23 de agosto de 2009

Mudanças comportamentais da sociedade de consumo ocidental

1.Aceitação do uso compartilhado.
Uma das características inerentes ao ser humano é o desejo da posse de tudo aquilo que lhe é caro, necessário e indispensável. O sonho da casa própria, ou de sua própria terra para nela plantar, é uma das maiores preocupações das pessoas. Em função das lutas e guerras por disputas territoriais o mapa do mundo foi tantas vezes redesenhado. Entretanto, diante da impossibilidade financeira ou pela simples comodidade, alguns destes valores estão sendo revistos. A criação de modelos de propriedade imobiliária baseada no “uso compartilhado” fez com que as pessoas que desejam um segundo imóvel, destinado às férias, reverem seus conceitos. É muito mais econômico e prático pagar apenas pelo dias de uso que assumir todos os encargos de manter um imóvel durante todo o ano. Do mesmo modo existem os arrendatários agrícolas, que compartem o lucro de sua produção com o proprietário do terreno. Hoje os exemplos se sucedem e se multiplicam. De aviões a bicicletas quase tudo por ser adquirido apenas para o uso sem o ônus decorrente da propriedade exclusiva. Um consórcio europeu oferece a “venda” de aviões particulares por 10% de seu valor. Como? A pessoa adquire apenas o direito dele usufruir onde e quando desejar, desde que obedecendo a um planejamento mínimo. Com isso se livra das despesas de aluguel de hangares, pagamento de pilotos, manutenção da aeronave, etc. Do mesmo modo existem as bicicletas de várias cidades européias disponibilizadas para os cidadãos como são os carrinhos de bagagens nos aeroportos. Basta uma moedinha para ordenar seu uso. Brevemente muitos produtos serão empréstimos que os concessionários de serviços oferecem aos seus clientes. Não faz mais sentido comprar um aparelho celular se pagamos caro pelo seu uso. O mesmo raciocínio pode valer para um televisor. Porque pagar por um equipamento se somos os destinatários da publicidade que por ele será transmitida e pagamos pelo sinal que recebemos? Esta nova consciência deverá mudar o modo com o qual nos relacionamos com este tipo de produtos. Assim estes produtos terão seu preço definido por seu valor de uso e não por seu valor simbólico.

2. Maior consciência ecológica e social (e cultural)Os desastrosos efeitos provocados pelo homem ao meio ambiente já se fazem sentir. Do efeito estufa ao aquecimento global causados pela emissão descontrolada de CO2. Das chuvas ácidas ao esgotamento de recursos naturais não renováveis. Da extinção de milhares de espécies vivas à exaustão das terras férteis e a poluição dos rios e oceanos. O impacto dos produtos sobre o meio ambiente é hoje uma responsabilidade de quem projeta, de quem produz, de quem comercializa e de quem consome. Os jovens, mais que os adultos, já estão mais conscientes escolhendo melhor os produtos que adquiem. Observam não somente as questões ambientais, mas também algumas questões sociais tais como a garantia de ausência de trabalho infantil ou semi-escravo. Normas e padrões internacionais estão sendo exigidos por muitas nações para adquirir produtos estrangeiros. Atualmente, para projetar e lançar um novo produto no mercado é necessário considerar seu impacto sobre o meio ambiente e sobre s sociedade.

3. Maior preocupação com a saúde e o bem estar físico. Com os avanços da medicina (diagnóstica e preventiva) e com aprofundamento do conhecimento sobre as necessidades do organismo humano aumentou o grau de interesse das pessoas por produtos e serviços que colaborem com a busca por uma vida mais equilibrada e saudável. Produtos orgânicos, embalagens que explicitam o conteúdo dos produtos, equipamentos e produtos para a prática de esportes, são alguns dos setores que estão tendo um crescimento exponencial de demanda, constituindo-se em forte oportunidade para os pequenos empresários. Projetar produtos e serviços para este segmento de mercado exige uma grande preocupação com as questões de adequação aos distintos grupos de usuários, observando suas necessidades especiais em virtude de seu biótipo, estatura física, idade, restrições culturais, entre outras.

