14 de junho de 2010

A atuação do CNPq no apoio ao design brasileiro – Parte 1 – As origens

Em 2011 o CNPq completará sessenta anos de existência. Na discussão das possibilidades de comemoração foi proposta a realização de uma exposição e/ou publicação que colocasse em evidência as contribuições da instituição para as distintas áreas do conhecimento. A atuação do CNPq foi determinante para a afirmação e consolidação da base acadêmica, científica e tecnológica de determinadas disciplinas, dentre elas o design.

Nenhum outro país do continente teve uma política de estimulo ao design como o Brasil. Os investimentos começaram no início da década de setenta, com a criação pela Secretaria de Tecnologia industrial do Ministério da Industria e Comércio, de um programa de apoio ao design, denominado Programa 06. Naquela ocasião a opção estratégica foi apoiar os emergentes grupos de design existentes no Brasil, dentre eles o CETEC em Belo Horizonte, através de projetos de interesse coletivo. No caso do grupo de design do CETEC, do qual eu fazia parte desde sua criação por Marcelo Resende em janeiro de 1973, a encomenda foi um projeto de mobiliário urbano para cidades de porte médio.

Estes investimentos serviram, acima de tudo, para formar uma nova geração de designers, que mais tarde dariam grande contribuição na docência, na pesquisa, no atendimento das demandas industriais e na construção de políticas de estado. Na coordenação deste programa da STI/MIC estava o engenheiro Itiro Iida cuja atuação nos anos seguintes transformou-o em um dos mais importantes personagens no processo de afirmação do design no Brasil.

Na seqüência dos acontecimentos – meados dos anos setenta - Itiro foi convidado por Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, na época Reitor da Universidade Federal da Paraíba, para criar um curso de Design em Campina Grande. Esta atuação foi determinante para aproximar estes dois personagens, que podemos considerar os principais patronos do design Brasileiro.

Em 1980 Lynaldo é designando presidente do CNPq e traz consigo Itiro como Superintendente de Inovação Tecnológica, e com ele a proposta de implantar um programa de apoio ao design. Neste momento, o designer alemão Gui Bonsiepe, que havia tido uma atuação destacada no Chile e na Argentina, é convidado para assumir no CNPq a função de responsável pelo detalhamento de ações e projetos relacionados com o design.

Em pouco tempo ficou evidente a necessidade da atuação de um contraparte brasileiro junto com Bonsiepe na qualidade de interlocutor nas relações de aproximação com o setor acadêmico e produtivo. Para esta função tive o privilégio de ser convidado, após a recusa de Luiz Blank do INT, provavelmente em virtude do trabalho que Bonsiepe havia prefaciado denominado “Estratégia de design para os países periféricos”.

Este trabalho acadêmico, foi redigido por mim, Thomas Kollbrunner da Suíça e Fabrico Van Den Broeck do México, como conclusão do curso de pós-graduação de fizemos juntos na Escola Politécnica de Lausanne em 1980 e publicado no Brasil pelo CNPq.
O conteúdo deste trabalho tinha a pretensão de definir as linhas gerais de uma ação estratégica e sistêmica para a inserção do design na realidade dos países em desenvolvimento, e assim interpretado pelo CNPq.

Com o entusiasmo de atuar em nível nacional e tendo a dimensão estratégica desta oportunidade nos lançamos na definição de um conjunto de ações que se iniciaram pela quantificação e qualificação da oferta de design em função das demandas que se identificaram nas reuniões de detalhamento do III PBDCT - Plano Brasileiro de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico.

Um recenseamento dos designers brasileiros a partir das listas dos formados pelas escolas de design foi o ponto de partida. A leitura atenta das respostas fornecidas em um longo questionário permitiu identificar primeiramente que 80% dos quase dois mil profissionais que responderam a esta pesquisa atuavam apenas marginalmente com design.
Este distanciamento da atividade pratica impedia a aquisição da experiência necessária para o atendimento das incipientes demandas industriais.

Impunha-se, portanto, qualificar a demanda. Uma inédita pesquisa sobre a oferta acadêmica foi realizada. Todas as escolas de design foram visitadas. Professores, servidores, alunos e ex-alunos foram entrevistados. Os resultados, publicados pelo CNPq, motivaram a criação de um grupo técnico para definir um currículo mínimo para os cursos de design.

Deste esforço saíram recomendações para mudanças estruturais no ensino do design, e para tanto, era necessário formar mestres e doutores. Mas de cinqüenta bolsas de estudos no exterior foram concedidas pelo CNPq para a área de design.

A massa crítica resultante destes investimentos deu origem ao mais formidável incremento da atividade docente no Brasil, que conta hoje com mais de 300 cursos superiores de design, em todas as suas especificidades.

Um comentário:

  1. Agradeço pela citação em seu Blog. O Programa de Desenho
    Industrial do antigo MIC/STI, que coordenei em 1975/77, tinha
    a proposta de coordenar o desenvolvimento do DI em nível
    nacional. Como você relata, fazia parte dos programas de desenvolvimento
    industrial da STI. Assim, apoiamos diversos projetos em vários
    estados brasileiros, além de atuar na coordenação das atividades
    de DI, em nome do MIC.

    Naquela época, havia um cunho bastante nacionalista, com esforços
    governamentais para desenvolver a indústria nacional. Esse processo
    era liderado pelo Ministro Severo Gomes e pelo Secretário da STI,
    José Walter Bautista Vidal.

    Entretanto, o Ministro Severo Gomes foi demitido no meio do Governo
    Geisel. Foi nomeado no lugar dele, um banqueiro bahiano, sem qualquer
    tipo de compromisso com o desenvolvimento industrial do país.
    Perdemos a principal referência e o grupo de DI da STI também perdeu
    o poder de coordenação. Para sobreviver, o grupo optou por enveredar
    na realização de projetos próprios, atendendo à demanda do mercado
    ou seja, perdeu o poder de coordenação. Nesse ponto, resolvei deixar
    a STI e fui para Paraíba, trabalhar com Lynaldo Cavalcanti na UFPb,
    onde havia propostas inovadoras para a Universidade.

    Em 1975, fui a um Congresso da Unido, em Seul, Coréia do Sul sobre
    Transferência de Tecnologia. Àquela altura, o Brasil estava mais
    adiantado, tecnologicamente, qua a Coréia. Entretanto, comparando a
    política deles com a do Brasil, tive a certeza de que eles nos
    ultrapassariam em poucos anos, como efetivamente aconteceu.

    Os coreanos, simplesmente tinham estabelecido algumas prioridades
    para o desenvolvimento industrial e todos os esforços eram concentrados
    em torno dessas prioridades: formação de recursos humanos, desenvolvimentos
    tecnológicos e financiamentos para o fomento industrial. Enquanto isso, veja
    aqui no Brasil. É um pastelão geral, com 40 Ministérios, cada um puxando
    para um lado. Pelo que aprendi na Física, a somatória desses vetores
    chega a perto de zero.

    Abraços,

    Itiro Iida

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