29 de junho de 2010

Pisaram nos meus calos exato no dia de nosso aniversário

Hoje, dia mundial do designer industrial me deparo com um texto rancoroso e retrógado de um grande antropólogo brasileiro que banaliza as inserções do design na atividade artesanal, generaliza criticas e se equivoca em suas colocações sobre o que seja o design, que demonstra não conhecer.

Somente em virtude desta data simbólica, que ajudei a construir como membro do ICSID, decidi rebater os argumentos que me parecerem preconceituosos e equivocados, com exemplificações inverossímeis.

Para os que tiverem curiosidade de ler o texto "Tenho visto barbarismos sendo cometidos pelo país todo em nome do gosto, da estética, do bom design" acessem o link: http://www.acasa.org.br/ensaio.php?id=265&modo=

Querem uma amostra? “O designer é o representante da elite brasileira e, na história desse país, sempre coube à elite pensar e ao povo fazer. A gente vem se batendo contra a repetição desse modelo histórico, pois eu acredito que essas coisas são o patrimônio imaterial do país”.

Resumindo minha resposta pretendo apenas explicar “o que é design” para aqueles que ainda possam ter dúvidas. Em primeiro lugar o designer tem por premissa projetar pensando na cultura, seja de origem seja de destino dos produtos. Quando se projeta um produto industrial pensamos sempre na cultura de destino, interpretando necessidades e anseios, traduzidos na forma e na função destes produtos a partir dos repertórios culturais e das tendências de mercado.
Quando se projeta um produto artesanal o que o designer faz é decodificar e utilizar os repertórios culturais de origem, incorporando elementos diferenciadores locais e agregando valor traduzindo as emoções daqueles que produzem. Estes são os produtos que conseguem hoje uma melhor posição no mercado de bens simbólicos. É a economia da experiência que relaciona produto ao lugar e o transforma em objeto de desejo.

Os que fazem isso não são somente os bons designers, são todos os designers, alguns com mais, outros com menos talento. Existem sim maus profissionais que se fazem passar por designers ou produtos que vendem o que não podem oferecer. Generalizar a enorme contribuição que o design trouxe ao artesanato brasileiro nos últimos dez anos por conta de um exemplo ou outro, de erros cometidos pinçados entre milhares, é no mínimo lamentável, para ser polido.

Aqueles que pretendem preservar o artesanato da colaboração do design me lembram aqueles fazendeiros da América profunda que recusam os avanços da civilização. Essa atitude pode ser linda mas é romântica e economicamente injusta pois preserva a pureza original do artesanato mas também a pobreza daqueles que o produzem.

A eterna confusão entre arte e artesanato é que exige dos artesãos o domínio do processo criativo que eles praticam apenas episodicamente já que sua busca é quase sempre pela perfeição técnica.
Os artesãos necessitam da colaboração de um designer para fazer emergir uma nova geração de produtos contemporâneos, referenciados com a cultura local e preservando seus vínculos com o passado.

A afirmação que o design “assedia” o setor artesanal sugerindo como conseqüência a falta de espaço na industria é hilária. Basta considerar que temos hoje no Brasil mais de 300 escolas de design que já diplomaram mais de cem mil designers, mas contamos nos dedos das mãos aqueles que atuam no setor artesanal.

E para estes eu tiro meu chapéu pois em sua maioria atuam em condições quase sempre precárias, premidos pelo tempo, mal remunerados e movidos apenas pelo idealismo.

Vamos combinar uma coisa? Aqueles que se apresentam como defensores do artesanato deveriam sair de seus gabintes climatizados, botar o pé na terra, e perguntar aos artesãos o que eles desejam, antes de sairem ditando regras e fazendo juizo de valor sobre aquilo que desconhecem.

7 comentários:

  1. Prezada Barroso,
    Tantas décadas já se passaram desde Canasvieiras e ainda precisamos explicar "o que é Design"...
    Vou divulgar o seu blog.
    Bjs
    Marcia

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  2. Curiosamente falávamos eu e Vivi sobre isso ainda hoje...
    Texto na mosca!!!!
    Sabemos o quanto o designer pode contribuir no processo criativo artesanal sem ainda interferir no conceito (cultural) original do produto...
    Lembra que meu tcc na faculdade foi sobre a intervenção do designer de moda na produção artesanal? rsrs... Ainda bem que o Design tem pessoas como você!!!

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  3. BRAVO!

    Se os designers são produto da elite, os intelectuais são o que mesmo nesse país?? Essa colocação teve mesmo momentos muito infelizes, como esse.

    O mais coerente e justo que se tem a fazer para que possamos enterrar esse argumento já velado, de uma vez por todas, é mesmo perguntar aos artesãos sobre as intervenções de design vividas em suas comunidades, suas realidades locais e perspectivas de futuro.

    Preservação de técnicas tradicionais e resgate cultural é apenas uma das premissas do Design pós moderno!

    "Avancê, Avancê!"

    Virginia Borges.

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  4. Nossa!

    Estava fazendo uma pesquisa sobre as intervenções do design no artesanato (tema da minha dissertação) e me deparei com esse texto. Concordo plenamente com vc Barroso. Obrigada!

    Savana Leão
    designer

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  5. Boa Vivi! Os resultados estão aí para quem quiser ver e entender!
    O que me incomoda é ter que ainda discutir sobre isso...
    Dudu, postei seu texto em meu blog e como digo lá... tão chato ter que dar explicações a um "suposto intelectual" desinformado... Mas em fim, as vezes é preciso posicionar-se. Assim como você, não aceito que os designers sejam jogados em uma vala comum e que se generalizem os profissionais...

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  6. As vezes penso que já vi tudo... mas de repente, lá vem um teórico guardião dos valores da cultura popular com essa abobrinhas, é demais! Parabéns Barroso, abs e
    como diz o velho provérbio árabe: "Os cães ladram, mas a caravana passa..."

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  7. Faço minhas as suas palavras.

    Gostaria de ver esse senhor passando 10 dias em locais sem água, luz e banheiro, trabalhando 12 horas por dia.

    Se ele se desse ao trabalho de pesquisar um pouco, veria que a grandeza dessas comunidades artesãs em parceria com nosso trabalho e respeito já deu frutos de grande qualidade.

    Falar sempre é mais fácil do que fazer.

    Bravo Eduardo !

    Fabíola Bergamo

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