4. Isolamento voluntário. Os problemas urbanos, decorrentes do inchaço e do crescimento não planejado das cidades, em especial as dificuldades de deslocamento em virtude das distâncias e dos congestionamentos e principalmente a violência incrementada pela incapacidade de controle por parte da força policial, estão mudando os hábitos das pessoas. Nas grandes cidades, de qualquer país ocidental, sair de casa para ir a um evento, cinema, teatro, restaurante, visitar amigos, se transformou em uma atitude de risco e de resultados imprevisíveis. Tudo pode acontecer no caminho de ida ou de volta, seja pelo ataque de marginais ou de terroristas. A casa se transformou no refúgio, no único espaço relativamente seguro dentro do caos urbano. Isso representa uma oportunidade para a colocação de produtos destinados a satisfazer as necessidades das pessoas em suas casa, da alimentação ao entretenimento, dos aspectos de segurança ao conforto, crescem os serviços de entregas à domicilio: Farmácia, padaria, supermercado, locadoras de vídeos, restaurantes, muitos estão oferecendo estas comodidades da escolha à distância a entrega na porta. O comércio eletrônico é a atividade humana que mais cresceu na ultima década.

5. Hedonismo e individualismo.
O aqui e o agora passaram a dominar a preocupação de muitas pessoas face ao indecifrável mistério do amanhã. “Carpe dien, quam minimum credula postero” diziam o ditado de Horácio que em uma livre tradução do latin para o português significa: Desfrute o dia de hoje, acreditando minimamente no futuro. Esta postura diante da vida implica na busca por produtos e serviços que garantam plena e imediata satisfação. O individualismo também se traduz na procura por produtos únicos, exclusivos, personalizados, que tenham a “cara” do dono. Esta é uma possibilidade mais apropriada para as pequenas empresas, por serem menores são mais ágeis e flexíveis, podendo alterar ou substituir produtos na linha de produção sem maiores conseqüências. Produtos com uma mesma tecnologia podem apresentar variações infinitas em sua aparência e apresentação. É o caso, por exemplo, do relógio Swatch, cujo design permite sob a mesma tecnologia apresentar milhares de opções diferentes aos consumidores, valendo-se de repertórios visuais que remetem a todo tipo de gosto e preferência estética. Durante a década de setenta o mercado mundial de relógios, até então dominado pelos Suíços, começou a ser conquistado velozmente por empresas asiáticas cujos modelos à quartzo, modernos e baratos, conquistavam a preferência dos consumidores. No inicio dos anos 80, Nicolas Hayeck salvou a indústria Suíça, ao propor um novo conceito de relógio analógico, simples, eficiente, moderno, barato e customizado. Com apenas 51 componentes ao invés dos relógios tradicionais com o dobro ou o triplo de peças, o Swatch revolucionou o mercado produzindo mais de 300 modelos por ano com uma mesma tecnologia.

6. Tribalismo urbano.
A humanidade não se divide em 12 tipos humanos (como fazem crer os astrólogos) e nem em 11 civilizações distintas como apregoam alguns sociólogos. Somos muitos mais complexos, únicos e singulares do que se pode imaginar. Nossa identidade pessoal vai sendo reescrita a cada dia em função das sucessivas escolhas que vamos fazendo. Nosso gosto é influenciável pelos que nos cercam. Deste modo conformamos, mesmo de modo inconsciente, novas tribos urbanas, definidas não pela proximidade física, mas pela convergência cultural. Podemos pertencer a uma ou mais tribos, em função de nosso trabalho ou profissão, preferências, gostos, manias ou crenças. Cada um destes grupos possui seus códigos próprios, seus padrões estéticos, seus modismos e rejeições. Difícil é a tarefa de definir ou denominar estes grupos. Existem milhares. Pensar em quais são estes distintos grupos ajuda a identificar seus opostos e, com isso, aceitar que um produto que venha de encontro a um determinado grupo provavelmente será rejeitado pelo outro. Os conservadores se opõem aos liberais. Os transgressores aos tradicionalistas. Os contemplativos aos mediáticos. Os apocalípticos aos integrados. Os yuppies ao hyppies. Os noctívagos aos esportistas. As donas-de-casa às empresárias...

Definir para qual publico (ou tribo urbana) um produto se destina é o primeiro passo para poder projetá-lo. Em design, defina primeiro o cliente.

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