenciais; marcenaria volante e ações diversas de âmbito sócio-cultural, tais como os mutirões de construção e as feiras de produtos locais, revelando o artesanato como tecnologia patrimonial. No nível institucional o CETEC também realiza o primeiro seminário internacional sobre tecnologias apropriadas, O SINTA-78, estabelecendo um discurso coerente e as bases conceituais do que se convencionava chamar de tecnologias apropriadas.

A idéia, naquela época, que uma intervenção tecnológica deveria considerar as condições locais (socioculturais, econômicas e ambientais) era sedutora e revolucionária, pois propunha capacidade de autodeterminação da comunidade como meta de projeto, princípio quase subversivo em tempos de ditadura.

O terceiro curso de pós-graduação sobre países em desenvolvimento realizado no verão de 1980, na Escola Politécnica de Lausanne / Suiça amplia o universo de referências e possibilidades sobre a utilização das tecnologias apropriadas e de sua importância estratégia, analisando experiências realizadas na índia, Israel e África.

Converge-se neste momento o discurso do design como o das tecnologias apropriadas. O design social adota e propõe como fundamento o respeito á cultura, as condições ambientais e econômicas das populações alvo.

De volta ao Brasil e requisitado pelo CNPq ao CETEC me mudo para Brasília, levando comigo o sonho de divulgar e ampliar o discurso afirmativo das tecnologias apropriadas. Mais uma vez Dr. Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque aparece como responsável por acatar e promover a criação do primeiro Programa governamental de apoio as Tecnologias Apropriadas encabeçado pelo CNPq, contando com a parceria de diversos organismos federais.

O PTTA foi a primeira ação articulada em nível nacional que tinha por objetivo identificar, aprimorar e difundir soluções alternativas relacionadas à produtos e processos nas áreas de saúde, habitação, agricultura familiar, pesca artesanal, produção de alimentos; saneamento básico e pequenas produções. Esta é umas das origens de nossas preocupações com o artesanato, que sempre foi uma "tecnologia patrimonial, social e apropriada".

Projetos específicos apresentados por 12 estados brasileiros foram apoiados pelo CNPq desde 1983, disseminado os conceitos das tecnologias apropriadas, hoje revisitadas com a neo denominação de “tecnologias sociais”.

Os envolvidos com estes projetos formaram a massa critica necessária para que até hoje sobrevivam estes critérios nas intervenções realizadas em muitas comunidades carentes.

Quem quiser conhecer esta história à fundo não deixe de ler a brilhante dissertação de mestrado de Flávio Cruvinel:
http://www.rts.org.br/bibliotecarts/trabalhos-academicos/dissertacao_mestrado_tecnologias_apropriadas_flavio_cruvinel.pdf

Um comentário:

Obrigado por deixar seus comentários.